Por Paulo Stekel
Introdução
Tenho a plena
consciência de que este texto será considerado estranho e até
inapropriado por alguns. Mas, na verdade, ele é uma tentativa de
resposta a uma pergunta que me é feita frequentemente: como você
pode ser budista e ainda se envolver com essas coisas de canalização
e mediunidade?
Fiquei remoendo esta
pergunta por muito tempo. Aos poucos, fui encontrando outras pessoas
com as mesmas afinidades que eu por Budismo e Canalização ou
manifestações mediúnicas. Fomos conversando. Fui pesquisando.
Quando comecei a
estudar a história do Budismo, percebi algo importante: os textos do
Budismo antigo (inadequadamente chamado Hinayana), chamados em
conjunto de “tipitaka”, foram uma compilação baseada no que
teriam sido as próprias palavras do Buda histórico. Contudo, os
textos do Budismo Mahayana, os chamados “sutras”, foram escritos
em outras circunstâncias. Tecnicamente falando, quando os
meditadores entravam em certos estágios, mantinham algum tipo de
contato com uma consciência búdica ou de um bodhisattva (aquele que
está a um passo de se tornar um Buda) e, então, recebiam o texto do
sutra, seu mantra principal, e as orientações para a prática.
Nisso, não há qualquer diferença entre a moderna canalização e o
método pelo qual os sutras do Mahayana vieram a ser consignados por
escrito. O fato dos seus autores estarem em estado de meditação não
altera o quadro, pois os modernos canalizadores também precisam se
concentrar e até mesmo meditar para sintonizar consciências e
energias de vários níveis de desenvolvimento espiritual.
Certa vez, até mesmo
meu mestre budista reconheceu que o modo como sutras como o
Mahaprajñaparamita surgiram é muito mais próximo da canalização
do que se imagina. Portanto, podemos afirmar, mesmo que queiram
negar, que os sutras do Budismo Mahayana foram canalizados! Se foram
canalizados a partir de Budas e Bodhisattvas, ou apenas de aspectos
internos da mente meditativa dos praticantes, pouco importa, pois na
moderna canalização também se aceita que muitas mensagens provêm
exatamente do chamado Eu Superior dos canalizadores. É tudo uma
questão de interpretação, de nomenclatura e do momento histórico
e cultural.
Na verdade, pelo menos
pelo que percebo no Brasil, a maior parte da resistência dos
budistas às manifestações psíquicas e mediúnicas vem do fato de,
segundo eles, tais entidades não serem budas iluminados, mas seres
ainda em samsara – o ciclo de renascimento, vida e morte permeado
pelo sofrimento advindo de nossa visão equivocada da realidade.
Mesmo que não sejam entidades plenamente iluminadas, isso não
significa que não tenham algo de útil a nos ensinar. Afinal, nossos
mestres budistas, a não ser que sejamos ingênuos em acreditar, não
são também seres plenamente iluminados, mas aprendemos muito com
eles. Então, por que não nos dispormos a aprender com outros
mestres, mesmo que invisíveis? Não vejo contradição. Tanto que o
próprio Dalai Lama se vale por vezes de oráculos para balizar suas
decisões. Estes oráculos são uma forma de mediunidade e
canalização bastante tradicional no Tibete. São vistos como uma
prática complementar, uma ajuda, e não determinante. Mas, são
utilizados!
Praticantes
genuínos, canalizadores genuínos
Muitos me perguntam se,
quando rezamos para Buda ou para o Bodhisattva Avalokiteshvara, Kwan
Yin ou Kannon (variações do mesmo conceito), por exemplo, a forma
como a resposta surge não se assemelha a como um médium ou canal
percebe as informações enviadas de uma consciência superior.
Se refletimos sobre
isso, chegamos à conclusão de que efeitos similares podem ocorrer
tanto na canalização quanto na prática mahayana. Se um praticante
budista é genuíno, pode acessar níveis búdicos profundos e, com
os ensinamentos dali advindos, ajudar a muitas pessoas. O mesmo
ocorre com médiuns e canalizadores. Se um canal não é genuíno,
ele não pode oferecer ajuda pessoal qualificada, queira ou não. Se
um canal é genuíno, a orientação pode ou não ajudar igualmente,
o que vai depender de quão compassivo e sábio seja o ser ou
consciência que está sendo canalizado. É por aí que devemos
analisar a questão: pelo grau de desenvolvimento da consciência que
é canalizada, mais do que pela evolução do próprio médium ou
canal. O importante, sim, é que este canal seja genuíno, ético,
preparado e compassivo em seu trabalho.
No budismo chinês, por
exemplo, não há a prática de canalizar Budas e Bodhisattvas para
ajudar quem quer que seja, porque qualquer um poderia reivindicar
estar fazendo isso, simplesmente por dinheiro. O Budismo não
concorda com a ideia de que Budas e Bodhisattvas e Budas possam ser
como que “convocados” por seres não-iluminados. Se eles
realmente assumem o controle do médium, o médium deve ser capaz de
transmitir os ensinamentos budistas de modo perfeitamente coerente
também, em vez de o fazer apenas quando em um estado de transe. No
Budismo, em várias linhagens, acredita-se que há alguns deuses
(devas) e fantasmas (pretas) que estão ansiosos para ajudar as
pessoas - às vezes através de médiuns. Mas, como acima, o conselho
deles pode ou não ajudar realmente. No Budismo Chinês, o uso de
mediunismo é uma prática da religião popular. E, de fato, tais
conselhos são solicitados na tradição tibetana, no sudeste
asiático e quaisquer outros locais de tendência budista com
influências xamânicas mais antigas, onde a mediunidade é prática
comum. Enfim, a mediunidade pode não representar uma comunicação
“iluminada”, mas não é, necessariamente, descartável como
prática complementar.
Além disso, se o ser
sintonizado, seja por “possessão”, transe, mediunidade ou
canalização ainda está preso à ganância, ao ódio e à ilusão
(por ainda não ser iluminado), pode haver um preço cármico a pagar
por se incorrer em sua raiva. Alguns instrutores budistas ensinam que
alguns dos seres convocados pelos médiuns podem ser fantasmas (nem
sempre “divindades”). Porque fantasmas e deuses, mesmo que não
sejam iluminados, têm a capacidade de ler mentes, é é por isso que
os médiuns podem parecer muito exatos em relatar sua situação
presente, embora o futuro predito possa ou não se tornar realidade -
uma vez que pode perfeitamente mudar. De qualquer forma, parece mais
adequado se ficar longe dessas “entidades” se o médium/canal não
está preparado ou não tem um sólido conhecimento espiritual. É o
que penso também.
O que os indianos
chamam de “deuses” e “fantasmas” são interpretações
advindas de sua antiga mitologia, segundo a qual o universo é
preenchido de vida e consciência. É o equivalente oriental aos
ancestrais, antepassados, orixás, caboclos, pretos-velhos,
encantados, etc., de nossa cultura espiritual brasileira. Um indiano
ou um tibetano acredita que um lago possui uma divindade regente da
mesma forma que um africano acredita que um lago é a morada de um
orixá e um indígena brasileiro acredita que um espírito encantado
mora ali. São nomes diferentes para percepções muito próximas. E,
em todos os casos, se acredita ser possível sintonizar tais
divindades tutelares. Na Canalização, se pensa da mesma forma,
sendo que, para nós, muitas destas divindades são espíritos
elementais, espíritos da natureza.
O fato dos budistas
preferirem rezar para Budas e Bodhisattvas ao invés de entidades
não-iluminadas é exatamente porque os primeiros seriam professores
mais qualificados. Mas, isso não significa que entidades
não-iluminadas não possuam altos graus de desenvolvimento
espiritual e nem que não possam dar instruções válidas para a
humanidade. Às vezes, para quem ainda não é um receptáculo
adequado a um Dharma superior, orientações mais simples são
adequadas para colocar alguém no caminho do desenvolvimento
espiritual, é o que penso.
Mesmo que um médium ou
canal seja genuíno, ele não será capaz de “convocar” os Budas
e os Bodhisattvas – afinal, os iluminados nunca ensinaram que eles
sejam convocáveis por qualquer médium. Na verdade, no Surangama
Sutra, um sutra mahayana, o Buda Sakyamuni instruiu claramente os
Bodhisattvas e os Arhats para que se manifestassem de várias
maneiras no nosso mundo para nos ajudar, mas sem nunca revelar suas
verdadeiras identidades enquanto vivos, no máximo divulgando quem
eles são apenas antes (ou depois) de sua partida. Embora isso possa
soar enganoso, o objetivo desta exortação é exatamente o oposto -
impedir a legitimação das identidades auto-proclamadas para
decepção de muitos. Imagine se o Buda ensinasse, em vez disso, que
todos os Bodhisattvas e Arhats devem anunciar quem são para o mundo
inteiro. Além de já não serem muitos, haveria ainda mais
dificuldades com tais falsas e ousadas afirmações. Mas, por outro
lado, e a Umbanda Esotérica pensa assim, se tais Arhats,
Bodhisattvas e mesmo Budas desejarem se comunicar conosco sem revelar
suas identidades mesmo através da mediunidade ou canalização,
certamente não deixarão de transmitir mensagens altamente úteis
para a humanidade. Quem pode duvidar?
Médiuns e canais
genuínos podem, então, canalizar o que seria equivalente aos deuses
(elementais, para nós) e fantasmas (espíritos dos mortos), na visão
indiana antiga. Isso, nem mesmo um budista mahayana medianamente
estudado poderia negar! Claro, que espíritos errantes podem tentar
se fazer passar por outros tipos de consciências, inclusive búdicas,
e cabe ao canal preparado diferenciar boas fontes de fontes
duvidosas. Mesmo os espíritos mais elevados, os “deuses”, não
são ainda perfeitos, iluminados, e suas mensagens não serão
perfeitas. Contudo, a partir de nossa perspectiva mais imperfeita
ainda, acho que podemos nos valer de muitas delas, afinal! Teríamos
que ser muito pedantes para não aceitá-las de modo algum.
Sabedoria Incomum e
Dharma Profundo
Contudo, quando
budistas dizem que as mensagens transmitidas por médiuns e
canalizadores não apresentam o Dharma profundo, há de se entender o
que é o Dharma profundo: os termos budistas já conhecidos, ou uma
perspectiva profunda, independente dos termos??? Sei que este
argumento é provocativo, mas é esta a intenção!
Se uma mensagem
canalizada por alguma entidade considerada muito elevada traz
ensinamentos profundos de uma Sabedoria Incomum, mas com termos
modernos, mesmo não usando um único termo budista clássico, nada
da linguagem cultural-histórica-religiosa do Budismo conhecido
historicamente, isso não significa que, quando analisado mais
amiúde, este ensinamento não se equivalha em muitos pontos ao que
seria considerado um ensinamento dármico em tempos passados. Já li
algumas mensagens desta natureza.
Ademais, não podemos
negar que vivemos em vários níveis energéticos ao mesmo tempo, e
nossa consciência está conectada a estes vários níveis, planos
paralelos ou o que se lhes nomeie. E, este níveis são plenos de
vida. Podemos contatá-los e eles podem nos contatar. E, assim,
podemos interagir, compartilhar informações, conhecimentos e
ensinamentos espirituais de vários níveis de profundidade. Talvez
os antigos não tenham percebido assim, mas no estágio atual estamos
preparados para entender as coisas sob este ângulo. O que determina
o nível das entidades sintonizadas não são seus supostos “poderes
psíquicos”, mas sua compaixão, ética e capacidade de orientar os
seres a um nível mais profundo de espiritualidade, sendo aqui,
espiritualidade, o equivalente a “dharma”, na perspectiva
budista. Assim como o Budismo não privilegia os poderes internos do
ser humano – os siddhis, em Sânscrito – a prática da
mediunidade e canalização também não privilegia os fenômenos
ditos paranormais, psíquicos ou extrassensoriais. O mais importante,
em ambas as perspectivas, é o amor incondicional, a compaixão, a fé
e a bondade caridosa para com todos. Estas são, no final, instruções
de um dharma/espiritualidade universal e atemporal, na forma como as
entendo, tanto como praticante do Budismo desde 1994, quanto como um
canal de mentores desde 1979. Ambos os meios me ensinaram muitas
coisas equivalentes que chamo de “dharma universal” ou
“espiritualidade universal”. E, não estou falando do
universalismo comum do qual todos falam por aí. Falo de um
universalismo ético.
Na verdade, quando
elevamos nossa frequência para um determinado ponto (além de
qualquer sabedoria humana comum, em frequências onde residem seres e
anjos de luz), estamos imersos em sabedoria universal. E, se eu (e, a
maioria de nós) estou agora a anos-luz de atingir qualquer tipo de
realização meditativa ou iluminação definitiva, por que eu iria
hesitar na ideia de sintonizar uma sabedoria adicional para a minha
vida e para a vida de outras pessoas? Só porque as fontes são
invisíveis, não significa que não sejam válidos seus ensinamentos
e orientações. Uma coisa não exclui a outra: atingir a iluminação
definitiva e valer-se de sabedoria de outros mais aptos, vivos ou
mortos, físicos ou extrafísicos.
Meditação budista
e meditação para canalização
O fato de eu ser um
budista e tomar Refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha não me
impede de considerar a possibilidade da canalização de guias
espirituais. Não são coisas excludentes, a não ser que sejamos
muito ignorantes ou preconceituosos! Para mim, a Sangha, a comunidade
espiritual, é algo mais amplo do que se considera nos círculos
budistas mais ortodoxos. Todos os seres sencientes são a Sangha, na
verdade. E, eu peço aos Budas e aos Bodhisattvas que tragam a mim e
a todos os seres a sua proteção numa base diária. Também creio
que, ao buscar expandir-me e crescer mais rápido, preciso de algum
tipo de orientação direta de qualquer fonte que seja mais sábia do
que eu. Assim, vou considerar as comunicações de quaisquer seres
que sejam da luz e que queiram o crescimento e amadurecimento de
todos os seres, bem como o benefício da espécie humana. Acho que o
motivo do Dalai Lama e dos lamas tibetanos se valerem de oráculos
vem do mesmo argumento, no final das contas!
Portanto, eu vou
continuar no meu caminho de auto-conhecimento e seguirei os conselhos
de qualquer ser que tenha uma perspectiva mais ampla e mais sábia do
que a minha. E, considerando que no momento estou preso a um corpo
humano, e considerando ainda que, atualmente, o ser humano médio da
Terra é, com muita frequência, extremamente denso e materialista,
terei sempre prazer em pedir assistência a seres de maior
frequência, venham de onde vierem.
Do ponto de vista de
crer ou não crer, não vejo diferença em alguém acreditar que os
sutras mahayana ou os tantras vajrayana foram sintonizados por
meditadores orientados por Budas e Bodhisattvas, que nenhum ser
humano comum consegue ver, e alguém acreditar que as canalizações
modernas venham de mentores de luz, anjos, mestres, etc. Ambas as
situações possuem muitas semelhanças. Se eu resolvo dar algum aval
aos sutras e tantras budistas por seus conteúdos, independente dos
“autores”, resolvo testá-los e realizar os ensinamentos, não há
motivo para não fazer o mesmo no tocante às orientações
sintonizadas por canalização.
Numa perspectiva da
mente segundo o próprio Budismo – especialmente o Vajrayana e o
Dzogchen/Mahamudra tibetanos – a consciência tem como fonte
original um oceano infinito indiviso onde tudo pode se manifestar,
onde todos os fenômenos surgem e cessam, nascem e morrem, vêm-a-ser
e deixam de existir logo em seguida. A partir desta perspectiva, uma
mente bem trabalhada pode sintonizar aspectos da mente primordial
totalmente desconhecidos para nós. Retirar algo desta fonte
primordial é sintonizá-la, canalizá-la, de fato! Muitas vezes, a
moderna canalização usa um expediente semelhante, talvez com menor
profundidade, mas com muita semelhança, uma vez que o canal sente
que aprofunda sua mente num oceano pleno de sabedoria e informações
que brotam uma a uma sem terem sido, necessariamente, aprendidas
nesta vida. O fato de se usar termos diferentes dos termos budistas
quando falamos em Canalização não significa que, por vezes, o que
alguns canais acessam, não esteja próximo do que meditadores do
passado acessaram. A interpretação do que se acessa é que varia
muito de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, conforme a
língua, a visão de mundo, o momento histórico, religioso, etc. Não
podemos desconsiderar estes fatores.
Vários canalizadores
já afirmaram que, se você estiver trabalhando com um guia superior,
este guia sempre vai lhe desejar amor incondicional, compaixão,
alegria e paz, o que nada mais são, no final, que as chamadas Quatro
Incomensuráveis do Budismo – Bondade amorosa, compaixão hábil,
alegria simpática e equanimidade, sem indiferença!
Muitas das meditações
propostas como exercícios para Canalização possuem semelhanças
com meditações budistas como, por exemplo, a Metta Bhavana, a
meditação do amor ou bondade amorosa. Não há como negar que, num
estado de meditação, é muito mais fácil canalizar, muito mais
fácil colocar a mente numa postura receptiva a outras consciências
que queiram se comunicar conosco. Num estado meditativo fica mais
fácil perceber o que os guias querem nos dizer, afinal!
Outros exercícios de
Canalização, como o de sintonizar um cristal, um quartzo, uma
ametista, por exemplo, se assemelham às práticas de Atenção
Plena, de foco firme em um objeto, treinando a mente para perceber a
realidade além do convencional. Neste caso, o que chamamos
“canalizar um cristal” seria, de certa maneira, “perceber” o
cristal num nível além do conceitual, um nível mais profundo de
realidade. Se o cristal nos “diz” que ele serve para determinada
função – cura, calma, tranquilidade, energização, etc. -, por
exemplo, isso vem de sua essência, não de nossa conceitualização
comum. O cristal tem uma essência e, embutida nesta essência, uma
espécie de “mensagem”, uma informação sobre suas propriedades.
Os exercícios de
Canalização que trabalham a mente para colocá-la numa postura e
posição de “transe”, na verdade, se assemelham a meditações
do Dzogchen e do Mahamudra do vajrayana tibetano. A mente fica
presente no corpo e na consciência. Ela se expande e consegue
abranger a percepção de uma outra consciência – o mentor a ser
canalizado, no caso. Desta forma, a mente consegue perceber a
mensagem que o mentor quer transmitir e depois o cérebro decodifica
tudo em linguagem humana compreensível. Creio que os sutras
mahayanas e os tantras vajrayana foram escritos por processo muito
semelhante. Os tibetanos, ao realizarem o Yoga dos Sonhos, por
exemplo, passam pelo que conhecemos no Ocidente por Projeção
Astral, e, neste estado, eles contatam Seres Iluminados e falam com
eles face a face em outras dimensões. Não vejo real diferença com
o que acontece na Canalização, a não ser que caiamos no argumento
de “superioridade” dos tibetanos sobre os Ocidentais. E, isso,
seria uma mera questão de opinião. A experiência de orientais e
ocidentais não difere, em essência. O que difere é a
interpretação. Na verdade, no caso do Budismo, tudo é interpretado
segundo um esquema religioso específico, enquanto a moderna
Canalização se abre universalisticamente a vários esquemas
interpretativos disponíveis, incluindo o Budismo, mas sem cair em
dogmatismos e regras fixas.
Conexão
mestre-mentor
Assim como no Dzogchen
e Mahamudra budista a conexão com o mestre espiritual é vista como
de máxima importância nesta vida para se atingir a Iluminação –
esteja este mestre vivo ou já falecido, no caso da Canalização, a
conexão entre o canal e seu mentor principal – aquele que o
instruiu na prática – é de crucial importância para seu
desenvolvimento espiritual. Em ambos os casos, não se trata de
fanatismo ou de se seguir o mestre cegamente. Pelo contrário, ele
deve ser avaliado, questionado e, só então, seguido.
Em geral, as pessoas só
se envolvem com a Canalização do ponto de vista das mensagens
recebidas, mas pouco entendem, de fato, sobre a relação
canal-mentor, que se assemelha muito à relação oriental
mestre-discípulo. Há um compartilhamento muito mais que uma relação
hierárquica de alguém comandando e outro obedecendo. Não é assim!
Os mentores também ensinam técnicas de meditação, como citado
acima. Também ensinam ética. Também ensinam caminhos para uma vida
melhor, para a purificação mental e para a prática da bondade. Não
ficam, portanto, atrás de nenhum outro mestre vivo, físico,
encarnado de qualquer religião ou tradição espiritual.
Se há mestres budistas
de genuinidade duvidosa, também há mentores duvidosos, assim como
discípulos duvidosos e canais duvidosos. Cada caso é um caso. No
Budismo, se diz que é necessário que o discípulo seja genuíno, o
mestre seja genuíno e o ensinamento seja genuíno para que o
benefício e a sabedoria se manifestem. Na Canalização também é
assim: o canal deve estar realmente aberto aos mentores, os mentores
devem realmente estar sintonizados com a proposta de beneficiar os
seres e o ensinamento que eles trazem devem de fato vir de uma fonte
superior, de uma fonte sábia. Se todas estas condições são
satisfeitas, não há motivos para não nos valermos dos ensinamentos
vindos por Canalização. Assim como cada praticante budista deve
avaliar a informação que recebe, o canalizador também. Nada deve
ser aceito sem crítica, sem avaliação criteriosa, o que não
significa duvidar de tudo. Às vezes, é necessário mais tempo de
prática para se avaliar o conteúdo tanto de uma mensagem canalizada
quando de um ensinamento dado por um mestre espiritual budista. A
situação é praticamente a mesma.
Gostaria que os
leitores entendessem este texto como uma proposta introdutória sobre
o tema, e não uma opinião fechada. É uma construção em aberto!
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