Por Rudolph Bauer (artigo original em Inglês “A
Dzogchen View of the Experience of Absence of Self [Anatman]”,
traduzido por Paulo Stekel)
Ausência
de Eu
A
experiência budista de Anatman
pode ser vista de e à luz da tradição Dzogchen.
Anatman é
a essência dos primeiros ensinamentos budistas. Anatman
é para muitos o pressuposto fundamental do budismo. Anatman
significa a ausência de eu [N.T.
no original em Inglês, sempre “self”).
Para o budismo primitivo, há uma profunda ausência de eu
nos seres humanos. Não existe um eu dentro de uma pessoa e não
existe um eu como pessoa. A pessoa humana é sem-eu.
E não existe um eu pessoal como seu próprio ser e nenhum ser como
seu próprio ser pessoal. Não há dimensão do Ser no budismo
primitivo. A pessoa humana é sem-ser
e sem-eu. Todos
os fenômenos são sem-ser e sem-eu.
A
experiência de Anatman implica seriamente que os seres humanos não
têm auto-agência e auto-ação. Tudo é determinado pelo contexto e
pelas condições anteriores chamadas originação
dependente. Se não existe um eu que
seja o agente da experiência, o agente da ação própria, as
condições anteriores contextualizam completamente a experiência.
Sem auto-presença, auto-agência não existe e auto-ação não
existe? A autodeterminação não existe. Tudo é determinado pela
condição anterior, pelo contexto prévio
e anterior. Isso é sofrimento.
A
linguagem budista primitiva da originação
dependente era uma forma antiga de causalidade,
entendida como contexto sistêmico
e não como uma ação causal, como na auto-intencionalidade ou na
auto-manifestação. A auto-agência não pode existir sem o eu do
agente? Até a palavra karma
é uma função do contexto e das condições. Uma condição
momentânea anterior leva à próxima condição momentânea
seguinte. Toda a experiência é completamente condicionada. Uma
condição é a pré-condição para a próxima condição resultante
dependente subsequente. Isso é karma. E isso é
sofrimento.
Portanto, a auto-agência humana só pode
existir no desejo que realiza a imaginação! Essa auto-agência se
torna uma função do
simular! Essa é
a simulação de
“como se”. Os budistas primitivos simulam
“como se tivessem auto-agência”, como se tivessem
intencionalidade e “como se” tivessem auto-manifestação. Eles
simulam “como
se” pudessem efetuar a cessação! Você pode ser budista sem eu,
e ainda assim funcionar com auto-agência, auto-manifestação,
auto-intencionalidade e auto-eficácia?
Para
o budismo primitivo, os seres humanos não têm um senso real de eu
e para as pessoas que dizem ter um senso de eu
os budistas consideram que a experiência de eu
é uma ilusão ou delusão.
Quando
não há personificação do eu, não há nenhuma possibilidade para
a realidade da autêntica auto-experiência. Sem o eu interior, não
existe um verdadeiro experimentador autêntico e existe uma ausência
correspondente de auto-agência autêntica humana, auto-ação
autêntica e auto-experiência. Onde não existe auto-experiência
autêntica, não haverá expressão ética autêntica nas infinitas
situações da vida humana. As condições anteriores determinam
tudo. As condições anteriores determinaram a condição seguinte. A
condição anterior condiciona e contextualiza completamente a
condição subsequente.
O que resta é a humanidade oca
completamente determinada por condições anteriores. Isso é
sofrimento. Não
existe força interior na causalidade condicional
sistêmica budista. Do ponto de vista do
Dzogchen, no início do budismo, existia
a completa ausência de “consciência luminosa” que é realmente
a nossa humanidade essencial. Não há essência do coração. Para o
budismo primitivo, existe apenas a mente humana que é uma sequência
de funções mentais. A mente conhece coisas e seres. A mente conhece
formas.
No
Dzogchen, o conhecimento da consciência luminosa não é o
conhecimento da mente. A luminosidade da consciência conhece a
luminosidade do Ser. Esse conhecimento da consciência aberta está
excluído no início do budismo, assim como a experiência do
fundamento do Ser também está
excluída no início do budismo. Somente a mente sabe, e a mente só
sabe empiricamente. A mente conhece formas. A mente não conhece o
Ser.
Somente
a mente empírica existe no budismo primitivo.
A mente pertence à
percepção sensorial, a mente pertence à
percepção empírica, e a mente é a razão empírica. Existe apenas
o conhecimento da mente, e não há o
conhecimento da consciência primordial
como eu ou a consciência
primordial como ser.
Para
o budismo primitivo, existe apenas o conhecimento da mente, ou
melhor, as funções da mente. No início do budismo, não há
conhecimento da consciência aberta. Não existe conhecimento direto
do Ser. Não há consciência aberta conhecendo nosso próprio Ser ou
o Ser dos outros. A mente conhece os seres, mas não conhece o Ser
dos seres.
Não
há base ontológica de experiência ou fonte ontológica de
experiência no budismo primitivo. Não há dimensão ontológica no
budismo primitivo. Há um sofrimento de profunda ansiedade
ontológica. Há o sofrimento da ausência do Ser e o sofrimento da
ausência do eu. Isso é sofrimento existencial.
No
início do budismo, a realidade
do eu está ausente, assim como a realidade
do ser. A mente conhece os fenômenos, mas não conhece o Ser dos
fenômenos. O budismo conhece o corpo, mas não conhece o Ser do
corpo. O budismo primitivo conhece os seres, mas não pode conhecer o
ser dos seres, incluindo o ser do próprio ser. Este é o sofrimento
da ausência.
Todos
os fenômenos são sem base,
sem ser e sem eu.
O senso humano de eu
e o senso humano de ação são fenômenos
sem fundamento e sem
ser, de um sem fundamento ser
sem-ser. A
psicologia pessoal é sem base, sem ser, sem presença. Existe apenas
essa dimensão ôntica [N.T. de ou
relacionada a entidades e aos fatos sobre elas; em relação ao real
em oposição à existência fenomenal.]
dos fenômenos, usando-se
a linguagem da fenomenologia. Não existe uma dimensão ontológica
dos fenômenos a ser experimentada no budismo primitivo. Não existe
um ser de fenômenos. A mente conhece apenas a experiência ôntica.
A experiência ôntica é a experiência da coisa e a experiência da
forma sozinha.
Foi
assim que o budismo primitivo entendeu o vazio da experiência, o
vazio do eu e o vazio do ser. Esse vazio não é o vazio do espaço
potencial do Dharmakaya. Esse vazio é simplesmente o vazio
existencial da ausência.
Esse vazio da ausência
é o vazio do não-ser, não-eu. Este é o vazio da ausência.
O
único conhecimento para o budismo primitivo era o conhecimento da
mente empírica. Nosso senso de mente é o senso dos agregados
mentais na confluência do momento. Essa é uma fenomenologia
materialista e uma forma de conhecimento materialista de seres
humanos fragmentados.
Em
termos fenomenológicos, há uma fenomenologia ôntica e não há
dimensão ontológica de nossa existência. Apenas
o que você vê com sua mente é o que
alcança. Buda ou
Gotama falaria da angústia tanto da falta de algo externo, como da
angústia da falta de algo interno. Os seres humanos sofrem com o
não-eu, e sofrem com o vácuo interior da
ausência do eu, e sofrem com a ausência
do Ser encarnado. Essa ausência de eu
é a ausência da experiência do próprio ser. Sem o sentido
encarnado do eu como nosso Ser ou o sentido encarnado do Ser como
nosso eu, sofremos com essa perda generalizada do Ser. Sofremos do
nada. Sofremos de ausência, sofremos de vazio, sofremos de
uma melancolia interminável. Sofremos com
a falta de auto-eficácia.
No
início do budismo, o mundo era coisas e coisalidades.
O mundo foi reificado [N.T. tornar (algo
abstrato) mais concreto ou real].
Humanos são coisas vazias. Nós somos coisas humanas vazias. O mundo
é entidades vazias. Ser um ser humano é ser uma entidade vazia.
Entidades são coisas com forma e configuração.
As coisas são entidades com forma e configuração.
Além das entidades, existe apenas o nada e o vazio do nada. As
entidades estão vazias do ser.
O
budismo primitivo declara que não há substância para os seres nem
substância para os fenômenos e que existe apenas vazio. Esse vazio
do budismo primitivo é o vazio do ser, a ausência da experiência
do ser, a ausência da base do ser. Esse vazio é a ausência da
presença do Ser, que é a ausência da experiência interior da
Presença.
No
Dzogchen, nossa experiência de presença em nosso eu e de
presença em outro é a nossa experiência
de eu. Nosso
senso de eu é
nosso senso de ser e nosso eu é nossa presença de ser em nós “como
nós”. No
Dzogchen, ser um humano
é experimentar nosso Ser de Presença. O sentido da presença é o
sentido do ser luminoso. O sentido da presença é o sentido do nosso
Ser como nosso eu. O ser não é conhecido apenas pela mente. O ser é
conhecido apenas através do conhecimento da consciência. O
conhecimento da consciência é conhecer a fonte do nosso eu inato
como Ser.
No
budismo primitivo, sem nosso senso de presença, sem o senso de nosso
próprio Ser, sem nosso senso de auto-agência, o que somos agora é
o que fomos condicionados da condição anterior e dos momentos
anteriores até o momento seguinte. No momento da morte, a qualidade
da última condição de consciência pode ser seguida pelo
surgimento do renascimento da consciência. Nada é
transportado, absolutamente nada é transportado, não há
continuidade do Ser. A nova consciência surge na dependência da
consciência anterior como uma condição para o surgimento
dependente da nova consciência. Não há continuidade nessa
visão fragmentada e fragmentadora da experiência humana. A
experiência budista primitiva de ser humano é incompleta. Esta é
uma fonte de sofrimento.
No
início do budismo, mesmo quando uma pessoa sente eu e auto-agência,
isso é considerado uma experiência ilusória. À luz do surgimento
dependente, o que está surgindo, o que quer que esteja se
manifestando, é uma função da condição anterior.
Verdadeiramente, uma coisa segue após outra. Uma circunstância
segue após outra circunstância. Uma condição segue após uma
condição anterior.
Essa
visão de causalidade não é a causalidade da força intencional, ou
a força dinâmica da auto-manifestação, ou a força da auto-ação,
mas a contextualização sistêmica, uma condição sistêmica
condiciona o próximo surgimento dependente de uma condição. Não
há presença do eu, nem presença do nosso eu como nosso ser humano.
Ausência
psicológica
Essa ausência de eu não é simplesmente
uma ausência psicológica de eu. Essa ausência de eu não é uma
simples e emocional ou afetiva ausência de eu. Essa ausência de eu
não é simplesmente uma ausência cognitiva de eu. A ausência de eu
não é simplesmente a falta de atenção psicológica. Essa ausência
de eu não é simplesmente que nosso eu tenha se retirado
profundamente para dentro de um estado esquizoide.
Esta é
uma ausência ontológica de eu, a ausência do eu como Ser e,
portanto, a ação autêntica no mundo é impossível. Sem
auto-agência ontológica, a auto-direção autêntica não pode se
manifestar. A ação própria não pode se manifestar na ausência da
estrutura ontológica do eu, na ausência ontológica do eu. A
ausência ontológica do eu é anterior à ausência do nosso senso
psicológico do eu. O Ser da nossa mente, o Ser dos nossos
pensamentos e o Ser dos nossos afetos estão ausentes. No budismo
primitivo, há apenas ausência.
O budismo primitivo
pensava que a maioria das pessoas imagina que sua mente
é o seu eu. As pessoas ainda hoje pensam que sua mente é o seu eu.
A maioria das pessoas pensa que a mente é o seu eu. Eles acham
que sua mente é uma entidade. Mas, para os primeiros budistas, a
mente não é eu. A mente deles não é uma entidade. No budismo
primitivo, não existe base do ser e não existe base do ser para e
da mente. Não há ser da mente. A mente sem Ser é vazia de ser. Não
há fonte ontológica de nossa mente nem continuidade em progresso da
mente. Não existe consciência aberta como eu. Não existe uma
consciência aberta da auto-presença. Não existe uma consciência
aberta de nosso Ser como nosso eu.
A auto-ação autêntica
não pode surgir de dentro da ausência da essência da consciência
interior do coração. No Dzogchen, a essência da consciência no
coração interno é a fonte da consciência como conhecedor do Ser
dentro de nosso eu, conhecedor do Ser nos outros e conhecedor do Ser
como o universo.
Auto-Negação
A
deificação budista inicial da ausência do eu nega o poder humano
da auto-manifestação criativa e nosso poder humano de ação ética
e proteção ética. A ausência de eu nega a presença. No Dzogchen,
a presença não é simplesmente um evento psicológico, mas a nossa
presença humana é a auto-manifestação do Ser “como nós” e
“nós” como nossa consciência incorporada. Presença é a
auto-manifestação do fundamento do Ser como nossa própria
consciência. Presença é a auto-manifestação da Presença Pura de
Dharmakaya. O Dharmakaya é um Ser Puro que não é um
ser e que manifesta um número infinito de seres. No Dzogchen, nossa
mente psicológica é a manifestação do ser. Nossa mente existe
dentro do contexto de nossa presença, que é a presença do
Ser.
Mar de passividade
Um domínio
ético de um mar de passividade é criado pelo pensamento anatman.
Para os primeiros budistas, os eventos humanos acontecem
incansavelmente em função da infinidade da origem dependente e da
dependência de condições auto-emergentes. Por fim, dentro dessa
visão de anatman, a ação humana é não ação. A virtude
da não ação ou não fazer nada é realmente o sentido do não-eu.
Esse sentimento de não fazer é o sentimento de sentir os agregados
de nossa mente. A mente não tem atuação. A palavra aceitação é
um tipo de “ir bem”, e é um tipo de progresso, não é?
Os
primeiros budistas pensam que imaginamos que nossa mente é o nosso
eu, e somos uma série de funções mentais que se fundem, gerando a
ideia do eu. Não há fundamento ontológico para essa experiência
ideacional. De fato, o budismo primitivo não tinha senso de
fundamento ontológico de nenhum fenômeno. Não havia base
ontológica de fenômenos ou base ontológica de mente. A única base
eram condições mentais materiais circunstanciais.
Dzogchen
fenomenológico
Na linguagem do Dzogchen
fenomenológico, existe o Ser. O ser que não é um ser manifesta um
número infinito de seres. No Dzogchen fenomenológico, como
seres humanos, experimentamos o nível ôntico da experiência e,
como seres humanos, também experimentamos o nível ontológico da
experiência. Esta é uma experiência simultânea. Nós podemos
realmente experimentar seres e Ser. Existe o nível experiencial das
coisas e formas que é o nosso nível ôntico de experiência
empírica. Esse conhecimento é um senso empírico. Para os primeiros
budistas, existe apenas esse conhecimento da mente e não há
conhecimento direto da consciência luminosa aberta, que é a porta
para experimentar o conhecimento primordial como Ser primordial.
No
Dzogchen, nosso conhecimento direto da consciência aberta luminosa é
a nossa porta para experimentar o conhecimento primordial como Ser
primordial. Na visão do Dzogchen, temos a experiência de nossa
consciência conhecendo o Ser. Ser é o nível ontológico da
experiência. Podemos conhecer o Ser de nosso próprio ser e o
Ser de outros seres. Podemos conhecer o ser dos fenômenos e
podemos conhecer os fenômenos do Ser dentro de nós “como nós”.
Isso é felicidade. Esta é a bem-aventurança do ser que vence o
sofrimento. Nós somos o entrelaçamento da mente e do Ser. Esse
entrelaçamento produz a experiência do eu como Ser encarnado.
No Dzogchen, nosso senso de nosso Ser encarnado é nosso senso de eu.
Nosso senso de nosso eu é nosso senso contínuo de nosso Ser
encarnado.
A visão Dzogchen da ausência de eu
O
Dzogchen tem uma visão particular e única da ausência de
eu. Essa visão do Dzogchen da ausência
de eu é semelhante às visões contemporâneas da
fenomenologia continental e da psicologia fenomenológica
existencial. Do nosso ponto de vista Dzogchen, a ausência do
sentido do eu é a ausência do sentido do Ser. A ausência do
sentido do Ser é a ausência do sentido do eu. Dentro da compreensão
direta do Dzogchen, os seres humanos experimentam um sentido
desdobrável do eu interior, que é a experiência desdobrável de
nosso senso de Ser e o desdobramento e aprofundamento do sentido de
nossa Seidade de Ser. “Exatamente como sou”. Ou “Exatamente
como é”. Esta é a nossa experiência de essência do coração
humano luminoso interior. Na psicanálise existencial contemporânea,
Donald Winnicott descreve o desenvolvimento do senso de eu da
criança como o desenvolvimento de uma continuidade crescente do
Ser.
Experiência Onto-Cosmológica de
Eu
O Dzogchen apresenta uma experiência
onto-cosmológica de eu. O sentido de eu é convergente com o nosso
senso de ser e nosso senso de ser é convergente com o nosso senso de
eu. Nossa auto-manifestação de ação é a auto-manifestação de
nosso ser luminoso no mundo. A auto-agência está dentro do reino
luminoso da imanência da auto-manifestação da ação dramática
pessoal de auto-manifestação do nosso Ser neste mundo. O desejo em
si é o auto-surgimento de nossa auto-manifestação no mundo. Nosso
sentido de eu manifesta o desejo como uma maneira de estar no mundo e
gerar o mundo. Como Jacque Lacan disse uma vez ao falar na
Universidade Johns Hopkins em Baltimore: “O desejo traz à tona
Baltimore!”
Nosso Eu é o Sentido experimentado
de Nossa Forma Pessoal de Ser
Na
visão do Dzogchen, o sentido de eu não é um conceito de mente ou
imagem mental do eu. O sentido de eu não é um evento conceitual. O
sentido do nosso eu não é o sentido do eu como algo tal qual um
objeto que nos habita. Nosso eu não está vazio nem é algo como
alguns sugerem. Por vazio aqui neste contexto, vazio é nada, um
vazio como falta, um vazio como ausência.
Nosso eu não é
feito de coisas reificadas, como o Homem de Lata no Mágico de Oz. No
entanto, a ausência de eu é oca da essência do coração, Snying
Po. Nossa amada consciência interior como eu não é a posição
aleatória dos agregados mentais da coisa da mente. A visão mental
budista da mente dos agregados é uma mente de lata de uma pessoa de
lata. Sem a consciência aberta como eu, não há personalidade. A
consciência aberta é um conhecimento primordial que se manifesta
como nossa própria consciência.
Nosso senso de eu
não é coisa nem entidade, e nem está sendo absolutamente vago, ou
absolutamente ausente ou vazio. Ser não é nem ser uma coisa, ou ser
uma entidade ou ser um nada absoluto. Consciência não é uma coisa,
e consciência não é uma entidade. Consciência não é não-Ser,
não é a ausência do Ser. Consciência é não-coisa; consciência
é conhecimento direto; consciência é gnose; consciência é jñana.
A consciência aberta é a nossa abertura para o Ser.
O
dilema é que, se estivermos em mente sozinhos, podemos não entender
o que acabamos de dizer. Consciência não é uma coisa, consciência
não é nada. Consciência é Ser e o conhecimento do Ser.
Consciência é um nada que conhece o Ser. Nossa consciência não é
uma coisa. Nosso conhecimento é um nada. Nossa consciência é o
conhecimento de nosso ser.
Quididade e Senso de
eu
Nosso senso de eu não é uma ilusão de
quididade [N.T. orig. “who-ness”, a essência de uma coisa].
Nossa quididade é o conhecimento da consciência aberta, o
conhecimento aberto, a abertura do Ser como nossa própria
singularidade luminosa. Consciência conhece o Ser e o conhecimento
do Ser é Consciência. Existe o conhecimento da mente e o
conhecimento pristino [N.T. orig. “pristine”, pristino,
primitivo] da consciência.
Somos um conhecedor com
duas maneiras de conhecer. Essas duas maneiras de conhecer são muito
distintas. Nossa mente conhece a forma e nossa consciência
conhece o Ser. Nossa mente conhece os seres e nossa consciência
conhece o Ser. Nossa mente conhece o ôntico e nossa
consciência conhece o ontológico. Nossa mente conhece o tempo e
nossa consciência conhece a atemporalidade.
Nosso
sentido de eu é a realidade do nosso Ser no mundo e a manifestação
da presença do nosso Ser no mundo. O mundo em si é
multidimensional. O mundo em si é uma auto-manifestação do Ser
“exatamente como nós somos”, uma auto-manifestação do Ser. O
Ser não é um ser, e o Ser manifesta-se um número infinito de
seres. O Ser auto-manifesta mundos infinitos e um número infinito de
habitantes dos mundos.
Presença de Nosso
Ser
Nosso Ser pessoal é a presença de
nosso Ser como o Ser do mundo. Você e eu somos a auto-manifestação
do Ser no mundo como seres humanos. Você e eu somos a essência do
coração interior da pura consciência, o brilho luminoso do Ser. O
nosso eu é a nossa continuidade progressiva do Ser luminoso, vida
após vida e morte após morte.
A diferença entre
Metafísica e Ontologia
Nossa mente conhece a
metafísica. Nossa mente conhece a conceitualização sobre o Ser
e os seres. Nossa mente conhece a ideação. Nossa mente conhece
através de pensamentos, afetos e sensações. Nossa consciência
conhece ontologia. Nossa consciência conhece diretamente a
experiência do Ser como Ser. Experimentar o Ser e entender nossa
experiência de Ser é Ontologia. Pensar no Ser é metafísica.
A fenomenologia é uma experiência ontológica do conhecimento
direto da transmissão do Ser e do ser dos fenômenos.
Deste
modo, a ontologia fenomenológica e o Dzogchen são semelhantes na
compreensão do sentido do eu como o sentido do nosso ser. A mente
pensará no eu como uma coisa. A consciência compreende a
experiência do Ser como minha experiência do Ser, minha
auto-experiência do Ser. Minha experiência do meu Ser é a minha
experiência do senso de Eu. Meu senso de eu é a minha experiência
do meu ser.
Encarnação da Natureza de
Buda à luz do Dzogchen
Entendemos a
natureza búdica a partir da perspectiva do Dzogchen. A natureza de
Buda é presença espontânea, qualidades espontâneas e não
fabricadas de conhecimento direto, espaço, energia, luminosidade,
compaixão e uma felicidade que não pode ser reificada. O
conhecimento que nossa mente tem da forma pode ser integrado ao nosso
senso de eu corporificado, à nossa percepção corporificada, ao
nosso campo corporificado do Ser, ao nosso campo corporificado de
conhecimento sem ser reificado.
A natureza de Buda é um
conhecimento primordial luminoso, o fundamento original do Ser, o
verdadeiro fundamento, usando a linguagem de Longchenpa. A natureza
de Buda é a natureza do ser. O Ser não é um ser, mas o Ser
manifesta um número infinito de seres. A natureza de Buda é a
natureza do Ser e o Ser é a natureza de Buda. Buda não é uma
pessoa.
Nosso
senso de eu é nosso senso de nossa Seidade [N.T. orig.
“Being-ness”, estado do ser] do nosso ser. O Ser não pode
ser reificado dentro do conhecimento do nosso campo de consciência.
Nosso Ser , usando a linguagem do Dzogchen, é a nossa natureza
búdica. A natureza de Buda é a indivisibilidade da consciência
aberta; sua extensão (dbyings); sua luminosidade e sua
abertura fundamental do conhecimento primordial
(Yeshe).
Entendimento de Longchenpa do Eu
Onto-Cosmológico
Longchenpa
escreve como é a consciência aberta (Rigpa) e como o
conhecimento sobre Rigpa abre o conhecimento primordial como
Yeshe. Yeshe é a dimensão expressiva e incorporada do
conhecimento primordial. Ser é conhecimento primordial. O
conhecimento primordial se manifesta como nossa presença e como a
luminosidade natural que permeia nossa personificação e nossa
mente.
Longchenpa torna claramente evidente que nosso
potencial espiritual inerente já está completa e primordialmente
presente dentro de nós. Longchenpa descreve o entendimento do
Dzogchen de que essa quintessência espiritual é espontânea,
naturalmente presente e incorporada em nós sem faltar nenhuma de
suas qualidades inatas. Isso constitui a base do nosso Ser, onde o
brilho se manifesta como o sol radiante. O Dzogchen é um
caminho de imanência. O Dzogchen é o caminho da perfeição. O
Dzogchen é o caminho do ser.
Meditação de
se tornar consciente do Ser
É claro que
a meditação é nos tornarmos cônscios de nossa consciência, é um
processo de limpeza que revela nossa natureza permanente da
consciência primordial, que é o simples fato de ocorrer a presença.
A presença é uma estrutura invariante, o fluxo absoluto do Ser.
Essa consciência pré-reflexiva é a presença do nosso Ser como o
próprio Ser. Essa presença do Ser encarnado é o nosso sentido
encarnado do eu. Experimentar a natureza de Buda é experimentar o
nosso eu. Nosso senso de eu é nosso senso de Ser, e nosso senso de
Ser é nossa natureza búdica. Nossa consciência é jñana
e nossa consciência é gnose. E dentro de nossa consciência,
experimentamos diretamente nosso eu, nosso Ser, e nosso Ser é a
dimensão búdica da gnose da sabedoria. Isso é verdade para todos
“exatamente como são”.
“Possessividade”
de nossa auto-experiência de Ser
Usando
o entendimento da fenomenologia contemporânea de Michel Henri,
nosso eu se refere à nossa experiência pessoal, que está
intrinsecamente relacionada à experiência do nosso eu e à
experiência do nosso Ser como nosso eu dentro de si.
A
experiência do nosso eu é a manifestação de “Possessividade”
[N.T. “mineness”]. Possessividade é nossas experiências
sendo vivenciadas pela primeira pessoa que dá o que revela nossa
experiência como nossa. Michel Henry chama isso de ipseidade
[N.T. o caráter particular, individual, único de um ente, que o
distingue de todos os outros]. Essa experiência em si não é
uma experiência que cria o eu, o eu não é uma entidade
psicológica. Antes, o sentido do eu é a manifestação singular do
Ser como nós. A experiência do eu é a experiência do nosso
próprio ser.
Experimentamos diretamente nossa compreensão
fenomenológica de nós mesmos. Nosso eu não se refere a uma
identidade pública, nosso eu não se refere a uma coisa, nosso eu se
refere à questão da experiência. Experiência é minha
experiência, experiência é sempre minha [N.T. eu a
possuo, de certa forma, motivo pelo qual traduzimos “who-ness”
por “possessividade”]. O eu não é algo como uma mente
psicológica ou uma função da mente. Nosso eu é nossa linguagem
ou nosso significante, em que a aparência aparece para si mesma como
ela mesma. Nossa aparência se manifesta para si mesma. Isso
também se aplica à nossa linguagem, como a linguagem dzogchen da
essência do coração. Essa redação é a linguagem da minha
experiência humana do Ser que aparece e se manifesta como minha
experiência.
Nossa linguagem do eu é completamente
auto-referencial e nosso eu não é simplesmente um conceito de
intencionalidade mental, ou uma cognição mental ou ideação
mental. A auto-subjetividade também não está intrinsecamente
ligada a um objeto.
O nosso eu é o nosso Ser, revelando o
nosso eu para o nosso eu. Para Michel Henry, nossa linguagem da nossa
“possessividade” da experiência, nossa vivência da experiência
reflete nossa estruturação auto-referencial de nossa experiência
do ser. Nossa Existência é nosso Ser pessoal na auto-manifestação
como nós para nós. Nossa continuidade progressiva do Ser é a nossa
personalidade. Experimentar o nosso eu não significa experimentar
algo que é chamado de nós mesmos, mas que minha experiência
pessoal do meu Ser me aparece. Aparecendo, essa manifestação
acontece dentro da minha perspectiva em primeira pessoa. O nosso Ser
é a auto-doação do nosso Ser e essa auto-doação do nosso Ser
simboliza que o nosso Ser se manifesta como nosso próprio Ser. Essa
auto-manifestação do nosso próprio Ser é a lucidez da realidade
da aparência do nosso Ser e a luminosidade da nossa experiência do
nosso Ser.
Essa experiência do nosso ser é intrínseca e
não é um objeto da observação de nossa mente. Este não é um
objeto externo que aparece, mas sim o aparecimento de nossa maior
consciência interior. Esta é a aparência do meu Ser em si mesmo. O
eu não é um objeto, mas a personalização do próprio Ser no tempo
e nesta dimensão inata da personalidade. A consciência
primordial, o conhecimento primordial é completamente pessoal e é
completamente a imanência da existência. Isso não é
transcendental, impessoal ou não pessoal. Não há dissociação,
não há distante.
Perder o sentido do pessoal dentro
de nós mesmos ou dentro dos outros, é perder a bem-aventurança da
auto-manifestação do Ser como nós, como você e eu.
Como
Michel Henri descreve, o eu é imanente e não uma experiência
transcendental. A experiência do eu está dentro do domínio da
imanência e, claro, é a fonte da autenticidade. Autenticidade é a
experiência da imanência.
Imanência do eu e
autenticidade do eu
A experiência do nosso eu é
completamente imanente em contraste com a experiência transcendente
do Ser Puro. Nossa experiência de eu é imanente no campo do
Ser, e nossa experiência autêntica de nossa própria manifestação
é a libertação, exatamente como somos. A auto-liberação no
domínio da imanência é a experiência da autenticidade de nossa
auto-manifestação de que não podemos ser outros além do que somos
dentro do domínio da imanência do Ser. “Eu sou quem eu sou.”
Autenticidade
é a nossa experiência relacional pessoal para o nosso Ser,
exatamente como é. A libertação é experimentar o meu eu, meu
próprio ser em si mesmo, assim como eu sou. Nosso eu em relação ao
mundo exterior não pode ser reduzido a ser outro exterior ou
simplesmente ao reino interpessoal. Assim, iluminamos a experiência
do nosso eu como a linguagem da nossa personificação do Ser
primordial como nosso próprio Ser e a experiência do nosso próprio
Ser como nosso próprio eu. Da maneira mais profunda, a incorporação
de nossos dois modos de conhecimento é o meio de nossa incorporação
e o meio de nossa experiência de nossa contínua progressão do eu,
nossa contínua progressão do Ser.
Libertação é o amor
do Ser, que é o Ser de amor como o nosso eu, e o amor do Ser como o
eu do outro. Esse é o amor da auto-manifestação dos seres de Aham
(eu sou) dentro de mim, e dentro, todas as infinitas manifestações
são Aham. Essa auto-liberação está além do certo e do
errado, do bem e do mal, do melhor e do melhor, da verdade e da
falsidade. Esse espaço potencial de “eu sou” está sempre
presente, sempre estará presente e é a auto-liberação através
dessa experiência beatífica da existência.
Separação
e divisão de Mente e Consciência
Essa
divisão ou dissociação entre mente e consciência
[N.T. orig. “mind” e “awareness”] é a divisão mais
fundamental dentro de uma pessoa. Esta é a divisão do conhecimento
da nossa mente e do conhecimento da nossa consciência. A integração
natural da mente e da consciência é nossa tarefa de desenvolvimento
existencial mais importante e o desenvolvimento mais importante da
integração dentro de nós como seres humanos. Integrar nossa
mente em nosso campo de consciência é a tarefa de desenvolvimento
mais fundamental. Muitas pessoas, muitos filósofos e muitos
psicólogos não conheceram esse segredo ao longo dos séculos. Esta
é uma grande contribuição do Dzogchen para a experiência humana
de auto-liberação.
Para muitas pessoas, existe uma grave
separação entre o conhecimento da mente e o conhecimento da
consciência. O conhecimento da mente conhece formas e dualidade. O
conhecimento da consciência conhece Ser e não-dualidade. Essa
separação limita a pessoa localizada na mente, sozinha em sua vida
criativa e pessoal. Sua vida de auto-liberação não é totalmente
sustentada pelo campo do Ser permeando seus fenômenos.
Quando
uma pessoa está ciente da consciência, ela pode conhecer
diretamente seu Ser sem forma. Isso geralmente acontece facilmente na
prática da meditação. A pessoa pode experimentar seu Seidade de
seu Ser. A pessoa pode experimentar a bem-aventurança do puro Ser. À
medida que a pessoa deixa o estado meditativo de consciência, ela
deixa de estar consciente e deixa o campo de consciência, e sua
experiência sem forma de Seidade desaparece. E então, ela está
sozinha na mente e, à medida que passa a vida em sua mente, o campo
do Ser não é mais experimentado tão diretamente, tão
completamente.
Uma pessoa não pode experimentar seu senso
de Seidade plena de ausência de forma luminosa sem estar consciente.
No entanto, a pessoa não pode experimentar sua forma sem estar em
sua mente. A mente conhece a forma, conhece os seres e as coisas.
Portanto, a pessoa não pode experimentar seu Ser de sua forma, o Ser
de si mesmo sem estar em mente e consciência simultaneamente. Este
estar na mente e na consciência simultaneamente é o meio de
auto-liberação. Esta é a verdadeira conjunção misteriosa [N.T.
orig. “Mysterious Conjunctio”].
A pessoa não pode
experimentar a forma de seu Ser e o Ser de si mesmo sem estar na
experiência integrada da mente e da consciência aberta. A
experiência integrada da mente e da consciência aberta é o meio de
auto-liberação em e através de nossas circunstâncias e eventos da
vida. Esta é a essência do Dzogchen existencial. Essa é a essência
da auto-liberação natural.
O nosso eu é a nossa
experiência do nosso Ser como o nosso eu e a nossa forma do nosso
ser como Ser. O eu é a experiência unificada de nossa forma como
Ser e nosso Ser como a forma de nosso eu. Esse entendimento revela a
natureza do eu. A experiência do nosso eu é a experiência do ser
sem forma dentro da forma. A experiência de nosso ser sem forma como
nossa forma singular. Você e eu somos Ser sem forma como uma forma.
Um ser humano não é uma não-coisa sob a forma de coisa.
Síntese
do Esclarecimento: Ausência de eu na visão do
Dzogchen!
Esclarecimento 1. A ausência do eu
(anatman) é a ausência do nosso conhecimento de nosso eu,
não a ausência existencial do nosso eu como tal. A ausência
do nosso eu é a ausência experiencial do nosso ser. A
ausência de conhecer a nós mesmos é a ausência de conhecer nosso
Ser. A ausência de conhecer nosso Ser não significa que ele não
exista. Essa ausência de conhecer nosso eu como nosso Ser, significa
simplesmente que nosso eu, como nosso Ser, não está sendo conhecido
por nós como nós.
Experimentar nossa forma pessoal sem a
experiência do Ser de nossa forma é experimentar a ausência de eu
ou de Anatman. A experiência da mente conhecendo apenas a
forma, sem a experiência do conhecimento da consciência do Ser,
resulta no sentido da ausência do eu ou Anatman. Essa falta
de experiência do eu não significa que ele não exista.
Simplesmente significa que, estando apenas em nossa mente, podemos
não ter a experiência direta de nosso Ser como nosso eu. Também
podemos não ter a experiência do nosso eu como nosso Ser, porque
não experimentamos o Ser. É preciso ter consciência para
experimentar o Ser. Isso não significa que o Ser ou o eu não
existe. Essa ausência significa apenas que não estamos conhecendo
diretamente, através da consciência, nosso senso de Ser como nosso
eu. Só sabemos através de nossa mente a forma de nossos fenômenos;
essa é Ma Rigpa. O budismo primitivo sofria de Ma Rigpa.
Ma Rigpa significa que nosso conhecimento é incompleto. Nosso
conhecimento é limitado apenas ao conhecimento da mente.
A
mente que conhece a forma sem a nossa consciência que conhece o Ser
resulta na ausência de nossa experiência do eu. Nossa mente
pode conhecer a forma sem que nossa consciência saiba que o Ser de
nossa forma significa que o conhecimento de nossa consciência não
está sendo utilizado e é excluído. Essa exclusão da consciência
não significa que o nosso eu como nosso Ser não existe, apenas que
não estamos conhecendo a experiência do nosso Ser como nosso eu.
Isto é Ma Rigpa. Este é um problema epistemológico do
budismo primitivo. Somente a forma de conhecer a mente é incompleta.
Somente a mente não conhece nosso ser. Somente a mente, sabendo do
eu, é uma coisa mental e objetificada.
Esclarecimento
2. Experimentar nossa consciência conhecendo o Ser, sem o
conhecimento das formas de seres conscientes de nossa mente é outra
maneira de não conhecer a experiência de nosso eu corporificado.
Somente o conhecimento da consciência apresenta a experiência do
Ser sem a forma do nosso ser. Não existe “Possessividade”. A
experiência do Ser sem a forma do nosso ser é Ma Rigpa. A
experiência de nossa consciência conhecendo o Ser sem nossa mente
conhecendo a forma de nosso ser é um conhecimento incompleto.
Isso
acontece em muitas tradições filosóficas onde há uma dissociação
entre nosso conhecimento da consciência e nosso conhecimento da
mente. Muitas tradições não-dualistas separam o conhecimento da
consciência do conhecimento da mente. Portanto, existe apenas o
conhecimento do Ser, o Ser sem forma, sem o conhecimento da forma.
Uma tradição também pode dividir o conhecimento da nossa mente do
conhecimento da consciência e o consequente conhecimento do nosso
Ser. Só se experimenta o conhecimento da mente, que é o
conhecimento dos seres sem o conhecimento do seu Ser. Muitos sistemas
não-dualistas experimentam Ma Rigpa pela mente negadora que
conhece formas e fenômenos. Assim, neste contexto, existe apenas
consciência conhecendo o Ser. Consciência que conhece apenas o Ser
é incompleta. Consciência conhecendo apenas o Ser carece de
conhecer a forma e os fenômenos de “mim mesmo”. Este é um
entendimento decisivo para religião, espiritualidade e práxis
espiritual religiosa.
A integração da mente na
consciência é necessária para conhecer a presença do nosso eu
como o Ser do nosso eu.
Sobre o autor
Rudolph
Bauer Ph.D,
é diplomado
em psicologia clínica e detém status de consultor na Sociedade
Americana de Hipnose Clínica. É
psicólogo
fenomenológico e psicoterapeuta existencial, afiliado
ao Centro
de Estudos da Consciência (Washington
Center for Consciousness Studies)
e do
Centro de Estudos de Psicoterapia Fenomenológica e Existencial
(Washington
Center for Phenomenological and Existential Psychotherapy Studies),
ambos
em Washington
(EUA).
Concluiu
a bolsa de pós-doutorado em psicologia na Universidade de Louvain,
na Bélgica. Era membro do Institute
of Time Perspective
em Leuven e seu foco era na fenomenologia, além de estudos
experimentais em esperança e desespero. Foi bolsista de
pós-doutorado em psicologia clínica infantil na Fundação
Devereux. Seu foco era a psicoterapia psicanalítica relacional e a
psicologia clínica do desenvolvimento infantil. Também
estudou Sistemas Familiares no Philadelphia
Child Guidance Center
e participou de seminários psicanalíticos na Associação de
Psicanálise da Filadélfia, bem como na Escola de Psiquiatria de
Washington.
Estuda há mais de 30 anos com os mestres do
budismo tibetano Dzogchen, do
Xivaísmo da
Caxemira e do
Qi
Gong taoísta.
Tem
mais de 100 publicações nas áreas de psicoterapia, hipnose
clínica, teoria da relação de objetos psicanalíticos, estudos
experimentais sobre a perspectiva temporal da esperança e do
desespero, além de numerosos estudos fenomenológicos sobre
consciência existencial e meditação, conforme descrito no budismo
tibetano dzogchen, xivaísmo
da caxemira,
e Fenomenologia Continental.