Por Paulo Stekel
Distração e a Rede DMN
Muito se tem falado sobre os efeitos da meditação, independente do estilo – seja Mindfulness, Vipassana ou a meditação não-dual. Muito também se tem pesquisado sobre o assunto nos meios acadêmicos. A curiosidade dos cientistas a respeito da meditação levou a centenas de estudos criteriosos sobre os efeitos das práticas contemplativas nas últimas décadas. Já há, mesmo em Língua Portuguesa, um bom material sobre o tema.
Um livro que recomendamos a este respeito foi publicado em Inglês em 2014 e, em Português, em 2015. Se trata do livro “Despertar – Um guia para a espiritualidade sem religião” (Companhia das Letras, 2015), do filósofo e neurocientista Sam Harris. O autor, um dos proponentes da “espiritualidade sem religião”, da qual já tratamos em outra postagem, treinou meditação com inúmeros instrutores budistas, advaitas e não-dualistas em geral.
No capítulo sobre meditação, ele discorre sobre os efeitos que a meditação pode trazer depois de um tempo de prática:
“Psicólogos e neurocientistas reconhecem hoje que a mente humana tende a divagar, empenhada nos chamados ‘pensamentos independentes de estímulos’. O principal método de estudo fora de laboratório de fenômenos mentais do gênero é uma técnica chamada ‘amostragem de experiência’.”
Por este método, como informa Harris, se chega à conclusão de que as pessoas ficam perdidas em pensamentos quase 50% do tempo. Quem medita sabe que nos distraímos num percentual muito mais elevado, na verdade.
Harris: “A mente divagante foi correlacionada à atividade nas regiões da linha mediana do cérebro, em especial o córtex pré-frontal medial e o córtex parietal medial. Essas áreas com frequência são chamadas de ‘rede padrão’ ou ‘rede de estado de repouso’ porque são as mais ativas quando estamos apenas em compasso de espera, aguardando que algo aconteça. A atividade na rede padrão [default-mode network, abreviada como DMN] diminui quando os sujeitos se concentram em tarefas do tipo empregado na maioria dos experimentos com neuroimagem.”
Na verdade, a DMN parece ter relação com nossa capacidade de autorrepresentação. Aquilo no qual acreditamos gera sinais maiores nesta rede do que as coisas que simplesmente conhecemos. O que nos é mais relevante sobre nós mesmos aumenta estes sinais mais do que o que nos parece relevante sobre os outros.
Harris: “De modo geral, prestar atenção no que está fora de nós reduz a atividade na linha mediana do cérebro, enquanto pensar em nós mesmos a eleva. (…) A meditação da atenção plena e a meditação da bondade amorosa (metta, em páli) também diminuem a atividade na DMN, e o efeito é mais pronunciado entre meditadores experientes (enquanto meditam e também em repouso). [Essas descobertas] insinuam uma ligação física entre a experiência de estar perdido em pensamentos e o sentido de self (e também um mecanismo pelo qual a meditação poderia reduzir as duas coisas)."
Meditação e as mudanças no cérebro
Várias pesquisas sugerem que praticar meditação por longo tempo gera diversas mudanças na estrutura do cérebro. O corpo caloso e o hipocampo de quem medita tende a ser maior que o normal em ambos os hemisférios cerebrais. A substância cinzenta se torna mais espessa e há um maior formação de sulcos e giros no córtex. Como essas diferenças parecem maiores em meditadores mais velhos, isso pode sugerir um menor adelgaçamento do córtex do que o normal com a chegada da idade. Isso explicaria a longa vida de muitos praticantes famosos e a feição juvenil de muitos deles.
Praticantes com mais de 10 mil horas de prática parecem ser mais tolerantes à dor que meditadores iniciantes. Na verdade, os mais velhos parecem sentir a mesma dor, na mesma intensidade, mas a julgam menos incômoda. Ou seja, grandes mestres também sentem dor, ainda que a tradição tenda a ensinar que não, mas eles não são influenciados por ela. É que as regiões cerebrais causadoras da ansiedade, e que se ligam automaticamente ao se prever uma sensação dolorosa, parecem ter atividade muito menor. Ou seja, há uma maior familiarização com a dor e o praticante se habitua a ela sem sofrer. A meditação de atenção plena parece, segundo estudos, reduzir o incômodo sentido quando recebemos estímulos danosos.
O estresse do início da vida tende a aumentar o tamanho das amígdalas cerebrais, conforme pesquisas antigas com animais. Mas, a descoberta recente é que a meditação da atenção plena pode reduzir o volume da amígdala basolateral direita, como efeito associado da diminuição de estresse causada pelo treinamento contínuo. Outros estudos apontam, como efeitos da meditação sobre a estrutura cerebral, a redução da ação de vários genes que produzem inflamação em todo o corpo e o aumento da linha de base do lado esquerdo do córtex frontal (associado a emoções positivas).
Os efeitos benéficos da Meditação
Harris: “Um exame da literatura psicológica indica que a atenção plena, em especial, favorece muitos componentes da saúde física e mental: melhora a função imunológica, a pressão arterial e os níveis de cortisol; reduz a ansiedade, a depressão, os transtornos neuróticos e a reatividade emocional. Ela também propicia a regulação comportamental e se mostrou promissora no tratamento de toxicodependência e de distúrbios alimentares. Não surpreende que a prática esteja associada a um maior bem-estar subjetivo. O treinamento em meditação compassiva aumenta a empatia, medida pela capacidade de julgar com precisão as emoções de outras pessoas, e também o afeto positivo na presença de sofrimento. Demonstrou-se que a prática de atenção plena produz efeitos pró-sociais semelhantes.”
Então, seja qual for o tipo de meditação, seguramente, após um tempo de prática, se verificará melhoras gerais no indivíduo, tanto no nível das estruturas cerebrais quanto no comportamento e na forma de interação social. Isso parece independer da idade com a qual se comece a meditar. Os efeitos sempre serão verificados, de um modo ou de outro.
Distração e a Rede DMN
Muito se tem falado sobre os efeitos da meditação, independente do estilo – seja Mindfulness, Vipassana ou a meditação não-dual. Muito também se tem pesquisado sobre o assunto nos meios acadêmicos. A curiosidade dos cientistas a respeito da meditação levou a centenas de estudos criteriosos sobre os efeitos das práticas contemplativas nas últimas décadas. Já há, mesmo em Língua Portuguesa, um bom material sobre o tema.
Um livro que recomendamos a este respeito foi publicado em Inglês em 2014 e, em Português, em 2015. Se trata do livro “Despertar – Um guia para a espiritualidade sem religião” (Companhia das Letras, 2015), do filósofo e neurocientista Sam Harris. O autor, um dos proponentes da “espiritualidade sem religião”, da qual já tratamos em outra postagem, treinou meditação com inúmeros instrutores budistas, advaitas e não-dualistas em geral.
No capítulo sobre meditação, ele discorre sobre os efeitos que a meditação pode trazer depois de um tempo de prática:
“Psicólogos e neurocientistas reconhecem hoje que a mente humana tende a divagar, empenhada nos chamados ‘pensamentos independentes de estímulos’. O principal método de estudo fora de laboratório de fenômenos mentais do gênero é uma técnica chamada ‘amostragem de experiência’.”
Por este método, como informa Harris, se chega à conclusão de que as pessoas ficam perdidas em pensamentos quase 50% do tempo. Quem medita sabe que nos distraímos num percentual muito mais elevado, na verdade.
Harris: “A mente divagante foi correlacionada à atividade nas regiões da linha mediana do cérebro, em especial o córtex pré-frontal medial e o córtex parietal medial. Essas áreas com frequência são chamadas de ‘rede padrão’ ou ‘rede de estado de repouso’ porque são as mais ativas quando estamos apenas em compasso de espera, aguardando que algo aconteça. A atividade na rede padrão [default-mode network, abreviada como DMN] diminui quando os sujeitos se concentram em tarefas do tipo empregado na maioria dos experimentos com neuroimagem.”
[A rede padrão ou DMN. As zonas marcadas mais escuras são, à esquerda,
o córtex pré-frontal medial e, à direita, o córtex parietal medial.]
Na verdade, a DMN parece ter relação com nossa capacidade de autorrepresentação. Aquilo no qual acreditamos gera sinais maiores nesta rede do que as coisas que simplesmente conhecemos. O que nos é mais relevante sobre nós mesmos aumenta estes sinais mais do que o que nos parece relevante sobre os outros.
Harris: “De modo geral, prestar atenção no que está fora de nós reduz a atividade na linha mediana do cérebro, enquanto pensar em nós mesmos a eleva. (…) A meditação da atenção plena e a meditação da bondade amorosa (metta, em páli) também diminuem a atividade na DMN, e o efeito é mais pronunciado entre meditadores experientes (enquanto meditam e também em repouso). [Essas descobertas] insinuam uma ligação física entre a experiência de estar perdido em pensamentos e o sentido de self (e também um mecanismo pelo qual a meditação poderia reduzir as duas coisas)."
Meditação e as mudanças no cérebro
Várias pesquisas sugerem que praticar meditação por longo tempo gera diversas mudanças na estrutura do cérebro. O corpo caloso e o hipocampo de quem medita tende a ser maior que o normal em ambos os hemisférios cerebrais. A substância cinzenta se torna mais espessa e há um maior formação de sulcos e giros no córtex. Como essas diferenças parecem maiores em meditadores mais velhos, isso pode sugerir um menor adelgaçamento do córtex do que o normal com a chegada da idade. Isso explicaria a longa vida de muitos praticantes famosos e a feição juvenil de muitos deles.
Praticantes com mais de 10 mil horas de prática parecem ser mais tolerantes à dor que meditadores iniciantes. Na verdade, os mais velhos parecem sentir a mesma dor, na mesma intensidade, mas a julgam menos incômoda. Ou seja, grandes mestres também sentem dor, ainda que a tradição tenda a ensinar que não, mas eles não são influenciados por ela. É que as regiões cerebrais causadoras da ansiedade, e que se ligam automaticamente ao se prever uma sensação dolorosa, parecem ter atividade muito menor. Ou seja, há uma maior familiarização com a dor e o praticante se habitua a ela sem sofrer. A meditação de atenção plena parece, segundo estudos, reduzir o incômodo sentido quando recebemos estímulos danosos.
O estresse do início da vida tende a aumentar o tamanho das amígdalas cerebrais, conforme pesquisas antigas com animais. Mas, a descoberta recente é que a meditação da atenção plena pode reduzir o volume da amígdala basolateral direita, como efeito associado da diminuição de estresse causada pelo treinamento contínuo. Outros estudos apontam, como efeitos da meditação sobre a estrutura cerebral, a redução da ação de vários genes que produzem inflamação em todo o corpo e o aumento da linha de base do lado esquerdo do córtex frontal (associado a emoções positivas).
Os efeitos benéficos da Meditação
Harris: “Um exame da literatura psicológica indica que a atenção plena, em especial, favorece muitos componentes da saúde física e mental: melhora a função imunológica, a pressão arterial e os níveis de cortisol; reduz a ansiedade, a depressão, os transtornos neuróticos e a reatividade emocional. Ela também propicia a regulação comportamental e se mostrou promissora no tratamento de toxicodependência e de distúrbios alimentares. Não surpreende que a prática esteja associada a um maior bem-estar subjetivo. O treinamento em meditação compassiva aumenta a empatia, medida pela capacidade de julgar com precisão as emoções de outras pessoas, e também o afeto positivo na presença de sofrimento. Demonstrou-se que a prática de atenção plena produz efeitos pró-sociais semelhantes.”
Então, seja qual for o tipo de meditação, seguramente, após um tempo de prática, se verificará melhoras gerais no indivíduo, tanto no nível das estruturas cerebrais quanto no comportamento e na forma de interação social. Isso parece independer da idade com a qual se comece a meditar. Os efeitos sempre serão verificados, de um modo ou de outro.
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