Por Paulo Stekel
Uma questão de
frequências
Nós, humanos,
podemos captar em nossa consciência comum um certo espectro de
frequências onde fluem outras consciências, sejam humanas ou não,
desencarnadas ou não. O fenômeno que chamamos de mediunidade ou
canalização é uma ampliação deste espectro no tocante à
percepção consciente das energias que o habitam.
De fato, há um
século, nos referíamos com o termo “espírito” ao que hoje se
acostumou a chamar no Brasil de “entidade” e, no mundo da nova
espiritualidade, de “energia”, “consciência” ou “mônada”,
dependendo do caso. O termo “espírito” traz em sua etimologia a
noção de “sopro, vento”. “Entidade” traz a noção de um
ser, uma unidade de vida. Mas, o termo “consciência” talvez seja
o mais adequado atualmente, pois traz a noção de um ser (encarnado
ou não, com corpo ou não) que possui a propriedade da
autorreferência, de se perceber como “alguém” no Universo,
independente de ter um corpo físico ou não, de um dia ter sido
“encarnado” ou não.
A Consciência de
Campo
A partir das
pesquisas do cientista britânico Rupert Sheldrake, na década de
1980, o conceito de “campo mórfico” ou “morfogenético” se
somou ao antigo conceito de “Campo” usado em Física,
incluindo-lhe um aspecto biológico e de consciência.
Em Física, um
“campo” é uma grandeza física associada ao espaço,
onde o valor que pode ser medido da sua intensidade se designa
intensidade do campo e define-se classicamente como a força
por unidade de carga. Assim, campo representa o módulo da força que
atua sobre a unidade de carga em cada ponto do espaço.
Usando esta
definição, um “campo de consciência” poderia ser teorizado
como sendo uma grandeza de autopercepção relativa podendo chegar à
completa autorreferência associado ao espaço mental do qual
participam várias consciências em vários níveis, planos ou
dimensões. Este campo teria uma intensidade, uma força de ação de
consciência, podendo influenciar e ser influenciado por consciências
de qualquer tipo e origem.
Baseando-nos no que
dizem diversos especialistas em consciência, espiritualistas ou não,
a consciência funciona em duas frentes ou campos:
a) Um campo pessoal
ou individual de consciência, restrito ao corpo físico, mente,
emoções e psique do próprio indivíduo;
b) Um campo coletivo
de consciência, envolvendo a ação de vários campos pessoais em
modo integrado, conectado e pareado, de modo que uns influenciam os
demais. Este conceito é importante tanto em morfogenética de
Sheldrake, quanto em mediunidade e canalização, quanto na terapia
breve chamada “Constelação Familiar”, criada pelo alemão Bert
Hellinger.
Um Universo de
Consciências
Nesta nova
percepção, entendemos o universo como sendo pleno de “consciências”
de todos os tipos habitando planetas, dimensões e universos
paralelos, cada tipo com suas especificidades, seus campos de
influência e a maior parte destes tipos não sendo sequer
compreendido minimamente por nós, por nem sabermos de sua existência
e nem os podermos localizar no espaço multidimensional.
Então, quando
canalizamos, é possível que estejamos a contatar vários tipos de
consciências. Algumas podem, sim, ter habitado nosso planeta,
recentemente ou há muito tempo. Podem ser consciências que um dia
habitaram corpos de ancestrais nossos (os falecidos). Podem ser
consciências elevadas (espíritos de luz). Podem ser consciências
de outros planetas, de outros planos e de universos paralelos (os
chamados “seres cósmicos” ou “consciências cósmicas”).
Algumas podem nos beneficiar, outras serem neutras e outras até nos
prejudicar, obsedar, como dizem os espíritas.
Outras podem ser
formas-pensamentos geradas pelo médium/canalizador ou por pessoas
que ele atende, e que se manifestam como se fossem “entidades”.
Podem ser vibrações sentidas pelo médium/canalizador que ele
interpreta como sendo “entidades”, mas que são apenas padrões
energéticos captados a partir da aura de uma pessoa que é atendida
ou de alguém presente. Pode ainda ser uma egrégora pertencente a um
determinado grupo, sendo uma egrégora uma forma-pensamento coletiva
que, no astral, adquire “vida” e pode existir por milhares de
anos, se comportando ao ser sintonizada por um psíquico como se
fosse uma “consciência/entidade/espírito”.
Quanto à
possibilidade de uma “consciência” ser um insight nosso
de elevado nível de consciência, isso tem a ver com a sintonização
de nosso Eu Superior, um aspecto nosso que inclui uma mente
transracional, um aspecto intuicional e um nível consciencial em que
o conhecimento cósmico simplesmente brota sem ter sido aprendido.
Neste caso, que é raro, mas acontece, o canalizador acessa seu
próprio Eu Superior como se fosse uma “entidade”, atribui um
nome a ela e transmite as mensagens. No final, é uma “consciência”
no sentido que definimos até aqui, mas especificamente uma
“consciência mais elevada” de si mesmo. Seu Eu num nível mais
elevado, não racional, mas transracional (além do racional). Como
saber qual destas opções se manifesta, depende de observar e
estudar o caso específico. Devemos entender que o que se canaliza
depende de dois fatores, um externo e um interno.
O fator externo tem
a ver com a estrutura coletiva da prática mediúnica ou de
canalização (sessão espírita kardecista, linha de Ramatís,
Umbanda, apometria, cultos afro-brasileiros, etc.), que é a que
determina a “roupagem” que as consciências sintonizadas vão
adotar. Esta roupagem é uma limitação, sim, mas é algo útil para
a manifestação psíquica e permite que a mensagem seja comunicada.
Esta manifestação de roupagem muda com o tempo e não pode ser
contida, pois a natureza do universo é evolutiva.
O fator interno tem
a ver com a estrutura individual da prática mediúnica ou de
canalização, o que significa dizer que é a forma interna real como
acontece na ou através da mente do médium/canal antes do encaixe em
qualquer “roupagem” externa. Esta é a parte que mais nos
interessa, pois vai além das roupagens das religiões e doutrinas
envolvidas nestes fenômenos.
Jackson Peterson,
praticante e instrutor de Dozgchen dos EUA, num artigo postado no
Stekelblogue
(https://stekelblogue.blogspot.com/2019/07/a-visao-xamanica-da-possessao-e-do.html),
intitulado “A Visão Xamânica da Possessão e do Exorcismo”,
descreveu o que parece acontecer no caso das chamadas “possessões”
(ou obsessões, como se trata em Espiritismo e Apometria – ver
nota):
“Quando essas
entidades estão conectadas ao canal central em torno dos cinco
órgãos sensoriais no chacra do cérebro e da coroa, pode-se ouvir
seus pensamentos telepaticamente. Às vezes eles podem ser uma voz
muito crítica na cabeça, uma oferenda de todos os tipos de
comentários que causam distração ou comentários sexuais sobre
pessoas vistas na vida. Eles também podem compartilhar imagens
mentais de cenas ou cenários muito estranhos. O efeito é deixar o
praticante se perguntando de onde vieram esses pensamentos ou imagens
muito estranhos.
Pior de tudo,
eles podem impor suas energias emocionais negativas e pensamentos
correspondentes à sua consciência, de tal modo que não se pode
diferenciar o sofrimento e pensamentos negativos deles dos seus. A
identidade deles se funde com a sua temporariamente.
Uma boa maneira
de ver se você tem alguma dessas entidades é se privar do sono por
um longo período e perceber o que você vê quando vai dormir pela
primeira vez. Você pode ver algumas imagens muito estranhas e
pensamentos bizarros; isso é porque o campo de energia que separa a
consciência deles da sua se desfaz, e as paredes de fogo que separam
todas as entidades se dilui.”
A descrição lembra
muito o que pessoas que padecem das chamadas “obsessões”
relatam. Na verdade, são atacadas em seus campos individuais através
do campo coletivo, que é um campo cármico, relacionado a um grupo
de consciências próximas e sensíveis umas às outras – neste
sentido, o campo familiar seria um campo coletivo desta natureza, mas
um grupo qualquer de pessoas, formal ou não, unidas por afinidade
também.
Nota –
Apometria: Do grego apo ("além de") e metron
("medida") é um conjunto de práticas com objetivo de cura
que afirma que o processo consiste numa projeção da consciência
que permite o transporte de uma parte do corpo para o mundo astral,
onde médicos desencarnados imateriais realizam o tratamento. A
prática foi introduzida no Brasil pelo farmacêutico porto-riquenho
Luiz Rodrigues, que a chamava de Hipnometria, e utilizava técnicas
próprias para obter o suposto desdobramento anímico controlado. Na
década de 1960, foi sistematizada pelo médico-cirurgião geral e
ginecologista José Lacerda de Azevedo (1919-1997), no Hospital
Espírita de Porto Alegre, que lhe renomeou apometria.
Consciência e
Identidade
No referido artigo,
Peterson diz que “a maioria dos seres humanos é
mentalmente uma composição dessas entidades, todas em competição
por serem a entidade ‘controladora’” e que é isso que
torna nossas personalidades “tão diversas e
imprevisíveis”. Para ele: “É também a fonte de
nossos muitos impulsos de competição que tentam guiar nossas vidas
em certas direções, mas muitas vezes conflitantes. Os pensamentos
realmente maus, malignos ou suicidas pertencem a esses parasitas e
parecem como se fossem seus até serem diferenciados.”
Aqui, Peterson
declara a principal causa dos efeitos negativos das possessões,
obsessões e influências de consciências invisíveis: a
identificação com os pensamentos delas, o tomar seus pensamentos
como se fossem os da própria pessoa. Isso cria um emaranhamento
cognitivo terrível e uma confusão na consciência.
No campo original de
consciência, também chamado de “campo indiferenciado de
consciência”, existe consciência, existe percepção, mas não
existem pensamentos linguísticos nem um “eu” de referência.
Quando estas ondas de consciência atingem a parte cerebral ou o
sistema de interpretação neural de alguém, a consciência se liga
a um “eu” impermanente, temporário, e então ocorre a
identificação. Se nos identificarmos com a consciência de outro
ser, vai haver confusão e este estado é o que, comumente, se chama
de possessão e obsessão.
Conforme Peterson:
“O problema é devido à proximidade deles; você se
identificou com eles. Os pensamentos deles parecem tão seus, e você
nem sequer questiona isso. Você não tem uma identidade ‘eu’,
apenas eles têm. Através de simplesmente permanecer na
não-meditação clara e desperta, a presença, os pensamentos, as
imagens e estados emocionais deles se tornarão evidentes. Ao serem
claramente reconhecidos como NÃO sendo você, eles se dissociam e
geralmente vão embora ou se afastam junto com qualquer mente
negativa ou estados emocionais. A mudança súbita e o alívio de uma
mente negativa ou estado emocional é imediato e maravilhoso. Então
você pode controlá-los por sua intenção. Eles são muito fracos e
irão obedecer. Foi assim que Padmasambava ‘subjugou’
as divindades espirituais que estavam bloqueando sua exposição do
Darma no Tibete.”
Neste caso, podemos
lembrar até dos trechos do Novo Testamento em que Jesus comandava os
demônios que possuíam as pessoas que ele curou. Sob uma voz de
comando firme, tais seres deixavam de perturbar e se retiravam.
Nas obsessões,
estas consciências de diversas naturezas se aproximam, marcam
território e, com o tempo, ocorre um “emaranhamento” (como o
emaranhamento ou entrelaçamento quântico) com a consciência da
pessoa, de modo que, ora é ela mesma que fala, ora é a tal
“consciência intrusa”, ora ambas, até o estado de completa
insanidade.
Contudo, para
encerrar, é bom esclarecer que nem tudo é obsessão. Há uma
tendência em grupos espirituais em geral, não apenas de Apometria,
de atribuir tudo a obsessões. Isto é uma irresponsabilidade e traz
um risco enorme para pessoas que precisariam, sim, de tratamento mais
específicos, incluindo os psiquiátricos, psicológicos e
terapêuticos convencionais. Na verdade, tratamentos espirituais,
sejam os proporcionados por passe espírita, umbandista, por
apometria, canalização ou o que os valha, devem ser feitos
complementarmente a tratamentos médicos, proporcionalmente à
gravidade do quadro mental apresentado e conforme laudos médicos.
Esta é uma forma responsável de fazer o trabalho.
Canalização de
Campo
Nesta linha, uma
prática muito útil é o que chamamos de “canalização de campo”,
que é o escaneamento de saúde de uma pessoa feita por vários
canalizadores ao mesmo tempo, não só acessando o campo individual
do paciente quanto gerando um firme campo coletivo de canais em torno
dela.
Isso permite uma
observação das condições do paciente por várias consciências.
Só é considerado válido para o diagnóstico o que é confirmado
pela maioria dos canalizadores. Enquanto isso, o paciente vai
confirmando o que os canais informam e, uma vez definido o seu
quadro, ficará mais fácil determinar o modelo do tratamento
espiritual a ser aplicado e a real necessidade de uma opinião
médica, no caso do paciente ainda não ter tido qualquer busca pela
medicina convencional.
É importante
trabalhar nas duas frentes para o benefício geral do paciente. Não
se pode admitir trabalhos espirituais que desdenhem os cuidados
médicos convencionais, pois tal atitude põe em risco os pacientes,
sendo uma contradição ao compromisso espiritual de promover a cura
e a autocura nos indivíduos que sofrem de qualquer mal. O ideal é
se ter acesso aos laudos médicos existentes, para evitar amadorismo,
e no caso da pessoa ainda não ter procurado ajuda médica,
incentivá-la a fazê-lo, para sua própria segurança.