quarta-feira, 11 de março de 2020

Ufologia: a viabilidade da hipótese interdimensional (sem as teorias da conspiração)

Por Paulo Stekel


O panorama caótico atual

A ufologia já completa seus 73 anos, se considerarmos que as primeiras pesquisas começaram em 1947, especialmente após o avistamento de Kenneth Arnold, no EUA. São atribuídos ao astrônomo e professor Joseph Allen Hynek (1910-1986) os métodos da ufologia, as classificações de objetos, de tripulantes e de “contatos imediatos” (expressão apresentada em seu livro The UFO experience: A scientific enquiry, de 1972).

Paralelamente a uma pesquisa de caráter científico da ufologia, centrada em casuística, estatística e ondas de avistamentos (algumas chegaram a ser previstas), há mais duas tendências que foram se desenvolvendo ao longo do tempo: uma vertente “mística” e uma vertente “conspiracional”.

A vertente “mística” parece ter relações com a hipótese interdimensional, segundo a qual os tripulantes dos UFOs viriam de outros planos ou dimensões e não de outros mundos físicos como o nosso. Aliando isso a ideias espiritualistas, a vertente mística se dividiu em um sem-número de crendices e ufolatrias.

A vertente “conspiracional” é das mais perigosas, pois é a menos relacionada à pesquisa e a informações verificáveis. Se limita a criar teorias absurdas e transformá-las em crenças, levando a fanatismos de todos os tipos.

Não vemos incompatibilidades entre a ufologia científica e a mística. A ufologia científica pode tanto usar a hipótese extraterrestre quanto a dimensional (que explicaremos adiante). A ufologia mística tende a adotar a hipótese interdimensional. Mas, a ufologia conspiracional é um emaranhado de mentiras e ideias loucas que não contribuem em nada para o avanço do entendimento sobre o fenômeno UFO.

Um dos objetivos deste artigo é afirmar que, sem as teorias da conspiração manchando o terreno, os resultados da pesquisa ufológica seriam bem mais promissores. Mas, infelizmente, a versão conspiracional agrada mais ao público e vende mais revistas de ufologia, como acontece no Brasil há décadas. Os grupos de pesquisa estão contaminados com estas ideias conspiracionais e as vigílias não têm a mesma seriedade do passado. Editores de revistas do tema preferem, inclusive, maquiar casos e forçar a barra com testemunhas para que as histórias fiquem mais fantásticas e vendam mais exemplares.

Este quadro já era caótico em 1996, quando nos retiramos do cenário público da ufologia, depois de participar de um congresso que, além de ter sido um circo de horrores, nos mostrou a tônica do que seria a ufologia a partir do ano 2000. Em 2003 ainda publicamos o livro “Projeto Aurora”, mas sem desejar notoriedade ou apresentações públicas.

Somente em fevereiro de 2017, quando fomos convidados pelo ufólogo Rafael Cury a participar do seu Congresso “Diálogo com o Universo”, em Curitiba, é que retornamos oficialmente à pesquisa ufológica. Com a palestra “Contatos Extrafísicos” já deixávamos clara nossa predileção pela hipótese interdimensional.

De lá para cá, temos recebido inúmeras fotos, vídeos e relatos de testemunhas que dizem ter avistado UFOS e/ou seus tripulantes, algumas das quais dizem tê-lo feito em sonhos ou em condições de realidade estranhas, numa espécie de “realidade paralela”, ou mesmo só percebendo os objetos em fotos digitais e não no momento dos fatos, o que reforça a hipótese interdimensional.

Contudo, em meio a tudo isso temos teorias da conspiração mesclando-se ao que as testemunhas dizem, o que dificulta muito a pesquisa, a confirmação dos fatos e a credibilidade das próprias testemunhas. Estas crescentes teorias conspiratórias têm diminuído a importância do relato das testemunhas em prol de ideias fanáticas predefinidas. Isso deve mudar.

As hipóteses

Várias são as hipóteses desenvolvidas ao longo destes 70 anos para explicar o fenômeno UFO. Duas de menor importância são a Hipótese do Zoológico (desenvolvida pelo astrônomo John A. Ball, em 1973, diz que os ETs tecnologicamente avançados já teriam encontrado a Terra; mas, apenas a observam remotamente, sem tentar interagir, como se fôssemos algum tipo de reserva biológica que não pode ser perturbada) e a Hipótese Psicossocial (teoriza que alguns avistamentos são alucinações, sugestões hipnóticas ou fantasias e distúrbios causados pelo mesmo mecanismo que muitas experiências ocultas, paranormais, sobrenaturais ou religiosas, e que o comportamento destas fantasias pode ser influenciado pelo ambiente em que a suposta testemunha foi criada: contos de fadas ou religião, ficção científica, etc). Mas, vamos nos deter nas duas mais importantes:


1 - Hipótese Extraterrestre

Extraterrestrial Hypothesis” (ETH, em Inglês), a Hipótese Extraterrestre (HET, em Português) teoriza que alguns avistamentos de UFOs são, de fato, espaçonaves alienígenas vindas de planetas físicos próximos ou distantes do sistema solar. Alguns até de bases instaladas em planetas do nosso sistema. É a hipótese mais conhecida e a preferida dos filmes de Hollywood.


2 - Hipótese interdimensional

Interdimensional Hypothesis” (IDH ou IH, em Inglês), a Hipótese Interdimensional (HID, em Português), teoriza que os UFOs e os fenômenos a eles associados, como abduções, procedem de outros Universos que compõem o Multiverso (um termo usado para descrever o conjunto hipotético de universos possíveis, incluindo o universo em que vivemos, e que juntos, compreendem tudo o que existe: a totalidade do espaço, do tempo, da matéria, da energia e das leis e constantes físicas que os descrevem – universos paralelos). De acordo com esta hipótese, o fenômeno UFO pode não se originar no nosso universo local conhecido, mas de um universo paralelo que coabita com o próprio planeta Terra, transcendendo tanto o tempo como o espaço.

Esta hipótese, desenvolvida entre as décadas de 1970 e 1980, estava na mente do famoso Joseph Allen Hynek no final de sua vida, mas tem sido ainda desenvolvida por seu antigo colega Jacques Vallée (1939- ), investidor, cientista da computação, escritor, ufólogo e ex-astrônomo francês que escreveu muitos livros sobre o tema, entre eles: Anatomy of a Phenomenon: Unidentified Objects in Space – a Scientific Appraisal (1965), Challenge to Science: The UFO Enigma – with Janine Vallée (1966), Passport to Magonia: From Folklore to Flying Saucers (1969), The Invisible College: What a Group of Scientists Has Discovered About UFO Influences on the Human Race (1975), The Edge of Reality: A Progress Report on Unidentified Flying Objects – Jacques Vallée and Dr. J. Allen Hynek (1975), Messengers of Deception: UFO Contacts and Cults (1979), Dimensions: A Casebook of Alien Contact (1988), Confrontations – A Scientist's Search for Alien Contact (1990), Wonders in the Sky: Unexplained Aerial Objects from Antiquity to Modern Times (2010) e a série em quatro volumes Forbidden Science (1992 a 2019).

A ideia principal de Vallée e de outros que adotam a Hipótese Interdimensional é a de que os avistamentos seriam manifestações modernas de antigos mitos ao longo da história, interpretados no passado como entidades mitológicas ou sobrenaturais (fadas, duendes, trolls, súcubos e íncubos). Estes seres interdimensionais interagem com os seres humanos através de símbolos para interação em nível psíquico, embora os fenômenos possam também se manifestar de modo físico.

Esta ideia de que os UFOs e eventos relacionados envolvem a visita de seres de outras realidades ou dimensões coexistentes com a nossa não é, necessariamente, uma alternativa à Hipótese Extraterrestre. Uma não exclui a outra. As duas hipóteses podem coexistir. Seres interdimensionais não excluem a existência de seres extraterrestres e vice-versa. A hipótese de um fenômeno parafísico-muldimensional apenas evidencia mais o caráter psíquico do mesmo ao longo da história e como ele pode ter influenciado o folclore e as religiões do mundo. E, continuaria influenciando ainda hoje, com os mitos modernos de “reptilianos”, “homens de preto”, “comandantes astrais”, “naves de consciência” e outras concepções novas.

Considerando as dificuldades da Hipótese Extraterrestre em explicar como viajantes conseguem transpor em máquinas distâncias interestelares (como resolvem a distância em anos-luz), a Interdimensional não precisa considerar os UFOs naves espaciais nem explicar nenhum tipo de propulsão, mas apenas considerá-los aparelhos que viajam entre realidades dimensionais diferentes. Ademais, alguns destes visitantes poderiam ser apenas um pouco mais avançados que nós, o que explicaria alguns dos avistamentos antigos em que sistemas de propulsão foram relatados.


Interação mental e viabilidades da Hipótese Interdimensional

O desenvolvimento completo da hipótese interdimensional se deve a Jacques Vallée (os primórdios da hipótese estão em seu livro “Passport to Magonia: From Folklore to Flying Saucers”, de 1969, e elaboração final, em seu livro “Dimensions: a UFOcase Alien Contact”, de 1988. A visão que o Espiritismo brasileiro tem do fenômeno se baseia muito na Hipótese Interdimensional. Nós mesmos participamos de grupos espíritas de contatos mediúnicos entre 1984 e 1996 e sabemos o que dizemos. Havia muita fraude, obviamente, mas as ideias eram pintadas com as noções de Vallée em seus livros.

A partir da década de 1990, as ideias interdimensionais influenciaram outros grupos de contatos mais à margem do Espiritismo, flertando com a teosofia, o ocultismo, o espiritualismo universalista e um pouco de teorias da conspiração. Isso bagunçou o meio de campo e favoreceu o surgimento de contatados-guias, aqueles que se diziam porta-vozes dos “comandantes das naves”, mas que extrapolavam o conteúdo das mensagens e chegavam até a colocar na boca dos “comandantes” com quem fulano ou beltrano deveria se casar. Isso depõe contra a seriedade de qualquer trabalho!

Mas, fora destas sandices, trabalhos sérios podem ser realizados. Segundo alguns, os UFOs viriam de uma suposta 5a. Dimensão ou outra realidade dimensional bem próxima a nós, e seus habitantes teriam a habilidade para cruzar de lá para cá e vice-versa de um modo que não entendemos. Outros invocam a teoria do universo holográfico multidimensional e não-linear para explicar como eles fazem isso.

Para Vallée (em “Dimensions: A Casebook of Alien Contact”): uma inteligência alienígena pode se disfarçar como um invasor marciano, um deus primitivo, a Santíssima Virgem ou uma frota de aeronaves. Não sãos manifestações de uma espaçonave comum, no sentido de porcas e parafusos, mas manifestações físicas que simplesmente não podem ser entendidas para além da sua realidade psíquica e simbólica. fenômeno seria uma das maneiras através das quais uma forma de inteligência estranha e de complexidade incrível está se comunicando conosco simbolicamente. Não há nenhuma indicação de que é extraterrestre. Em vez disso, há evidências de que ela tem acesso a processos psíquicos que ainda não dominamos ou mesmo pesquisamos.

Em “The Edge of Reality: a progress report on unidentified flying objects”, escrito junto com Vallée, abordando a hipótese interdimensional, Hynek escreve:

Uma das diferenças é que os UFOs parecem estar sob algum tipo de controle inteligente, e os fenômenos naturais não estão sob controle inteligente (...) eles aparentemente exibem o que seria chamado teatro (...) humanoides (...) se assemelham amplamente a versões do Pequeno Povo (...) chamados Elementais na literatura ocultista (...) salamandras, ondinas, sílfides (...) o que me deixa inquieto sobre (...) o papel insano da coisa, o papel absurdo - é um outro mundo, outro reino que parece ter algum entrelaçamento com o nosso e o que estamos descrevendo aqui é apenas esse entrelaçamento (…).”

A oposição de Vallée à hipótese extraterrestre aparece no artigo intitulado Five Arguments Against the Extraterrestrial Origin of Unidentified Flying Objects” (Journal of Scientific Exploration, 1990 – confira: https://web.archive.org/web/20160303233102/http://www.jacquesvallee.net/bookdocs/arguments.pdf). Em suma, Vallée diz:

A opinião científica geralmente tem seguido a opinião pública na crença de que objetos voadores não identificados ou não existem (a ‘hipótese dos fenômenos naturais’) ou, se existirem, devem representar evidência de uma visita de alguma raça avançada de viajantes espaciais (a hipótese extraterrestre ou ‘HET’). É da opinião do autor que a pesquisa sobre UFOs não precisa se restringir a essas duas alternativas. Pelo contrário, o banco de dados acumulado exibe vários padrões tendendo a indicar que os UFOs são reais, representam um fenômeno não reconhecido anteriormente e que os fatos não apoiam o conceito comum de ‘visitantes do espaço’. Cinco argumentos específicos aqui articulados contradizem a HET:

Frequência de Contatos Imediatos: contatos imediatos inexplicáveis são muito mais numerosos do que o necessário para qualquer levantamento físico da Terra;
Fisiologia: a estrutura corporal humanoide dos supostos ‘alienígenas’ provavelmente não se originou em outro planeta e não é biologicamente adaptada às viagens espaciais;
Relatos de abdução: o comportamento relatado em milhares de relatórios de abdução contradiz a hipótese de experimentação genética ou científica em humanos por uma raça avançada;
História: a extensão do fenômeno ao longo da história humana registrada demonstra que os OVNIs não são um fenômeno contemporâneo; e
Considerações físicas: a aparente capacidade dos UFOs de manipular o espaço e o tempo sugere alternativas radicalmente diferentes e mais ricas.”

A hipótese extraterrestre deixa de responder, por exemplo, ao motivo pelos quais civilizações de outros mundos nos visitam com tanta frequência, sem um contato definitivo com toda a humanidade. Se quisessem uma invasão, já a teriam feito. A hipótese interdimensional explica a frequência de avistamentos e contato com ufonautas, que seriam habitantes logo ali “do outro lado”, o outro lado dimensional. Os relatos demonstram que os ufonautas têm livre curso em nosso mundo e parecem bem adaptados a ele, conforme a casuística. São visitantes antigos, com certeza. Não parecem fazer viagens espaciais longas para chegar aqui. Ou usam buracos de minhoca ou outros meios interdimensionais.

No caso das abduções, a maior parte dos experimentos relatados são estranhos, quase “mengelianos”, e não parecem corresponder aos de uma civilização superavançada. Ou há muita fantasia nos relatos das testemunhas, fantasia provocada pelo medo, ou alguns ufonautas pertencem a grupos não tão avançados assim, vindos de um “logo ali” interdimensional. Os chipes e implantes relatados nas abduções também são algo estranho. Podem ter alguma realidade, mas a coisa saiu do controle e há agora uma paranoia de implantes não apenas físicos, mas astrais, mentais e espirituais, crendice promovida por ufólatras ignorantes que não sabem mais a diferença entre os ufonautas e “espíritos obsessores”. Se experimentos são realizados no interior dos UFOs, podem ser de diversas naturezas, por várias motivações e de modos que não conseguimos entender.

Estes seres parecem, realmente, estar entre nós desde a pré-história. Poderiam ter influenciado o desenvolvimento do homem, como sugere o filme “2001: uma odisseia no espaço”? Talvez. Mas, neste caso, como esclarece Vallée em seus livros, foram interpretados conforme a mente humana de cada época e lugar. Como anjos, demônios, fadas, duendes, etc. Hoje em dia, como Ets, espíritos, mestres, entidades de vários níveis espirituais, enfim, os “deuses” modernos. A capacidade que estes seres possuem de interferir na mente humana já foi bastante notificado nos relatos. Temos pesquisado esta característica atualmente com diversas testemunhas que nos procuram para uma análise de fotos e vídeos. As crenças anteriores das testemunhas mascaram muito do que acontece e, na nossa opinião, mais dificultam que ajudam na elucidação dos fatos.

Incluiríamos um sexto argumento aos de Vallée, para validar a hipótese interdimensional:

Interação mental: a aparente capacidade dos ufonautas de interagir com e de interferir na mente humana antes durante e/ou depois de um contato ou de contatos sequenciais, seja através de sonhos, percepções estranhas, intuições, sincronicidades (de palavras, números ou pensamentos) ou efeitos físicos de natureza PSI.

A consequência desta interação é muito variada, mas, em geral, causa nas testemunhas, os “contatados”, mudanças de personalidade, de interesses, de visão de mundo e de propósito de vida, algo bastante pesquisado pelo ufólogo norte-americano Dr. Leo Sprinkle (1930 - ), que já teve encontros com UFOs por duas vezes. Ele mesmo se identificou como um contatado. Concluiu que a atividade UFO faz parte de um programa maior que ele denominou “condicionamento da consciência cósmica”. As entidades dos UFOs, quer se pense nelas como sendo do espaço sideral ou de outra dimensão, estão tentando levar a humanidade a entender-se como “cidadãos cósmicos”.

Pensando desta forma, talvez a viabilidade da hipótese interdimensional (HID) dependa de uma relação com a hipótese extraterrestre (HET) para a criação de uma hipótese mista, uma “hipótese extradimensional” (HED), significando que os ufonautas podem provir tanto de outros mundos físicos deste universo quanto de dimensões do multiverso. Algumas destas dimensões seriam muito sutis e estes seres em nada se diferenciariam dos nossos “espíritos” e “entidades” comuns nas práticas mediúnicas e de canalização. Assim como para Sprinkle, para mim, estes seres seriam como nossos “mentores” desde muito tempo, interferindo de modo coordenado e sutil, objetivando nosso desenvolvimento de consciência, não necessariamente nosso desenvolvimento tecnológico, que deve ser uma consequência.


O problema das teorias conspiratórias

As teorias ufológicas de conspiração afirmam que vários governos, e os políticos em escala global, estão suprimindo evidências de objetos voadores extraterrestres e de seus tripulantes alienígenas por vários motivos, sendo um deles, evitar o pânico entre a população e o caos nas instituições (políticas, religiosas e sociais em geral). Também que o governo dos EUA estaria em comunicação e cooperação com extraterrestres, permitindo a alguns grupos a prática da abdução. Ainda, UFOs nazistas, Majestic 12, reptilianos, Ets em forma de gato (sim!!!) e toda sorte de absurdos que ajudam a vender revistas ufológicas sensacionalistas (aqui no Brasil também!), mas que pouco contribuem para a elucidação do fenômeno. A dificuldade em separar o joio do trigo nestas questões é a grande quantidade de informação controversa, contraditória e fantástica, negacionismo e “histórias” que mais parecem um roteiro de Star Wars que algo plausível. Ainda que astronautas, como Gordon Cooper e Edgar Mitchell, acreditem em algumas “conspirações”, a maioria dos conspiracionistas não se diferencia muito daqueles que, mais recentemente, acreditam em terra plana.

Ficamos decepcionados em ver que poucos contra-argumentam quanto ao equívoco da propaganda de um possível pânico no caso de uma confirmação da existência dos UFOs e ufonautas, e a ideias maniqueístas sobre a existência de Ets “bons x maus”. Este pânico não é uma certeza hoje em dia. Também, dividir os ufonautas em “raças Ets” boas ou más é um maniqueísmo inadequado, e apenas baseado em nossa visão fragmentada e imprecisa de bem e mal. Estes seres, sejam Ets ou interdimensionais, devem ter outra visão de bem e mal, se é que a possuem. Este é, afinal, o grande problema das teorias ufológicas de conspiração: todo o fenômeno UFO é encarado sob o ponto de vista exclusivo de nosso maniqueísmo, nossa moral teísta judaico-cristã e materialismo enrustido. Além disso, a cada ano, as teorias sofrem modificações, atualizações, mesclagens, resultando uma sopa cada vez mais insossa. 


Ufologia e Espiritualidade

Na era da Internet, somos bombardeados o tempo todo com e-mails e postagens nas redes sociais espalhando muitas teorias da conspiração. Não temos como nos proteger delas. São piores que vírus de computador. Se espalham, vão, voltam, se modificam, tomam novos formatos e estão sempre ali a nos atormentar. A maioria das pessoas não é pesquisadora técnica do assunto, de modo que suas crenças emocionais falam mais alto que a busca pela verdade. Assim, muitas tomam por certeza o que é meramente especulativo e ainda criticam os ufólogos sérios por ainda estarem pesquisando o fenômeno. Para estas pessoas, a ufologia se transformou numa religião. A única forma de testar a hipótese interdimensional (HID) ou mesmo a versão extradimensional (HED) é fora destes grupos.

O ideal é a criação de grupos experimentais, onde conhecimentos de ciência, paraciência e espiritualidade não-religiosa (sem os dogmas da religião) sejam colocados em paralelo. Como uma alternativa aos grupos ufológicos de tendência espírita (um viés religioso), criamos alguns grupos com este propósito espiritual (mas, não-religioso) entre 1992 e 1996 (não existem mais), e cremos que o falecido ufólogo e contatado, o General Moacyr Uchôa (1906 – 1996), autor de livros clássicos como “A parapsicologia e os discos voadores – O caso Alexânia” (Editora Grupo de Expansão Cultural, 1973), “Mergulho no hiperespaço – Dimensões esotéricas na pesquisa dos discos voadores” (Editora Horizonte, 1981) e “Muito além do espaço e do tempo” (Editora Thesaurus, 1983), que gostava muito do espiritismo científico e flertava com a teosofia, tinha uma visão parecida em seus grupos de estudo, tanto que é considerado o fundador de uma “ufologia integral”. Para ele, a Ufologia Clássica vê apenas a materialidade dos UFOs, mas é necessário aceitar que o fenômeno tem muitos níveis de manifestação, incluindo o espiritual. Uchôa considerava o universo como sendo composto por inúmeras dimensões, e que certos tripulantes de UFOs que nos visitam poderiam vir de “áreas inacessíveis” para a nossa compreensão. Então, suas ideias eram uma mescla das hipóteses extraterrestre e interdimensional.

Na verdade, Uchôa chamava à sua pesquisa que aceitava a espiritualidade de “Ufologia ou pesquisa de nível avançado”. Procurava manter um caráter científico nos métodos, mas se utilizava de teorias mais amplas, advindas da física moderna, da cosmologia, da parapsicologia e da espiritualidade universal. Foi um trabalho que, desde seu falecimento, não teve uma continuidade séria à altura, pois o “movimento ufológico” foi tomado pelos conspiracionistas, para quem não há o que pesquisar, pois acham que já possuem todas as respostas, tendo que tão somente vociferar aqui e ali suas “verdades insanas”.

Uchôa utilizava médiuns em sua pesquisa, mas os considerava mais sensitivos que médiuns, pois, segundo ele, eram pessoas com capacidades especiais de percepção que se integravam a outros níveis de realidade e, não necessariamente, “incorporavam” ou serviam de intermediários para alguma coisa. Considerando a quantidade de informação paranormal envolvida nos relatos de contatados, achamos pertinente o uso de pessoas sensitivas em determinadas pesquisas. Contudo, tudo deve ser levado à verificação. Uchôa era um destes pesquisadores ousados, mas sensatos. Não acreditava, por exemplo, na teoria conspiratória do arrebatamento ou resgate mundial por discos voadores, uma teoria comum antes de 2012 e, mais intensamente ainda, antes do ano 2000. Para ele, os ufonautas não retirariam de nós a responsabilidade por nossos atos e nem são elitistas, “salvando” uma quantidade simbólica (os 144 mil da Bíblia!) de seres humanos. Felizmente, esta teoria tem perdido a força desde os últimos fins do mundo anunciados (e fracassados).


Rumos futuros: pesquisa séria ou ufolatria

A pesquisa ufológica pode ser científica ou espiritual. As hipóteses para a origem dos UFOs e seus tripulantes por ser a HET (extraterrestre), HID (interdimensional) ou a mescla HED (extradimensional). Mas, em qualquer caso, se for tomada por teorias da conspiração, deixa de ser uma pesquisa séria e passa a ser ufolatria ou, no mínimo, uma preocupante dissonância cognitiva.

Nós, particularmente, tendemos a gostar das hipóteses HID e HED, pois abrem espaço para outras dimensões, para aspectos da mente que desconhecemos e para um universo pleno de vida, considerando vida a conexão com a consciência (em qualquer grau) e não com a matéria física como a conhecemos. Sim, os ufonautas são seres vivos, embora isso não signifique que possuem corpos como os nossos, baseados em carbono. Podem tanto ser de outros mundos, como de outros planos, e atingiram, mais que uma alta tecnologia, um alto grau de consciência, o que explica as capacidades telepáticas e paranormais observadas pelos contatados. Também parecem poder ampliar as capacidades PSI dos próprios contatados, o que é muito promissor. Enfim, isso pode significar que Leo Sprinkle tem razão, e o objetivo destes seres é que nos tornemos verdadeiros “cidadãos cósmicos”.

Devemos dar mais importância ao que estes seres têm a nos ensinar, mais do que tentar compreender o que dizem pelo viés de nossas visões científicas, religiosas ou espirituais vigentes. O elemento desconhecido não pode ser escondido sob o tapete de nossa ignorância.

A ufologia deste milênio deve ser integral, científica e espiritual, não científica-materialista e, muito menos, conspiracionista. Caso contrário, estaremos longe das respostas corretas. É nesta linha que temos desenvolvido pesquisas atualmente.


Sobre o autor

(Paulo Stekel - foto de Wolney Garcia)

Paulo Stekel é ufólogo, instrutor de Meditação Não-dualista, orientador do Projeto Mahasandhi de Meditação Livre Não-Religiosa, pesquisador de Religiões e Espiritualidades, praticante budista desde 1995 (seu nome budista vajrayana é Pema Dorje), membro do NEDEC²- Núcleo de Estudos e Desenvolvimentos em Conhecimento e Consciência (UFSC – Florianópolis – SC). Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Paleolinguística. É escritor, tradutor, revisor, músico, com vários álbuns lançados desde 2009. É um pesquisador não-acadêmico, professor de Cabala Não-dualista, Sânscrito e línguas sagradas. Especialista na interpretação dos textos sagrados das religiões. Nasceu e cresceu em Santa Maria (RS). Atualmente reside em Florianópolis (SC). Proponente da Hierolinguística (uma nova ciência para o estudo das linguagens sagradas proposta em seu livro “Santo & Profano - estudo etimológico das línguas sagradas”, publicado em 2006). Publicou diversas obras: “Elohê Israel (Os deuses de Israel) - filosofia esotérica na Bíblia” (Independente, 2001); “Projeto Aurora - retorno à linguagem da consciência” (FEEU, 2003); “Santo e Profano - estudo etimológico das línguas sagradas” (GEFO, 2006); “Deuses & Demônios - verdades inauditas e mentiras anunciadas sobre os anjos” (Independente, 2007); “Curso de Cabala - com noções de Hebraico & Aramaico [vol. I e II]” (Independente, 2007 e 2008); “Curso de Sânscrito - com noções de Filosofia Indiana [vol. I e II]” (Independente, 2008 e 2009); “A Alma da Palavra” (independente, 2011). Pesquisador aceito como paleolinguista de formação livre na pesquisa de decifração da escrita Glozélica (França), com trabalho científico reconhecido e publicado em Inglês no website do Museu de Glozel (http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm) desde 2006. Pesquisador aceito como paleolinguista de formação livre pelo arqueólogo bósnio-americano Semir Osmanagic na pesquisa de decifração da escrita Proto-Visoko (Bósnia), com trabalho de decifração preliminar apresentado em Sarajevo pelo egiptologista Muris Osmanagic (2010) e publicado no website Bosnian Pyramids, em Inglês e Bósnio: http://icbp.ba/2008/documents/papers/ICBP_Referat_Stekel.pdf.



2 comentários:

  1. É difícil separar o joio do trigo nessas teorias da conspiração, saber o que é informação verídica e o que não é, além daqueles programas da History Channel, que confundem ainda mais. Andava ouvindo Bill Cooper, um locutor de rádio que se dizia ex-funcionário dos órgãos do governo americano e que havia sido assassinado por policiais, ele também teria previsto o 11/9. Mas hoje em dia tomo cuidado com essas referências, para não cair nessas ilusões conspiracionistas. Que há uma ordem mundial, eu acredito, mas não da forma que é pintada por essas teorias.
    Obrigado pelo texto bem embasado e as referências, bem como o não-dogmatismo.

    Abraços,
    Amanda.

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    1. Grato por seu comentário, Amanda. É muito importante checar as informações. Se acreditamos no fenômeno, devemos amar a verdade. Teorias da conspiração não contribuem para a elucidação do fenômeno. Abraço!

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