Por Paulo Stekel
O panorama
caótico atual
A ufologia já
completa seus 73 anos, se considerarmos que as primeiras pesquisas
começaram em 1947, especialmente após o avistamento de Kenneth
Arnold, no EUA. São atribuídos ao astrônomo e professor Joseph
Allen Hynek (1910-1986) os métodos da ufologia, as classificações
de objetos, de tripulantes e de “contatos imediatos” (expressão
apresentada em seu livro The UFO experience: A scientific enquiry,
de 1972).
Paralelamente a uma
pesquisa de caráter científico da ufologia, centrada em casuística,
estatística e ondas de avistamentos (algumas chegaram a ser
previstas), há mais duas tendências que foram se desenvolvendo ao
longo do tempo: uma vertente “mística” e uma vertente
“conspiracional”.
A vertente “mística”
parece ter relações com a hipótese interdimensional, segundo a
qual os tripulantes dos UFOs viriam de outros planos ou dimensões e
não de outros mundos físicos como o nosso. Aliando isso a ideias
espiritualistas, a vertente mística se dividiu em um sem-número de
crendices e ufolatrias.
A vertente
“conspiracional” é das mais perigosas, pois é a menos
relacionada à pesquisa e a informações verificáveis. Se limita a
criar teorias absurdas e transformá-las em crenças, levando a
fanatismos de todos os tipos.
Não vemos
incompatibilidades entre a ufologia científica e a mística. A
ufologia científica pode tanto usar a hipótese extraterrestre
quanto a dimensional (que explicaremos adiante). A ufologia mística
tende a adotar a hipótese interdimensional. Mas, a ufologia
conspiracional é um emaranhado de mentiras e ideias loucas que não
contribuem em nada para o avanço do entendimento sobre o fenômeno
UFO.
Um dos objetivos
deste artigo é afirmar que, sem as teorias da conspiração
manchando o terreno, os resultados da pesquisa ufológica seriam bem
mais promissores. Mas, infelizmente, a versão conspiracional agrada
mais ao público e vende mais revistas de ufologia, como acontece no
Brasil há décadas. Os grupos de pesquisa estão contaminados com
estas ideias conspiracionais e as vigílias não têm a mesma
seriedade do passado. Editores de revistas do tema preferem,
inclusive, maquiar casos e forçar a barra com testemunhas para que
as histórias fiquem mais fantásticas e vendam mais exemplares.
Este quadro já era
caótico em 1996, quando nos retiramos do cenário público da
ufologia, depois de participar de um congresso que, além de ter sido
um circo de horrores, nos mostrou a tônica do que seria a ufologia a
partir do ano 2000. Em 2003 ainda publicamos o livro “Projeto
Aurora”, mas sem desejar notoriedade ou apresentações públicas.
Somente em fevereiro
de 2017, quando fomos convidados pelo ufólogo Rafael Cury a
participar do seu Congresso “Diálogo com o Universo”, em
Curitiba, é que retornamos oficialmente à pesquisa ufológica. Com
a palestra “Contatos Extrafísicos” já deixávamos clara nossa
predileção pela hipótese interdimensional.
De lá para cá,
temos recebido inúmeras fotos, vídeos e relatos de testemunhas que
dizem ter avistado UFOS e/ou seus tripulantes, algumas das quais
dizem tê-lo feito em sonhos ou em condições de realidade
estranhas, numa espécie de “realidade paralela”, ou mesmo só
percebendo os objetos em fotos digitais e não no momento dos fatos,
o que reforça a hipótese interdimensional.
Contudo, em meio a
tudo isso temos teorias da conspiração mesclando-se ao que as
testemunhas dizem, o que dificulta muito a pesquisa, a confirmação
dos fatos e a credibilidade das próprias testemunhas. Estas
crescentes teorias conspiratórias têm diminuído a importância do
relato das testemunhas em prol de ideias fanáticas predefinidas.
Isso deve mudar.
As hipóteses
Várias são as
hipóteses desenvolvidas ao longo destes 70 anos para explicar o
fenômeno UFO. Duas de menor importância são a Hipótese do
Zoológico (desenvolvida pelo astrônomo John A. Ball, em 1973,
diz que os ETs tecnologicamente avançados já teriam encontrado a
Terra; mas, apenas a observam remotamente, sem tentar interagir, como
se fôssemos algum tipo de reserva biológica que não pode ser
perturbada) e a Hipótese Psicossocial (teoriza que alguns
avistamentos são alucinações, sugestões hipnóticas ou fantasias
e distúrbios causados pelo mesmo mecanismo que muitas experiências
ocultas, paranormais, sobrenaturais ou religiosas, e que o
comportamento destas fantasias pode ser influenciado pelo ambiente em
que a suposta testemunha foi criada: contos de fadas ou religião,
ficção científica, etc). Mas, vamos nos deter nas duas mais
importantes:
1 - Hipótese
Extraterrestre
“Extraterrestrial
Hypothesis” (ETH, em Inglês), a Hipótese Extraterrestre (HET,
em Português) teoriza que alguns avistamentos de UFOs são, de fato,
espaçonaves alienígenas vindas de planetas físicos próximos ou
distantes do sistema solar. Alguns até de bases instaladas em
planetas do nosso sistema. É a hipótese mais conhecida e a
preferida dos filmes de Hollywood.
2 - Hipótese
interdimensional
“Interdimensional
Hypothesis” (IDH ou IH, em Inglês), a Hipótese
Interdimensional (HID, em Português), teoriza que os UFOs e os
fenômenos a eles associados, como abduções, procedem de outros
Universos que compõem o Multiverso (um termo usado para
descrever o conjunto hipotético de universos possíveis, incluindo o
universo em que vivemos, e que juntos, compreendem tudo o que existe:
a totalidade do espaço, do tempo, da matéria, da energia e das leis
e constantes físicas que os descrevem – universos paralelos). De
acordo com esta hipótese, o fenômeno UFO pode não se originar no
nosso universo local conhecido, mas de um universo paralelo que
coabita com o próprio planeta Terra, transcendendo tanto o tempo
como o espaço.
Esta hipótese,
desenvolvida entre as décadas de 1970 e 1980, estava na mente do
famoso Joseph Allen Hynek no final de sua vida, mas tem
sido ainda desenvolvida por seu antigo colega Jacques Vallée
(1939- ), investidor, cientista da computação, escritor,
ufólogo e ex-astrônomo francês que escreveu muitos livros sobre o
tema, entre eles: Anatomy of a Phenomenon: Unidentified Objects in
Space – a Scientific Appraisal (1965), Challenge to Science:
The UFO Enigma – with Janine Vallée (1966), Passport to
Magonia: From Folklore to Flying Saucers (1969), The Invisible
College: What a Group of Scientists Has Discovered About UFO
Influences on the Human Race (1975), The Edge of Reality: A
Progress Report on Unidentified Flying Objects – Jacques Vallée
and Dr. J. Allen Hynek (1975), Messengers of Deception: UFO
Contacts and Cults (1979), Dimensions: A Casebook of Alien
Contact (1988), Confrontations – A Scientist's Search for
Alien Contact (1990), Wonders in the Sky: Unexplained Aerial
Objects from Antiquity to Modern Times (2010) e a série em
quatro volumes Forbidden Science (1992 a 2019).
A ideia principal de
Vallée e de outros que adotam a Hipótese Interdimensional é a de
que os avistamentos seriam manifestações modernas de antigos mitos
ao longo da história, interpretados no passado como entidades
mitológicas ou sobrenaturais (fadas, duendes, trolls, súcubos e
íncubos). Estes seres interdimensionais interagem com os seres
humanos através de símbolos para interação em nível psíquico,
embora os fenômenos possam também se manifestar de modo físico.
Esta ideia de que os
UFOs e eventos relacionados envolvem a visita de seres de outras
realidades ou dimensões coexistentes com a nossa não é,
necessariamente, uma alternativa à Hipótese Extraterrestre. Uma não
exclui a outra. As duas hipóteses podem coexistir. Seres
interdimensionais não excluem a existência de seres extraterrestres
e vice-versa. A hipótese de um fenômeno parafísico-muldimensional
apenas evidencia mais o caráter psíquico do mesmo ao longo da
história e como ele pode ter influenciado o folclore e as religiões
do mundo. E, continuaria influenciando ainda hoje, com os mitos
modernos de “reptilianos”, “homens de preto”, “comandantes
astrais”, “naves de consciência” e outras concepções novas.
Considerando as
dificuldades da Hipótese Extraterrestre em explicar como viajantes
conseguem transpor em máquinas distâncias interestelares (como
resolvem a distância em anos-luz), a Interdimensional não precisa
considerar os UFOs naves espaciais nem explicar nenhum tipo de
propulsão, mas apenas considerá-los aparelhos que viajam entre
realidades dimensionais diferentes. Ademais, alguns destes visitantes
poderiam ser apenas um pouco mais avançados que nós, o que
explicaria alguns dos avistamentos antigos em que sistemas de
propulsão foram relatados.
Interação
mental e viabilidades da Hipótese Interdimensional
O desenvolvimento
completo da hipótese interdimensional se deve a Jacques Vallée (os
primórdios da hipótese estão em seu livro “Passport to
Magonia: From Folklore to Flying Saucers”, de 1969, e
elaboração final, em seu livro “Dimensions: a UFOcase Alien
Contact”, de 1988. A visão que o Espiritismo brasileiro tem do
fenômeno se baseia muito na Hipótese Interdimensional. Nós mesmos
participamos de grupos espíritas de contatos mediúnicos entre 1984
e 1996 e sabemos o que dizemos. Havia muita fraude, obviamente, mas
as ideias eram pintadas com as noções de Vallée em seus livros.
A partir da década
de 1990, as ideias interdimensionais influenciaram outros grupos de
contatos mais à margem do Espiritismo, flertando com a teosofia, o
ocultismo, o espiritualismo universalista e um pouco de teorias da
conspiração. Isso bagunçou o meio de campo e favoreceu o
surgimento de contatados-guias, aqueles que se diziam porta-vozes dos
“comandantes das naves”, mas que extrapolavam o conteúdo das
mensagens e chegavam até a colocar na boca dos “comandantes” com
quem fulano ou beltrano deveria se casar. Isso depõe contra a
seriedade de qualquer trabalho!
Mas, fora destas
sandices, trabalhos sérios podem ser realizados. Segundo alguns, os
UFOs viriam de uma suposta 5a. Dimensão ou outra
realidade dimensional bem próxima a nós, e seus habitantes teriam a
habilidade para cruzar de lá para cá e vice-versa de um modo que
não entendemos. Outros invocam a teoria do universo holográfico
multidimensional e não-linear para explicar como eles fazem isso.
Para Vallée (em
“Dimensions: A Casebook of Alien Contact”): uma
inteligência alienígena pode se disfarçar como um invasor
marciano, um deus primitivo, a Santíssima Virgem ou uma frota de
aeronaves. Não sãos manifestações de uma espaçonave comum, no
sentido de porcas e parafusos, mas manifestações físicas que
simplesmente não podem ser entendidas para além da sua realidade
psíquica e simbólica. fenômeno seria uma das maneiras através
das quais uma forma de inteligência estranha e de complexidade
incrível está se comunicando conosco simbolicamente. Não há
nenhuma indicação de que é extraterrestre. Em vez disso, há
evidências de que ela tem acesso a processos psíquicos que ainda
não dominamos ou mesmo pesquisamos.
Em “The Edge of
Reality: a progress report on unidentified flying objects”, escrito
junto com Vallée, abordando a hipótese interdimensional, Hynek
escreve:
“Uma das
diferenças é que os UFOs parecem estar sob algum tipo de controle
inteligente, e os fenômenos naturais não estão sob controle
inteligente (...) eles aparentemente exibem o que seria chamado
teatro (...) humanoides (...) se assemelham amplamente a versões do
Pequeno Povo (...) chamados Elementais na literatura ocultista (...)
salamandras, ondinas, sílfides (...) o que me deixa inquieto sobre
(...) o papel insano da coisa, o papel absurdo - é um outro mundo,
outro reino que parece ter algum entrelaçamento com o nosso e o que
estamos descrevendo aqui é apenas esse entrelaçamento (…).”
A oposição de
Vallée à hipótese extraterrestre aparece no artigo intitulado
“Five Arguments Against the Extraterrestrial Origin of
Unidentified Flying Objects” (Journal of Scientific
Exploration, 1990 – confira:
https://web.archive.org/web/20160303233102/http://www.jacquesvallee.net/bookdocs/arguments.pdf).
Em suma, Vallée diz:
“A
opinião científica geralmente tem
seguido a opinião pública na
crença de que objetos voadores não identificados ou não existem (a
‘hipótese dos fenômenos naturais’) ou, se existirem, devem
representar evidência de uma visita de alguma raça avançada de
viajantes espaciais (a hipótese extraterrestre ou ‘HET’).
É da opinião do autor que a pesquisa sobre UFOs
não precisa se restringir a essas duas alternativas. Pelo contrário,
o banco de dados acumulado exibe vários padrões tendendo a indicar
que os UFOs
são reais, representam um fenômeno não reconhecido anteriormente e
que os fatos não apoiam
o conceito comum de ‘visitantes do espaço’. Cinco argumentos
específicos aqui articulados contradizem a
HET:
Frequência de
Contatos Imediatos: contatos imediatos
inexplicáveis são muito mais numerosos do que o necessário para
qualquer levantamento físico da Terra;
Fisiologia:
a estrutura corporal humanoide
dos supostos ‘alienígenas’ provavelmente não se originou em
outro planeta e não é biologicamente adaptada às viagens
espaciais;
Relatos de
abdução: o comportamento relatado em
milhares de relatórios de abdução
contradiz a hipótese de experimentação genética ou científica em
humanos por uma raça avançada;
História: a
extensão do fenômeno ao longo da história humana registrada
demonstra que os OVNIs não são um fenômeno contemporâneo;
e
Considerações
físicas: a aparente capacidade
dos UFOs
de manipular o espaço e o tempo sugere alternativas radicalmente
diferentes e mais ricas.”
A hipótese
extraterrestre deixa de responder, por exemplo, ao motivo pelos quais
civilizações de outros mundos nos visitam com tanta frequência,
sem um contato definitivo com toda a humanidade. Se quisessem uma
invasão, já a teriam feito. A hipótese interdimensional explica a
frequência de avistamentos e contato com ufonautas, que seriam
habitantes logo ali “do outro lado”, o outro lado dimensional. Os
relatos demonstram que os ufonautas têm livre curso em nosso mundo e
parecem bem adaptados a ele, conforme a casuística. São visitantes
antigos, com certeza. Não parecem fazer viagens espaciais longas
para chegar aqui. Ou usam buracos de minhoca ou outros meios
interdimensionais.
No caso das
abduções, a maior parte dos experimentos relatados são estranhos,
quase “mengelianos”, e não parecem corresponder aos de uma
civilização superavançada. Ou há muita fantasia nos relatos das
testemunhas, fantasia provocada pelo medo, ou alguns ufonautas
pertencem a grupos não tão avançados assim, vindos de um “logo
ali” interdimensional. Os chipes e implantes relatados nas abduções
também são algo estranho. Podem ter alguma realidade, mas a coisa
saiu do controle e há agora uma paranoia de implantes não apenas
físicos, mas astrais, mentais e espirituais, crendice promovida por
ufólatras ignorantes que não sabem mais a diferença entre os
ufonautas e “espíritos obsessores”. Se experimentos são
realizados no interior dos UFOs, podem ser de diversas naturezas, por
várias motivações e de modos que não conseguimos entender.
Estes seres parecem,
realmente, estar entre nós desde a pré-história. Poderiam ter
influenciado o desenvolvimento do homem, como sugere o filme “2001:
uma odisseia no espaço”? Talvez. Mas, neste caso, como
esclarece Vallée em seus livros, foram interpretados conforme a
mente humana de cada época e lugar. Como anjos, demônios, fadas,
duendes, etc. Hoje em dia, como Ets, espíritos, mestres, entidades
de vários níveis espirituais, enfim, os “deuses” modernos. A
capacidade que estes seres possuem de interferir na mente humana já
foi bastante notificado nos relatos. Temos pesquisado esta
característica atualmente com diversas testemunhas que nos procuram
para uma análise de fotos e vídeos. As crenças anteriores das
testemunhas mascaram muito do que acontece e, na nossa opinião, mais
dificultam que ajudam na elucidação dos fatos.
Incluiríamos um
sexto argumento aos de Vallée, para validar a hipótese
interdimensional:
Interação
mental: a aparente capacidade dos ufonautas de interagir com e de
interferir na mente humana antes durante e/ou depois de um contato ou
de contatos sequenciais, seja através de sonhos, percepções
estranhas, intuições, sincronicidades (de palavras, números ou
pensamentos) ou efeitos físicos de natureza PSI.
A consequência
desta interação é muito variada, mas, em geral, causa nas
testemunhas, os “contatados”, mudanças de personalidade, de
interesses, de visão de mundo e de propósito de vida, algo bastante
pesquisado pelo ufólogo norte-americano Dr. Leo Sprinkle
(1930 - ), que já teve encontros com UFOs por duas vezes. Ele
mesmo se identificou como um contatado. Concluiu
que a atividade UFO
faz parte de um programa maior que ele denominou “condicionamento
da consciência cósmica”. As entidades dos
UFOs, quer se pense nelas como sendo do
espaço sideral ou de outra dimensão, estão tentando levar a
humanidade a entender-se como “cidadãos cósmicos”.
Pensando desta
forma, talvez a viabilidade da hipótese interdimensional (HID)
dependa de uma relação com a hipótese extraterrestre (HET) para a
criação de uma hipótese mista, uma “hipótese extradimensional”
(HED), significando que os ufonautas podem provir tanto de outros
mundos físicos deste universo quanto de dimensões do multiverso.
Algumas destas dimensões seriam muito sutis e estes seres em nada se
diferenciariam dos nossos “espíritos” e “entidades” comuns
nas práticas mediúnicas e de canalização. Assim como para
Sprinkle, para mim, estes seres seriam como nossos “mentores”
desde muito tempo, interferindo de modo coordenado e sutil,
objetivando nosso desenvolvimento de consciência, não
necessariamente nosso desenvolvimento tecnológico, que deve ser uma
consequência.
O problema das
teorias conspiratórias
As teorias
ufológicas de conspiração afirmam que vários governos, e os
políticos em escala global, estão suprimindo evidências de objetos
voadores extraterrestres e de seus tripulantes alienígenas por
vários motivos, sendo um deles, evitar o pânico entre a população
e o caos nas instituições (políticas, religiosas e sociais em
geral). Também que o governo dos EUA estaria em comunicação e
cooperação com extraterrestres, permitindo a alguns grupos a
prática da abdução. Ainda, UFOs nazistas, Majestic 12,
reptilianos, Ets em forma de gato (sim!!!) e toda sorte de absurdos
que ajudam a vender revistas ufológicas sensacionalistas (aqui no
Brasil também!), mas que pouco contribuem para a elucidação do
fenômeno. A dificuldade em separar o joio do trigo nestas questões
é a grande quantidade de informação controversa, contraditória e
fantástica, negacionismo e “histórias” que mais parecem um
roteiro de Star Wars que algo plausível. Ainda que
astronautas, como Gordon Cooper e Edgar Mitchell, acreditem em
algumas “conspirações”, a maioria dos conspiracionistas não se
diferencia muito daqueles que, mais recentemente, acreditam em terra
plana.
Ficamos
decepcionados em ver que poucos contra-argumentam quanto ao equívoco
da propaganda de um possível pânico no caso de uma confirmação da
existência dos UFOs e ufonautas, e a ideias maniqueístas sobre a
existência de Ets “bons x maus”. Este pânico não é uma
certeza hoje em dia. Também, dividir os ufonautas em “raças Ets”
boas ou más é um maniqueísmo inadequado, e apenas baseado em nossa
visão fragmentada e imprecisa de bem e mal. Estes seres, sejam Ets
ou interdimensionais, devem ter outra visão de bem e mal, se é que
a possuem. Este é, afinal, o grande problema das teorias ufológicas
de conspiração: todo o fenômeno UFO é encarado sob o ponto de
vista exclusivo de nosso maniqueísmo, nossa moral teísta
judaico-cristã e materialismo enrustido. Além disso, a cada ano, as
teorias sofrem modificações, atualizações, mesclagens, resultando
uma sopa cada vez mais insossa.
Ufologia e
Espiritualidade
Na era da Internet,
somos bombardeados o tempo todo com e-mails e postagens nas redes
sociais espalhando muitas teorias da conspiração. Não temos como
nos proteger delas. São piores que vírus de computador. Se
espalham, vão, voltam, se modificam, tomam novos formatos e estão
sempre ali a nos atormentar. A maioria das pessoas não é
pesquisadora técnica do assunto, de modo que suas crenças
emocionais falam mais alto que a busca pela verdade. Assim, muitas
tomam por certeza o que é meramente especulativo e ainda criticam os
ufólogos sérios por ainda estarem pesquisando o fenômeno. Para
estas pessoas, a ufologia se transformou numa religião. A única
forma de testar a hipótese interdimensional (HID) ou mesmo a versão
extradimensional (HED) é fora destes grupos.
O ideal é a criação
de grupos experimentais, onde conhecimentos de ciência, paraciência
e espiritualidade não-religiosa (sem os dogmas da religião) sejam
colocados em paralelo. Como uma alternativa aos grupos ufológicos de
tendência espírita (um viés religioso), criamos alguns grupos com
este propósito espiritual (mas, não-religioso) entre 1992 e 1996
(não existem mais), e cremos que o falecido ufólogo e contatado, o
General Moacyr Uchôa (1906 – 1996), autor de livros clássicos
como “A parapsicologia e os discos voadores – O caso Alexânia”
(Editora Grupo de Expansão Cultural, 1973), “Mergulho no
hiperespaço – Dimensões esotéricas na pesquisa dos discos
voadores” (Editora Horizonte, 1981) e “Muito além do
espaço e do tempo” (Editora Thesaurus, 1983), que gostava
muito do espiritismo científico e flertava com a teosofia, tinha uma
visão parecida em seus grupos de estudo, tanto que é considerado o
fundador de uma “ufologia integral”. Para ele, a Ufologia
Clássica vê apenas a materialidade dos UFOs, mas é necessário
aceitar que o fenômeno tem muitos níveis de manifestação,
incluindo o espiritual. Uchôa considerava o universo como sendo
composto por inúmeras dimensões, e que certos tripulantes de UFOs
que nos visitam poderiam vir de “áreas inacessíveis” para a
nossa compreensão. Então, suas ideias eram uma mescla das hipóteses
extraterrestre e interdimensional.
Na verdade, Uchôa
chamava à sua pesquisa que aceitava a espiritualidade de “Ufologia
ou pesquisa de nível avançado”. Procurava manter um caráter
científico nos métodos, mas se utilizava de teorias mais amplas,
advindas da física moderna, da cosmologia, da parapsicologia e da
espiritualidade universal. Foi um trabalho que, desde seu
falecimento, não teve uma continuidade séria à altura, pois o
“movimento ufológico” foi tomado pelos conspiracionistas, para
quem não há o que pesquisar, pois acham que já possuem todas as
respostas, tendo que tão somente vociferar aqui e ali suas “verdades
insanas”.
Uchôa utilizava
médiuns em sua pesquisa, mas os considerava mais sensitivos que
médiuns, pois, segundo ele, eram pessoas com capacidades especiais
de percepção que se integravam a outros níveis de realidade e, não
necessariamente, “incorporavam” ou serviam de intermediários
para alguma coisa. Considerando a quantidade de informação
paranormal envolvida nos relatos de contatados, achamos pertinente o
uso de pessoas sensitivas em determinadas pesquisas. Contudo, tudo
deve ser levado à verificação. Uchôa era um destes pesquisadores
ousados, mas sensatos. Não acreditava, por exemplo, na teoria
conspiratória do arrebatamento ou resgate mundial por discos
voadores, uma teoria comum antes de 2012 e, mais intensamente ainda,
antes do ano 2000. Para ele, os ufonautas não retirariam de nós a
responsabilidade por nossos atos e nem são elitistas, “salvando”
uma quantidade simbólica (os 144 mil da Bíblia!) de seres humanos.
Felizmente, esta teoria tem perdido a força desde os últimos fins
do mundo anunciados (e fracassados).
Rumos futuros:
pesquisa séria ou ufolatria
A pesquisa ufológica
pode ser científica ou espiritual. As hipóteses para a origem dos
UFOs e seus tripulantes por ser a HET (extraterrestre), HID
(interdimensional) ou a mescla HED (extradimensional). Mas, em
qualquer caso, se for tomada por teorias da conspiração, deixa de
ser uma pesquisa séria e passa a ser ufolatria ou, no mínimo, uma
preocupante dissonância cognitiva.
Nós,
particularmente, tendemos a gostar das hipóteses HID e HED, pois
abrem espaço para outras dimensões, para aspectos da mente que
desconhecemos e para um universo pleno de vida, considerando vida a
conexão com a consciência (em qualquer grau) e não com a matéria
física como a conhecemos. Sim, os ufonautas são seres vivos, embora
isso não signifique que possuem corpos como os nossos, baseados em
carbono. Podem tanto ser de outros mundos, como de outros planos, e
atingiram, mais que uma alta tecnologia, um alto grau de consciência,
o que explica as capacidades telepáticas e paranormais observadas
pelos contatados. Também parecem poder ampliar as capacidades PSI
dos próprios contatados, o que é muito promissor. Enfim, isso pode
significar que Leo Sprinkle tem razão, e o objetivo destes seres é
que nos tornemos verdadeiros “cidadãos cósmicos”.
Devemos dar mais
importância ao que estes seres têm a nos ensinar, mais do que
tentar compreender o que dizem pelo viés de nossas visões
científicas, religiosas ou espirituais vigentes. O elemento
desconhecido não pode ser escondido sob o tapete de nossa
ignorância.
A ufologia deste
milênio deve ser integral, científica e espiritual, não
científica-materialista e, muito menos, conspiracionista. Caso
contrário, estaremos longe das respostas corretas. É nesta linha
que temos desenvolvido pesquisas atualmente.
Sobre
o autor
(Paulo Stekel - foto de Wolney Garcia)
Paulo
Stekel é ufólogo,
instrutor de Meditação Não-dualista, orientador do Projeto
Mahasandhi de Meditação Livre Não-Religiosa, pesquisador de
Religiões e Espiritualidades, praticante budista desde 1995 (seu
nome
budista vajrayana é
Pema Dorje), membro do NEDEC²- Núcleo de Estudos e Desenvolvimentos
em Conhecimento e Consciência (UFSC – Florianópolis – SC). Tem
experiência na área de Linguística, com ênfase em
Paleolinguística. É escritor, tradutor, revisor, músico, com
vários álbuns lançados desde 2009. É um pesquisador
não-acadêmico, professor de Cabala Não-dualista, Sânscrito e
línguas sagradas. Especialista na interpretação dos textos
sagrados das religiões. Nasceu e cresceu em Santa Maria (RS).
Atualmente reside em Florianópolis (SC). Proponente da
Hierolinguística (uma nova ciência para o estudo das linguagens
sagradas proposta em seu livro “Santo & Profano - estudo
etimológico das línguas sagradas”, publicado em 2006). Publicou
diversas obras: “Elohê Israel (Os deuses de Israel) - filosofia
esotérica na Bíblia” (Independente, 2001); “Projeto Aurora -
retorno à linguagem da consciência” (FEEU, 2003); “Santo e
Profano - estudo etimológico das línguas sagradas” (GEFO, 2006);
“Deuses & Demônios - verdades inauditas e mentiras anunciadas
sobre os anjos” (Independente, 2007); “Curso de Cabala - com
noções de Hebraico & Aramaico [vol. I e II]” (Independente,
2007 e 2008); “Curso de Sânscrito - com noções de Filosofia
Indiana [vol. I e II]” (Independente, 2008 e 2009); “A Alma da
Palavra” (independente, 2011). Pesquisador aceito como
paleolinguista de formação livre na pesquisa de decifração da
escrita Glozélica (França), com trabalho científico reconhecido e
publicado em Inglês no website do Museu de Glozel
(http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm)
desde 2006. Pesquisador aceito como paleolinguista de formação
livre pelo arqueólogo bósnio-americano Semir Osmanagic na pesquisa
de decifração da escrita Proto-Visoko (Bósnia), com trabalho de
decifração preliminar apresentado em Sarajevo pelo egiptologista
Muris Osmanagic (2010) e publicado no website Bosnian Pyramids, em
Inglês e Bósnio:
http://icbp.ba/2008/documents/papers/ICBP_Referat_Stekel.pdf.
É difícil separar o joio do trigo nessas teorias da conspiração, saber o que é informação verídica e o que não é, além daqueles programas da History Channel, que confundem ainda mais. Andava ouvindo Bill Cooper, um locutor de rádio que se dizia ex-funcionário dos órgãos do governo americano e que havia sido assassinado por policiais, ele também teria previsto o 11/9. Mas hoje em dia tomo cuidado com essas referências, para não cair nessas ilusões conspiracionistas. Que há uma ordem mundial, eu acredito, mas não da forma que é pintada por essas teorias.
ResponderExcluirObrigado pelo texto bem embasado e as referências, bem como o não-dogmatismo.
Abraços,
Amanda.
Grato por seu comentário, Amanda. É muito importante checar as informações. Se acreditamos no fenômeno, devemos amar a verdade. Teorias da conspiração não contribuem para a elucidação do fenômeno. Abraço!
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