quinta-feira, 13 de junho de 2019

Canalização, Meditação e Budismo - Uma visão incomum

Por Paulo Stekel


Introdução

Tenho a plena consciência de que este texto será considerado estranho e até inapropriado por alguns. Mas, na verdade, ele é uma tentativa de resposta a uma pergunta que me é feita frequentemente: como você pode ser budista e ainda se envolver com essas coisas de canalização e mediunidade?

Fiquei remoendo esta pergunta por muito tempo. Aos poucos, fui encontrando outras pessoas com as mesmas afinidades que eu por Budismo e Canalização ou manifestações mediúnicas. Fomos conversando. Fui pesquisando.

Quando comecei a estudar a história do Budismo, percebi algo importante: os textos do Budismo antigo (inadequadamente chamado Hinayana), chamados em conjunto de “tipitaka”, foram uma compilação baseada no que teriam sido as próprias palavras do Buda histórico. Contudo, os textos do Budismo Mahayana, os chamados “sutras”, foram escritos em outras circunstâncias. Tecnicamente falando, quando os meditadores entravam em certos estágios, mantinham algum tipo de contato com uma consciência búdica ou de um bodhisattva (aquele que está a um passo de se tornar um Buda) e, então, recebiam o texto do sutra, seu mantra principal, e as orientações para a prática. Nisso, não há qualquer diferença entre a moderna canalização e o método pelo qual os sutras do Mahayana vieram a ser consignados por escrito. O fato dos seus autores estarem em estado de meditação não altera o quadro, pois os modernos canalizadores também precisam se concentrar e até mesmo meditar para sintonizar consciências e energias de vários níveis de desenvolvimento espiritual.

Certa vez, até mesmo meu mestre budista reconheceu que o modo como sutras como o Mahaprajñaparamita surgiram é muito mais próximo da canalização do que se imagina. Portanto, podemos afirmar, mesmo que queiram negar, que os sutras do Budismo Mahayana foram canalizados! Se foram canalizados a partir de Budas e Bodhisattvas, ou apenas de aspectos internos da mente meditativa dos praticantes, pouco importa, pois na moderna canalização também se aceita que muitas mensagens provêm exatamente do chamado Eu Superior dos canalizadores. É tudo uma questão de interpretação, de nomenclatura e do momento histórico e cultural.

Na verdade, pelo menos pelo que percebo no Brasil, a maior parte da resistência dos budistas às manifestações psíquicas e mediúnicas vem do fato de, segundo eles, tais entidades não serem budas iluminados, mas seres ainda em samsara – o ciclo de renascimento, vida e morte permeado pelo sofrimento advindo de nossa visão equivocada da realidade. Mesmo que não sejam entidades plenamente iluminadas, isso não significa que não tenham algo de útil a nos ensinar. Afinal, nossos mestres budistas, a não ser que sejamos ingênuos em acreditar, não são também seres plenamente iluminados, mas aprendemos muito com eles. Então, por que não nos dispormos a aprender com outros mestres, mesmo que invisíveis? Não vejo contradição. Tanto que o próprio Dalai Lama se vale por vezes de oráculos para balizar suas decisões. Estes oráculos são uma forma de mediunidade e canalização bastante tradicional no Tibete. São vistos como uma prática complementar, uma ajuda, e não determinante. Mas, são utilizados!

Praticantes genuínos, canalizadores genuínos

Muitos me perguntam se, quando rezamos para Buda ou para o Bodhisattva Avalokiteshvara, Kwan Yin ou Kannon (variações do mesmo conceito), por exemplo, a forma como a resposta surge não se assemelha a como um médium ou canal percebe as informações enviadas de uma consciência superior.

Se refletimos sobre isso, chegamos à conclusão de que efeitos similares podem ocorrer tanto na canalização quanto na prática mahayana. Se um praticante budista é genuíno, pode acessar níveis búdicos profundos e, com os ensinamentos dali advindos, ajudar a muitas pessoas. O mesmo ocorre com médiuns e canalizadores. Se um canal não é genuíno, ele não pode oferecer ajuda pessoal qualificada, queira ou não. Se um canal é genuíno, a orientação pode ou não ajudar igualmente, o que vai depender de quão compassivo e sábio seja o ser ou consciência que está sendo canalizado. É por aí que devemos analisar a questão: pelo grau de desenvolvimento da consciência que é canalizada, mais do que pela evolução do próprio médium ou canal. O importante, sim, é que este canal seja genuíno, ético, preparado e compassivo em seu trabalho.

No budismo chinês, por exemplo, não há a prática de canalizar Budas e Bodhisattvas para ajudar quem quer que seja, porque qualquer um poderia reivindicar estar fazendo isso, simplesmente por dinheiro. O Budismo não concorda com a ideia de que Budas e Bodhisattvas e Budas possam ser como que “convocados” por seres não-iluminados. Se eles realmente assumem o controle do médium, o médium deve ser capaz de transmitir os ensinamentos budistas de modo perfeitamente coerente também, em vez de o fazer apenas quando em um estado de transe. No Budismo, em várias linhagens, acredita-se que há alguns deuses (devas) e fantasmas (pretas) que estão ansiosos para ajudar as pessoas - às vezes através de médiuns. Mas, como acima, o conselho deles pode ou não ajudar realmente. No Budismo Chinês, o uso de mediunismo é uma prática da religião popular. E, de fato, tais conselhos são solicitados na tradição tibetana, no sudeste asiático e quaisquer outros locais de tendência budista com influências xamânicas mais antigas, onde a mediunidade é prática comum. Enfim, a mediunidade pode não representar uma comunicação “iluminada”, mas não é, necessariamente, descartável como prática complementar.

Além disso, se o ser sintonizado, seja por “possessão”, transe, mediunidade ou canalização ainda está preso à ganância, ao ódio e à ilusão (por ainda não ser iluminado), pode haver um preço cármico a pagar por se incorrer em sua raiva. Alguns instrutores budistas ensinam que alguns dos seres convocados pelos médiuns podem ser fantasmas (nem sempre “divindades”). Porque fantasmas e deuses, mesmo que não sejam iluminados, têm a capacidade de ler mentes, é é por isso que os médiuns podem parecer muito exatos em relatar sua situação presente, embora o futuro predito possa ou não se tornar realidade - uma vez que pode perfeitamente mudar. De qualquer forma, parece mais adequado se ficar longe dessas “entidades” se o médium/canal não está preparado ou não tem um sólido conhecimento espiritual. É o que penso também.

O que os indianos chamam de “deuses” e “fantasmas” são interpretações advindas de sua antiga mitologia, segundo a qual o universo é preenchido de vida e consciência. É o equivalente oriental aos ancestrais, antepassados, orixás, caboclos, pretos-velhos, encantados, etc., de nossa cultura espiritual brasileira. Um indiano ou um tibetano acredita que um lago possui uma divindade regente da mesma forma que um africano acredita que um lago é a morada de um orixá e um indígena brasileiro acredita que um espírito encantado mora ali. São nomes diferentes para percepções muito próximas. E, em todos os casos, se acredita ser possível sintonizar tais divindades tutelares. Na Canalização, se pensa da mesma forma, sendo que, para nós, muitas destas divindades são espíritos elementais, espíritos da natureza.

O fato dos budistas preferirem rezar para Budas e Bodhisattvas ao invés de entidades não-iluminadas é exatamente porque os primeiros seriam professores mais qualificados. Mas, isso não significa que entidades não-iluminadas não possuam altos graus de desenvolvimento espiritual e nem que não possam dar instruções válidas para a humanidade. Às vezes, para quem ainda não é um receptáculo adequado a um Dharma superior, orientações mais simples são adequadas para colocar alguém no caminho do desenvolvimento espiritual, é o que penso.

Mesmo que um médium ou canal seja genuíno, ele não será capaz de “convocar” os Budas e os Bodhisattvas – afinal, os iluminados nunca ensinaram que eles sejam convocáveis por qualquer médium. Na verdade, no Surangama Sutra, um sutra mahayana, o Buda Sakyamuni instruiu claramente os Bodhisattvas e os Arhats para que se manifestassem de várias maneiras no nosso mundo para nos ajudar, mas sem nunca revelar suas verdadeiras identidades enquanto vivos, no máximo divulgando quem eles são apenas antes (ou depois) de sua partida. Embora isso possa soar enganoso, o objetivo desta exortação é exatamente o oposto - impedir a legitimação das identidades auto-proclamadas para decepção de muitos. Imagine se o Buda ensinasse, em vez disso, que todos os Bodhisattvas e Arhats devem anunciar quem são para o mundo inteiro. Além de já não serem muitos, haveria ainda mais dificuldades com tais falsas e ousadas afirmações. Mas, por outro lado, e a Umbanda Esotérica pensa assim, se tais Arhats, Bodhisattvas e mesmo Budas desejarem se comunicar conosco sem revelar suas identidades mesmo através da mediunidade ou canalização, certamente não deixarão de transmitir mensagens altamente úteis para a humanidade. Quem pode duvidar?

Médiuns e canais genuínos podem, então, canalizar o que seria equivalente aos deuses (elementais, para nós) e fantasmas (espíritos dos mortos), na visão indiana antiga. Isso, nem mesmo um budista mahayana medianamente estudado poderia negar! Claro, que espíritos errantes podem tentar se fazer passar por outros tipos de consciências, inclusive búdicas, e cabe ao canal preparado diferenciar boas fontes de fontes duvidosas. Mesmo os espíritos mais elevados, os “deuses”, não são ainda perfeitos, iluminados, e suas mensagens não serão perfeitas. Contudo, a partir de nossa perspectiva mais imperfeita ainda, acho que podemos nos valer de muitas delas, afinal! Teríamos que ser muito pedantes para não aceitá-las de modo algum.

Sabedoria Incomum e Dharma Profundo

Contudo, quando budistas dizem que as mensagens transmitidas por médiuns e canalizadores não apresentam o Dharma profundo, há de se entender o que é o Dharma profundo: os termos budistas já conhecidos, ou uma perspectiva profunda, independente dos termos??? Sei que este argumento é provocativo, mas é esta a intenção!

Se uma mensagem canalizada por alguma entidade considerada muito elevada traz ensinamentos profundos de uma Sabedoria Incomum, mas com termos modernos, mesmo não usando um único termo budista clássico, nada da linguagem cultural-histórica-religiosa do Budismo conhecido historicamente, isso não significa que, quando analisado mais amiúde, este ensinamento não se equivalha em muitos pontos ao que seria considerado um ensinamento dármico em tempos passados. Já li algumas mensagens desta natureza.

Ademais, não podemos negar que vivemos em vários níveis energéticos ao mesmo tempo, e nossa consciência está conectada a estes vários níveis, planos paralelos ou o que se lhes nomeie. E, este níveis são plenos de vida. Podemos contatá-los e eles podem nos contatar. E, assim, podemos interagir, compartilhar informações, conhecimentos e ensinamentos espirituais de vários níveis de profundidade. Talvez os antigos não tenham percebido assim, mas no estágio atual estamos preparados para entender as coisas sob este ângulo. O que determina o nível das entidades sintonizadas não são seus supostos “poderes psíquicos”, mas sua compaixão, ética e capacidade de orientar os seres a um nível mais profundo de espiritualidade, sendo aqui, espiritualidade, o equivalente a “dharma”, na perspectiva budista. Assim como o Budismo não privilegia os poderes internos do ser humano – os siddhis, em Sânscrito – a prática da mediunidade e canalização também não privilegia os fenômenos ditos paranormais, psíquicos ou extrassensoriais. O mais importante, em ambas as perspectivas, é o amor incondicional, a compaixão, a fé e a bondade caridosa para com todos. Estas são, no final, instruções de um dharma/espiritualidade universal e atemporal, na forma como as entendo, tanto como praticante do Budismo desde 1994, quanto como um canal de mentores desde 1979. Ambos os meios me ensinaram muitas coisas equivalentes que chamo de “dharma universal” ou “espiritualidade universal”. E, não estou falando do universalismo comum do qual todos falam por aí. Falo de um universalismo ético.

Na verdade, quando elevamos nossa frequência para um determinado ponto (além de qualquer sabedoria humana comum, em frequências onde residem seres e anjos de luz), estamos imersos em sabedoria universal. E, se eu (e, a maioria de nós) estou agora a anos-luz de atingir qualquer tipo de realização meditativa ou iluminação definitiva, por que eu iria hesitar na ideia de sintonizar uma sabedoria adicional para a minha vida e para a vida de outras pessoas? Só porque as fontes são invisíveis, não significa que não sejam válidos seus ensinamentos e orientações. Uma coisa não exclui a outra: atingir a iluminação definitiva e valer-se de sabedoria de outros mais aptos, vivos ou mortos, físicos ou extrafísicos.

Meditação budista e meditação para canalização

O fato de eu ser um budista e tomar Refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha não me impede de considerar a possibilidade da canalização de guias espirituais. Não são coisas excludentes, a não ser que sejamos muito ignorantes ou preconceituosos! Para mim, a Sangha, a comunidade espiritual, é algo mais amplo do que se considera nos círculos budistas mais ortodoxos. Todos os seres sencientes são a Sangha, na verdade. E, eu peço aos Budas e aos Bodhisattvas que tragam a mim e a todos os seres a sua proteção numa base diária. Também creio que, ao buscar expandir-me e crescer mais rápido, preciso de algum tipo de orientação direta de qualquer fonte que seja mais sábia do que eu. Assim, vou considerar as comunicações de quaisquer seres que sejam da luz e que queiram o crescimento e amadurecimento de todos os seres, bem como o benefício da espécie humana. Acho que o motivo do Dalai Lama e dos lamas tibetanos se valerem de oráculos vem do mesmo argumento, no final das contas!

Portanto, eu vou continuar no meu caminho de auto-conhecimento e seguirei os conselhos de qualquer ser que tenha uma perspectiva mais ampla e mais sábia do que a minha. E, considerando que no momento estou preso a um corpo humano, e considerando ainda que, atualmente, o ser humano médio da Terra é, com muita frequência, extremamente denso e materialista, terei sempre prazer em pedir assistência a seres de maior frequência, venham de onde vierem.

Do ponto de vista de crer ou não crer, não vejo diferença em alguém acreditar que os sutras mahayana ou os tantras vajrayana foram sintonizados por meditadores orientados por Budas e Bodhisattvas, que nenhum ser humano comum consegue ver, e alguém acreditar que as canalizações modernas venham de mentores de luz, anjos, mestres, etc. Ambas as situações possuem muitas semelhanças. Se eu resolvo dar algum aval aos sutras e tantras budistas por seus conteúdos, independente dos “autores”, resolvo testá-los e realizar os ensinamentos, não há motivo para não fazer o mesmo no tocante às orientações sintonizadas por canalização.

Numa perspectiva da mente segundo o próprio Budismo – especialmente o Vajrayana e o Dzogchen/Mahamudra tibetanos – a consciência tem como fonte original um oceano infinito indiviso onde tudo pode se manifestar, onde todos os fenômenos surgem e cessam, nascem e morrem, vêm-a-ser e deixam de existir logo em seguida. A partir desta perspectiva, uma mente bem trabalhada pode sintonizar aspectos da mente primordial totalmente desconhecidos para nós. Retirar algo desta fonte primordial é sintonizá-la, canalizá-la, de fato! Muitas vezes, a moderna canalização usa um expediente semelhante, talvez com menor profundidade, mas com muita semelhança, uma vez que o canal sente que aprofunda sua mente num oceano pleno de sabedoria e informações que brotam uma a uma sem terem sido, necessariamente, aprendidas nesta vida. O fato de se usar termos diferentes dos termos budistas quando falamos em Canalização não significa que, por vezes, o que alguns canais acessam, não esteja próximo do que meditadores do passado acessaram. A interpretação do que se acessa é que varia muito de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, conforme a língua, a visão de mundo, o momento histórico, religioso, etc. Não podemos desconsiderar estes fatores.

Vários canalizadores já afirmaram que, se você estiver trabalhando com um guia superior, este guia sempre vai lhe desejar amor incondicional, compaixão, alegria e paz, o que nada mais são, no final, que as chamadas Quatro Incomensuráveis do Budismo – Bondade amorosa, compaixão hábil, alegria simpática e equanimidade, sem indiferença!

Muitas das meditações propostas como exercícios para Canalização possuem semelhanças com meditações budistas como, por exemplo, a Metta Bhavana, a meditação do amor ou bondade amorosa. Não há como negar que, num estado de meditação, é muito mais fácil canalizar, muito mais fácil colocar a mente numa postura receptiva a outras consciências que queiram se comunicar conosco. Num estado meditativo fica mais fácil perceber o que os guias querem nos dizer, afinal!

Outros exercícios de Canalização, como o de sintonizar um cristal, um quartzo, uma ametista, por exemplo, se assemelham às práticas de Atenção Plena, de foco firme em um objeto, treinando a mente para perceber a realidade além do convencional. Neste caso, o que chamamos “canalizar um cristal” seria, de certa maneira, “perceber” o cristal num nível além do conceitual, um nível mais profundo de realidade. Se o cristal nos “diz” que ele serve para determinada função – cura, calma, tranquilidade, energização, etc. -, por exemplo, isso vem de sua essência, não de nossa conceitualização comum. O cristal tem uma essência e, embutida nesta essência, uma espécie de “mensagem”, uma informação sobre suas propriedades.

Os exercícios de Canalização que trabalham a mente para colocá-la numa postura e posição de “transe”, na verdade, se assemelham a meditações do Dzogchen e do Mahamudra do vajrayana tibetano. A mente fica presente no corpo e na consciência. Ela se expande e consegue abranger a percepção de uma outra consciência – o mentor a ser canalizado, no caso. Desta forma, a mente consegue perceber a mensagem que o mentor quer transmitir e depois o cérebro decodifica tudo em linguagem humana compreensível. Creio que os sutras mahayanas e os tantras vajrayana foram escritos por processo muito semelhante. Os tibetanos, ao realizarem o Yoga dos Sonhos, por exemplo, passam pelo que conhecemos no Ocidente por Projeção Astral, e, neste estado, eles contatam Seres Iluminados e falam com eles face a face em outras dimensões. Não vejo real diferença com o que acontece na Canalização, a não ser que caiamos no argumento de “superioridade” dos tibetanos sobre os Ocidentais. E, isso, seria uma mera questão de opinião. A experiência de orientais e ocidentais não difere, em essência. O que difere é a interpretação. Na verdade, no caso do Budismo, tudo é interpretado segundo um esquema religioso específico, enquanto a moderna Canalização se abre universalisticamente a vários esquemas interpretativos disponíveis, incluindo o Budismo, mas sem cair em dogmatismos e regras fixas.

Conexão mestre-mentor

Assim como no Dzogchen e Mahamudra budista a conexão com o mestre espiritual é vista como de máxima importância nesta vida para se atingir a Iluminação – esteja este mestre vivo ou já falecido, no caso da Canalização, a conexão entre o canal e seu mentor principal – aquele que o instruiu na prática – é de crucial importância para seu desenvolvimento espiritual. Em ambos os casos, não se trata de fanatismo ou de se seguir o mestre cegamente. Pelo contrário, ele deve ser avaliado, questionado e, só então, seguido.

Em geral, as pessoas só se envolvem com a Canalização do ponto de vista das mensagens recebidas, mas pouco entendem, de fato, sobre a relação canal-mentor, que se assemelha muito à relação oriental mestre-discípulo. Há um compartilhamento muito mais que uma relação hierárquica de alguém comandando e outro obedecendo. Não é assim! Os mentores também ensinam técnicas de meditação, como citado acima. Também ensinam ética. Também ensinam caminhos para uma vida melhor, para a purificação mental e para a prática da bondade. Não ficam, portanto, atrás de nenhum outro mestre vivo, físico, encarnado de qualquer religião ou tradição espiritual.

Se há mestres budistas de genuinidade duvidosa, também há mentores duvidosos, assim como discípulos duvidosos e canais duvidosos. Cada caso é um caso. No Budismo, se diz que é necessário que o discípulo seja genuíno, o mestre seja genuíno e o ensinamento seja genuíno para que o benefício e a sabedoria se manifestem. Na Canalização também é assim: o canal deve estar realmente aberto aos mentores, os mentores devem realmente estar sintonizados com a proposta de beneficiar os seres e o ensinamento que eles trazem devem de fato vir de uma fonte superior, de uma fonte sábia. Se todas estas condições são satisfeitas, não há motivos para não nos valermos dos ensinamentos vindos por Canalização. Assim como cada praticante budista deve avaliar a informação que recebe, o canalizador também. Nada deve ser aceito sem crítica, sem avaliação criteriosa, o que não significa duvidar de tudo. Às vezes, é necessário mais tempo de prática para se avaliar o conteúdo tanto de uma mensagem canalizada quando de um ensinamento dado por um mestre espiritual budista. A situação é praticamente a mesma.

Gostaria que os leitores entendessem este texto como uma proposta introdutória sobre o tema, e não uma opinião fechada. É uma construção em aberto!

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