quarta-feira, 17 de julho de 2019

Canalização e Consciência de Campo


Por Paulo Stekel


Uma questão de frequências

Nós, humanos, podemos captar em nossa consciência comum um certo espectro de frequências onde fluem outras consciências, sejam humanas ou não, desencarnadas ou não. O fenômeno que chamamos de mediunidade ou canalização é uma ampliação deste espectro no tocante à percepção consciente das energias que o habitam.

De fato, há um século, nos referíamos com o termo “espírito” ao que hoje se acostumou a chamar no Brasil de “entidade” e, no mundo da nova espiritualidade, de “energia”, “consciência” ou “mônada”, dependendo do caso. O termo “espírito” traz em sua etimologia a noção de “sopro, vento”. “Entidade” traz a noção de um ser, uma unidade de vida. Mas, o termo “consciência” talvez seja o mais adequado atualmente, pois traz a noção de um ser (encarnado ou não, com corpo ou não) que possui a propriedade da autorreferência, de se perceber como “alguém” no Universo, independente de ter um corpo físico ou não, de um dia ter sido “encarnado” ou não.

A Consciência de Campo

A partir das pesquisas do cientista britânico Rupert Sheldrake, na década de 1980, o conceito de “campo mórfico” ou “morfogenético” se somou ao antigo conceito de “Campo” usado em Física, incluindo-lhe um aspecto biológico e de consciência.

Em Física, um “campo” é uma grandeza física associada ao espaço, onde o valor que pode ser medido da sua intensidade se designa intensidade do campo e define-se classicamente como a força por unidade de carga. Assim, campo representa o módulo da força que atua sobre a unidade de carga em cada ponto do espaço.

Usando esta definição, um “campo de consciência” poderia ser teorizado como sendo uma grandeza de autopercepção relativa podendo chegar à completa autorreferência associado ao espaço mental do qual participam várias consciências em vários níveis, planos ou dimensões. Este campo teria uma intensidade, uma força de ação de consciência, podendo influenciar e ser influenciado por consciências de qualquer tipo e origem.

Baseando-nos no que dizem diversos especialistas em consciência, espiritualistas ou não, a consciência funciona em duas frentes ou campos:

a) Um campo pessoal ou individual de consciência, restrito ao corpo físico, mente, emoções e psique do próprio indivíduo;

b) Um campo coletivo de consciência, envolvendo a ação de vários campos pessoais em modo integrado, conectado e pareado, de modo que uns influenciam os demais. Este conceito é importante tanto em morfogenética de Sheldrake, quanto em mediunidade e canalização, quanto na terapia breve chamada “Constelação Familiar”, criada pelo alemão Bert Hellinger.

Um Universo de Consciências

Nesta nova percepção, entendemos o universo como sendo pleno de “consciências” de todos os tipos habitando planetas, dimensões e universos paralelos, cada tipo com suas especificidades, seus campos de influência e a maior parte destes tipos não sendo sequer compreendido minimamente por nós, por nem sabermos de sua existência e nem os podermos localizar no espaço multidimensional.

Então, quando canalizamos, é possível que estejamos a contatar vários tipos de consciências. Algumas podem, sim, ter habitado nosso planeta, recentemente ou há muito tempo. Podem ser consciências que um dia habitaram corpos de ancestrais nossos (os falecidos). Podem ser consciências elevadas (espíritos de luz). Podem ser consciências de outros planetas, de outros planos e de universos paralelos (os chamados “seres cósmicos” ou “consciências cósmicas”). Algumas podem nos beneficiar, outras serem neutras e outras até nos prejudicar, obsedar, como dizem os espíritas.

Outras podem ser formas-pensamentos geradas pelo médium/canalizador ou por pessoas que ele atende, e que se manifestam como se fossem “entidades”. Podem ser vibrações sentidas pelo médium/canalizador que ele interpreta como sendo “entidades”, mas que são apenas padrões energéticos captados a partir da aura de uma pessoa que é atendida ou de alguém presente. Pode ainda ser uma egrégora pertencente a um determinado grupo, sendo uma egrégora uma forma-pensamento coletiva que, no astral, adquire “vida” e pode existir por milhares de anos, se comportando ao ser sintonizada por um psíquico como se fosse uma “consciência/entidade/espírito”.

Quanto à possibilidade de uma “consciência” ser um insight nosso de elevado nível de consciência, isso tem a ver com a sintonização de nosso Eu Superior, um aspecto nosso que inclui uma mente transracional, um aspecto intuicional e um nível consciencial em que o conhecimento cósmico simplesmente brota sem ter sido aprendido. Neste caso, que é raro, mas acontece, o canalizador acessa seu próprio Eu Superior como se fosse uma “entidade”, atribui um nome a ela e transmite as mensagens. No final, é uma “consciência” no sentido que definimos até aqui, mas especificamente uma “consciência mais elevada” de si mesmo. Seu Eu num nível mais elevado, não racional, mas transracional (além do racional). Como saber qual destas opções se manifesta, depende de observar e estudar o caso específico. Devemos entender que o que se canaliza depende de dois fatores, um externo e um interno.

O fator externo tem a ver com a estrutura coletiva da prática mediúnica ou de canalização (sessão espírita kardecista, linha de Ramatís, Umbanda, apometria, cultos afro-brasileiros, etc.), que é a que determina a “roupagem” que as consciências sintonizadas vão adotar. Esta roupagem é uma limitação, sim, mas é algo útil para a manifestação psíquica e permite que a mensagem seja comunicada. Esta manifestação de roupagem muda com o tempo e não pode ser contida, pois a natureza do universo é evolutiva.

O fator interno tem a ver com a estrutura individual da prática mediúnica ou de canalização, o que significa dizer que é a forma interna real como acontece na ou através da mente do médium/canal antes do encaixe em qualquer “roupagem” externa. Esta é a parte que mais nos interessa, pois vai além das roupagens das religiões e doutrinas envolvidas nestes fenômenos.

Jackson Peterson, praticante e instrutor de Dozgchen dos EUA, num artigo postado no Stekelblogue (https://stekelblogue.blogspot.com/2019/07/a-visao-xamanica-da-possessao-e-do.html), intitulado “A Visão Xamânica da Possessão e do Exorcismo”, descreveu o que parece acontecer no caso das chamadas “possessões” (ou obsessões, como se trata em Espiritismo e Apometria – ver nota):

Quando essas entidades estão conectadas ao canal central em torno dos cinco órgãos sensoriais no chacra do cérebro e da coroa, pode-se ouvir seus pensamentos telepaticamente. Às vezes eles podem ser uma voz muito crítica na cabeça, uma oferenda de todos os tipos de comentários que causam distração ou comentários sexuais sobre pessoas vistas na vida. Eles também podem compartilhar imagens mentais de cenas ou cenários muito estranhos. O efeito é deixar o praticante se perguntando de onde vieram esses pensamentos ou imagens muito estranhos.

Pior de tudo, eles podem impor suas energias emocionais negativas e pensamentos correspondentes à sua consciência, de tal modo que não se pode diferenciar o sofrimento e pensamentos negativos deles dos seus. A identidade deles se funde com a sua temporariamente.

Uma boa maneira de ver se você tem alguma dessas entidades é se privar do sono por um longo período e perceber o que você vê quando vai dormir pela primeira vez. Você pode ver algumas imagens muito estranhas e pensamentos bizarros; isso é porque o campo de energia que separa a consciência deles da sua se desfaz, e as paredes de fogo que separam todas as entidades se dilui.”

A descrição lembra muito o que pessoas que padecem das chamadas “obsessões” relatam. Na verdade, são atacadas em seus campos individuais através do campo coletivo, que é um campo cármico, relacionado a um grupo de consciências próximas e sensíveis umas às outras – neste sentido, o campo familiar seria um campo coletivo desta natureza, mas um grupo qualquer de pessoas, formal ou não, unidas por afinidade também.

Nota – Apometria: Do grego apo ("além de") e metron ("medida") é um conjunto de práticas com objetivo de cura que afirma que o processo consiste numa projeção da consciência que permite o transporte de uma parte do corpo para o mundo astral, onde médicos desencarnados imateriais realizam o tratamento. A prática foi introduzida no Brasil pelo farmacêutico porto-riquenho Luiz Rodrigues, que a chamava de Hipnometria, e utilizava técnicas próprias para obter o suposto desdobramento anímico controlado. Na década de 1960, foi sistematizada pelo médico-cirurgião geral e ginecologista José Lacerda de Azevedo (1919-1997), no Hospital Espírita de Porto Alegre, que lhe renomeou apometria.

Consciência e Identidade

No referido artigo, Peterson diz que “a maioria dos seres humanos é mentalmente uma composição dessas entidades, todas em competição por serem a entidade ‘controladora’” e que é isso que torna nossas personalidades tão diversas e imprevisíveis”. Para ele: É também a fonte de nossos muitos impulsos de competição que tentam guiar nossas vidas em certas direções, mas muitas vezes conflitantes. Os pensamentos realmente maus, malignos ou suicidas pertencem a esses parasitas e parecem como se fossem seus até serem diferenciados.”

Aqui, Peterson declara a principal causa dos efeitos negativos das possessões, obsessões e influências de consciências invisíveis: a identificação com os pensamentos delas, o tomar seus pensamentos como se fossem os da própria pessoa. Isso cria um emaranhamento cognitivo terrível e uma confusão na consciência.

No campo original de consciência, também chamado de “campo indiferenciado de consciência”, existe consciência, existe percepção, mas não existem pensamentos linguísticos nem um “eu” de referência. Quando estas ondas de consciência atingem a parte cerebral ou o sistema de interpretação neural de alguém, a consciência se liga a um “eu” impermanente, temporário, e então ocorre a identificação. Se nos identificarmos com a consciência de outro ser, vai haver confusão e este estado é o que, comumente, se chama de possessão e obsessão.

Conforme Peterson: O problema é devido à proximidade deles; você se identificou com eles. Os pensamentos deles parecem tão seus, e você nem sequer questiona isso. Você não tem uma identidade ‘eu’, apenas eles têm. Através de simplesmente permanecer na não-meditação clara e desperta, a presença, os pensamentos, as imagens e estados emocionais deles se tornarão evidentes. Ao serem claramente reconhecidos como NÃO sendo você, eles se dissociam e geralmente vão embora ou se afastam junto com qualquer mente negativa ou estados emocionais. A mudança súbita e o alívio de uma mente negativa ou estado emocional é imediato e maravilhoso. Então você pode controlá-los por sua intenção. Eles são muito fracos e irão obedecer. Foi assim que Padmasambava ‘subjugou’ as divindades espirituais que estavam bloqueando sua exposição do Darma no Tibete.”

Neste caso, podemos lembrar até dos trechos do Novo Testamento em que Jesus comandava os demônios que possuíam as pessoas que ele curou. Sob uma voz de comando firme, tais seres deixavam de perturbar e se retiravam.

Nas obsessões, estas consciências de diversas naturezas se aproximam, marcam território e, com o tempo, ocorre um “emaranhamento” (como o emaranhamento ou entrelaçamento quântico) com a consciência da pessoa, de modo que, ora é ela mesma que fala, ora é a tal “consciência intrusa”, ora ambas, até o estado de completa insanidade.

Contudo, para encerrar, é bom esclarecer que nem tudo é obsessão. Há uma tendência em grupos espirituais em geral, não apenas de Apometria, de atribuir tudo a obsessões. Isto é uma irresponsabilidade e traz um risco enorme para pessoas que precisariam, sim, de tratamento mais específicos, incluindo os psiquiátricos, psicológicos e terapêuticos convencionais. Na verdade, tratamentos espirituais, sejam os proporcionados por passe espírita, umbandista, por apometria, canalização ou o que os valha, devem ser feitos complementarmente a tratamentos médicos, proporcionalmente à gravidade do quadro mental apresentado e conforme laudos médicos. Esta é uma forma responsável de fazer o trabalho.

Canalização de Campo

Nesta linha, uma prática muito útil é o que chamamos de “canalização de campo”, que é o escaneamento de saúde de uma pessoa feita por vários canalizadores ao mesmo tempo, não só acessando o campo individual do paciente quanto gerando um firme campo coletivo de canais em torno dela.

Isso permite uma observação das condições do paciente por várias consciências. Só é considerado válido para o diagnóstico o que é confirmado pela maioria dos canalizadores. Enquanto isso, o paciente vai confirmando o que os canais informam e, uma vez definido o seu quadro, ficará mais fácil determinar o modelo do tratamento espiritual a ser aplicado e a real necessidade de uma opinião médica, no caso do paciente ainda não ter tido qualquer busca pela medicina convencional.

É importante trabalhar nas duas frentes para o benefício geral do paciente. Não se pode admitir trabalhos espirituais que desdenhem os cuidados médicos convencionais, pois tal atitude põe em risco os pacientes, sendo uma contradição ao compromisso espiritual de promover a cura e a autocura nos indivíduos que sofrem de qualquer mal. O ideal é se ter acesso aos laudos médicos existentes, para evitar amadorismo, e no caso da pessoa ainda não ter procurado ajuda médica, incentivá-la a fazê-lo, para sua própria segurança.

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