Por Paulo Stekel
Um
dia desses, um amigo de
Florianópolis – SC comentou-me haver
encontrado um texto de 1866 chamado “Mediunidade
mental” (francês “Médiumnité
mentale”) da
antiga Revista Espírita
(Revue Spirite),
periódico trimestral francês lançado por Allan
Kardec em 1858 (ele a dirigiu até
falecer, em 1869) e que sobreviveu até os dias de hoje, em meio a
muitas suspensões, retornos e mudanças de editores e de títulos.
Segundo meu amigo, a tal “mediunidade mental” lembra muito o que
hoje se chama de Canalização. Será? O objetivo deste artigo é
traçar alguns paralelos.
O
texto da Revista Espírita (Março de 1866) inicia assim (todos
os negritos são meus - usarei a tradução
do Ipeak - Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec –
quem quiser comparar com o original francês, consulte
https://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5899&idioma=1&f=0)
Um
dos nossos correspondentes escreve de Milianah, Argélia:
“...
A propósito do desprendimento do Espírito, que se opera em todos
durante o sono, meu guia espiritual exercita-me em vigília. Enquanto
o corpo está entorpecido, o Espírito se transporta para longe,
visita as pessoas e os lugares de que gosta e a seguir volta sem
esforço. O que me parece mais surpreendente é que, enquanto
estou como que em catalepsia, tenho consciência desse
desprendimento. Exercito-me também no recolhimento, o que me
proporciona a agradável visita de Espíritos simpáticos, encarnados
e desencarnados. Este último estudo só ocorre durante a noite,
pelas duas ou três horas, e quando o corpo, repousado, desperta.
Fico alguns instantes à espera, como depois de uma evocação. Então
sinto a presença do Espírito por uma impressão física, e logo
surge em meu pensamento uma imagem que me faz reconhecê-lo.
Estabelece-se a conversa mental, como na comunicação intuitiva,
e esse gênero de conversa tem algo de adoravelmente íntimo. Muitas
vezes meu irmão e minha irmã, encarnados, me visitam, às vezes
acompanhados por meu pai e minha mãe, do mundo dos Espíritos.
“Há
bem poucos dias recebi vossa visita, caro mestre, e pela suavidade do
fluido que me penetrava, eu julgava que fosse um dos nossos bons
protetores celestes; imaginai a minha alegria ao reconhecer, em
meu pensamento, ou melhor, no meu cérebro, como que o próprio
timbre de vossa voz. Lamennais nos deu uma comunicação a esse
respeito e deve encorajar os meus esforços. Eu não poderia
dizer-vos do encanto que dá esse gênero de mediunidade. Se tiverdes
junto de vós alguns médiuns intuitivos, habituados ao recolhimento
e à tensão de espírito, eles podem tentar também. Evoca-se e,
em vez de escrever, conversa-se, exprimindo bem as ideias, sem
prolixidade.
Meu
guia muitas vezes me fez a observação de que eu tinha um Espírito
sofredor, um amigo que vem instruir-se ou buscar consolações. Sim,
o Espiritismo é um benefício precioso: abre um vasto campo à
caridade, e aquele que está inspirado por bons sentimentos, se não
puder vir em socorro de seu irmão materialmente, sempre o pode
espiritualmente.”
O
exercício em vigília do desprendimento consciente do Espírito,
citado no texto, se assemelha ao que se faz hoje em dia nos trabalhos
de Apometria (técnicas de cura por projeção da consciência
até o mundo astral, onde mentores invisíveis realizam o tratamento
– ver Nota sobre Apometria), ou seja, o desdobramento da
consciência ou dos vários níveis de consciência, algo também
comum em Canalização.
Na
época (1866), esta capacidade de projeção de consciência era
utilizada mais durante a noite e em certos momentos de recolhimento.
Não era um tema tratado largamente no meio espírita, como se tornou
após os estudos de Waldo Vieira (criador da Projeciologia e, depois,
Conscienciologia) e de Luiz Rodrigues (criador da Hipnometria, que
originou a Apometria).
Quando
se diz que se estabelece uma “conversa mental” com o espírito
que se apresenta, isso é uma outra forma de falar em telepatia, que
é, no final das contas, o modo de contato da Canalização com os
mentores espirituais, já que não há incorporação ou qualquer
coisa do gênero.
Há um
trecho que requer cuidado:
“imaginai a minha
alegria ao reconhecer, em meu pensamento, ou melhor, no meu cérebro,
como que o próprio timbre de vossa voz”. O
timbre de uma voz por telepatia? Como assim? Se trata de uma
lembrança ou realmente de se ter “ouvido” uma voz conhecida?
Quando se diz “em meu pensamento, ou melhor, no meu cérebro” é
evidente a confusão, no Séc. XIX, entre o pensamento e sua origem
no cérebro, ou se o pensamento está NO cérebro. Como quem relata a
experiência provavelmente não é um neurocientista, é natural a
confusão.
Ainda:
“Evoca-se
e, em vez de escrever, conversa-se, exprimindo bem as ideias, sem
prolixidade.” Neste
caso, seria uma conversa
telepática direta, por isso a ausência de prolixidade. Na verdade,
a comunicação telepática é direta e sem linguagem,
necessariamente. Como relatam aqueles que já experimentaram o
fenômeno, na telepatia parece que os pensamentos fluem de modo
instantâneo, sem a ocorrência de palavras. A relação entre um
pensamento direto e uma apresentação linguística (por psicografia
ou psicofonia) é a prolixidade, inexistente no modo direto. O
pensamento direto não é interpretativo, mas a recepção pela
consciência do interlocutor do exato sentido em energia daquilo que
o outro lhe transmite. Em Canalização isso é muito comum: primeiro
se recebe o que os mentores transmitem de modo direto, energético,
tal como o pensamento sem linguagem, e então nosso sistema mental
traduz esta energia para a linguagem humana compreensível por todos.
Segue-se
a resposta dada pelo editor da Revista Espírita (o próprio Kardec)
sobre a questão levantada:
“Esta
mediunidade, à qual damos o nome de mediunidade mental,
certamente não é adequada para convencer os incrédulos, porque
nada tem de ostensivo, nem desses efeitos que ferem os sentidos.
É toda para a satisfação íntima de quem a possui. Mas
também é preciso reconhecer que se presta muito à ilusão e que é
o caso de desconfiar das aparências. Quanto à existência da
faculdade, não se poderia duvidar. Pensamos mesmo que deve ser a
mais frequente, porque é considerável o número das pessoas que, no
estado de vigília, sofrem a influência dos Espíritos e recebem a
inspiração de um pensamento que sentem não ser seu. A
impressão agradável ou penosa que por vezes se sente à vista de
alguém que se encontra pela primeira vez; o pressentimento da
aproximação de uma pessoa; a penetração e a transmissão do
pensamento, são outros tantos efeitos devidos à mesma causa e que
constituem uma espécie de mediunidade, que se pode dizer universal,
pois todos possuem pelo menos os seus rudimentos. Mas, para
experimentar seus efeitos marcantes é necessária uma aptidão
especial, ou melhor, um grau de sensibilidade mais ou menos
desenvolvido, conforme os indivíduos. Sob esse ponto de vista, como
temos dito há muito tempo, todos são médiuns, e Deus não deserdou
ninguém da preciosa vantagem de receber os salutares eflúvios do
mundo espiritual, que se traduzem de mil e uma maneiras diferentes.
Mas as variedades que existem no organismo humano não permitem a
todos receber efeitos idênticos e ostensivos.”
Kardec
reconhece acima a existência desta faculdade que se chama de
Mediunidade mental, que não tem a apresentação da mediunidade de
incorporação, nem se presta ao mesmo efeito teatral. É algo de
fundo mais íntimo, termo que ele mesmo usa. Ainda reconhece que tal
faculdade é muito comum nas pessoas, que se assemelha à inspiração
daimônica como relatada por Sócrates (Ver Nota sobre Daimones e
Espíritos Inspiradores). Por fim, chama a “transmissão
mental” (a telepatia) de uma forma de mediunidade. A Canalização,
que não usa a incorporação, mas uma forma de telepatia, seria,
então, entendida por Kardec como uma forma de mediunidade, enquanto
os canalizadores entendem a mediunidade de Kardec como uma forma de
Canalização. É só uma questão de termos. O que importa é o
fenômeno descrito.
Em
seguida, o texto da Revista Espírita diz: “Tendo sido
discutida esta questão na Sociedade de Paris, as instruções
seguintes foram dadas a respeito, por diversos Espíritos.”
Como este é um trecho relativamente longo, só comentaremos aqui os
trechos mais importantes, deixando as tais instruções na íntegra
na Nota com as Instruções dos Espíritos sobre a Mediunidade
Mental, ao final.
As
instruções vieram de quatro espíritos, a saber: H. Dozon (pelo
médium Sr. Delanne), Espírito Protetor (pela médium Sra. Causse),
S. Luís (pela médium Sra. Dellane) e Luís de França (pela médium
Sra. Breul).
H.
Dozon afirma que: “a comunicação do mundo incorpóreo
com os vossos sentidos é constante: ela se dá a toda hora, a cada
minuto, pela lei das relações espirituais. (…) os
Espíritos se veem e se visitam uns aos outros durante o sono: tendes
muitas provas. Por que quereríeis que isto não ocorresse em
vigília? Os Espíritos não têm noite.”
O
Espírito Protetor corrobora Kardec: “Sim, esse gênero
de comunicação espiritual é mesmo uma mediunidade, como, aliás,
tendes ainda outros a constatar no curso de vossos estudos espíritas.
É uma espécie de estado cataléptico muito agradável para quem o
experimenta. (…) Essa mediunidade existe no estado
inconsciente em muitas pessoas. Sabei que há sempre perto de vós um
amigo sincero, sempre pronto a sustentar e a encorajar aquele cuja
direção lhe é confiada pelo Todo-Poderoso. (...)
Sabendo compreender o que vem do vosso guia, não vos podeis afastar
do reto caminho que toda alma que aspira à perfeição deve seguir.”
Ele
afirma que a comunicação espiritual através da transmissão de
pensamento (telepatia) é um tipo de mediunidade e ainda deixa
escapar que há outras formas de mediunidade que não eram conhecidas
dos espíritas da época. Ele chama a mediunidade mental de uma
catalepsia leve, “muito agradável”, como podemos também definir
a Canalização. Quando diz que esta forma de mediunidade existe “no
estado inconsciente” de muitos, não se refere à mediunidade de
inconsciência dos dias de hoje, mas a uma “inspiração” via
inconsciente das pessoas, um “assopro” dos mentores, aos moldes
do relato de Sócrates sobre seu daimon. Em Canalização,
isso se chama “sintonização” do mentor, algo que antecede a
comunicação do que ele inspira telepaticamente.
S.
Luís, o terceiro a esclarecer, completa o anterior: “Já
vos foi dito que a mediunidade se revelaria por diferentes formas. A
que vosso Presidente qualificou de mental está bem definida. É o
primeiro degrau da mediunidade vidente e falante. O médium falante
entra em comunicação com os Espíritos que o assistem, fala com
eles; seu Espírito os vê, ou melhor, os adivinha; apenas não faz
senão transmitir o que lhe dizem, enquanto que o médium
mental pode, se for bem formado, dirigir perguntas e receber
respostas, sem a intermediação da pena ou do lápis, mais
facilmente que o médium intuitivo, porque aqui o Espírito do
médium, estando mais desprendido, é um intérprete mais fiel. (...)
De todas as faculdades mediúnicas é a mais sutil e a mais
delicada. O menor sopro impuro basta para manchá-la. É
apenas nessas condições que o médium mental obterá provas da
realidade das comunicações. Logo vereis surgir entre vós médiuns
falantes que vos surpreenderão por sua eloquência e por sua
lógica.”
Aqui há
a afirmação de que a mediunidade mental é superior à mediunidade
intuitiva porque é mais sutil. É o caso da Canalização. Ela não
fica restrita à comunicação psicográfica, mas ao contato
telepático direto.
O
último espírito, que se dizia ter sido Luís de França, finaliza a
explicação: “(...) a mediunidade, que consiste em conversar com
os Espíritos, como com pessoas que vivem a vida material,
desenvolver-se-á mais à medida que o desprendimento do Espírito se
efetuar com mais facilidade, pelo hábito do recolhimento. Quanto
mais avançados moralmente forem os Espíritos encarnados, maior será
essa facilidade das comunicações.”
É uma
forma de dizer que o fenômeno se modificaria ao longo dos anos, como
de fato, mudou. Já escrevi bastante sobre Canalização e a história
do Espiritismo e do Espiritualismo, onde se evidencia esta mudança,
que vai de uma mediunidade incorporativa mais dura, na qual o médium
é como um mero instrumento passivo das entidades, até a Canalização
mais sutil, sem qualquer incorporação ou modificação teatral no
semblante do canalizador.
Podemos
concluir, então, que se Kardec e os quatro espíritos citados não
estavam falando de Canalização diretamente, quando nomearam
a Mediunidade mental, estavam, pelo menos, relatando algo parecido
que se tornou comum cerca de cem anos depois.
NOTAS
Nota
sobre Apometria - A
apometria (apo-
do gr. "além de" e -metron
"medida") é um conjunto de práticas com objetivo de cura
que consiste numa projeção da consciência que permite o transporte
de uma parte do corpo para o mundo astral, onde mentores médicos
desencarnados imateriais realizam o tratamento.
A
prática foi introduzida no Brasil pelo farmacêutico porto-riquenho
Luiz Rodrigues, que a chamava de Hipnometria,
e utilizava técnicas próprias para obter o desdobramento anímico
controlado. Entre 1964 e 1986, foi sistematizada pelo
médico-cirurgião geral e ginecologista José Lacerda de Azevedo
(1919-1997), no Hospital Espírita de Porto Alegre (HEPA), que lhe
trocou o nome para Apometria.
A
técnica criada por ele, intitulada Apometria,
caracteriza-se por ser um sistema que procura conciliar os princípios
do espiritismo, com elementos pertencentes à umbanda, ao esoterismo
e práticas new age, todos embebidos e manifestados através de uma
lente científica que procura trazer aspectos da parapsicologia e de
teorias como a física quântica.
Nota
sobre Daimones e Espíritos Inspiradores - Daimon
(grego δαίμων, translit. daímôn, trad. “divindade”,
“espírito”), no plural daimones
(grego δαίμονες) é um tipo de ser que em muito se assemelha
aos gênios da mitologia árabe. A
palavra daímôn vem
dos gregos da
Antiguidade; o
nome latino é
daemon,
que originou o
português demônio.
São
deuses de determinadas entidades da natureza humana, como a Loucura,
a Ira, a Tristeza, etc. Seu temperamento liga-se ao elemento natural
ou vontade divina que o origina. Um mesmo daimon
pode mostrar-se “bom” ou “mau” conforme as circunstâncias do
relacionamento que estabelece com quem está sob sua influência. Por
isso, os gregos falavam de eudaimon (εὐδαίμων,
eu- significando “bom”, “favorável”) e cacodaimon
(κακοδαίμων, kakos- significando “mau”). Por isso, a
palavra grega para felicidade é Eudaimonia (εὐδαιμονία).
Ser feliz era, então, viver sob a influência de um bom daimon,
que é a forma como Sócrates se refere a seu daimon.
O
termo “daimon” no sentido de gênio ou mentor pessoal, foi usado
por Sócrates quando ao contrário de seus colegas sofistas não
abriu escola assim como não cobrou dinheiro por seus ensinamentos.
Ele dizia que apenas falava em nome do seu “daimon”,
do seu gênio/mentor pessoal. Isso evidencia que a palavra “daimon”,
na Antiguidade, não designava exclusivamente seres maus, mas todos
os Espíritos, em geral, entre eles, os Espíritos Superiores,
chamados de Deuses, e os menos elevados, ou Demônios propriamente
ditos, que se comunicavam diretamente com os homens. O meio cristão
desvirtuou o conceito para criar a noção de “demônio”
(originalmente neutro, bom ou mau) como sinônimo de “Diabo” (um
ente sempre mau).
Nota
com as Instruções dos Espíritos sobre a Mediunidade Mental
I
- É possível desenvolver o sentido espiritual, como diariamente se
vê desenvolver-se uma aptidão por um trabalho constante. Ora, sabei
que a comunicação do mundo incorpóreo com os vossos sentidos é
constante: ela se dá a toda hora, a cada minuto, pela lei das
relações espirituais. Que os encarnados ousem aqui negar uma lei da
própria Natureza!
Acabam
de dizer-vos que os Espíritos se veem e se visitam uns aos outros
durante o sono: tendes muitas provas. Por que quereríeis que isto
não ocorresse em vigília? Os Espíritos não têm noite. Não. Eles
estão constantemente ao vosso lado; eles vos vigiam; vossos
familiares vos inspiram, vos suscitam pensamentos, vos guiam; eles
vos falam e vos exortam; eles protegem os vossos trabalhos,
ajudam-vos a elaborar os vossos desígnios formados pela metade e os
vossos sonhos ainda vacilantes; anotam vossas boas resoluções;
lutam quando lutais. Eles estão aí, esses bons amigos, no fim de
vossa encarnação; eles vos riem no berço, vos esclarecem nos
estudos; depois se envolvem em todos os atos de vossa passagem aqui
na Terra; oram quando vos veem preparando-se para irdes encontrá-los.
Oh!
não, jamais negueis vossa assistência diária; jamais negueis vossa
mediunidade espiritual, porque blasfemais contra Deus, e seríeis
taxados de ingratidão pelos Espíritos que vos amam. H. DOZON
(Médium: Sr. Delanne.)
II
- Sim, esse gênero de comunicação espiritual é mesmo uma
mediunidade, como, aliás, tendes ainda outros a constatar no curso
de vossos estudos espíritas. É uma espécie de estado cataléptico
muito agradável para quem o experimenta. Ele proporciona todas as
alegrias da vida espiritual à alma prisioneira, que aí encontra um
encanto indefinível, que gostaria de experimentar sempre. Mas é
preciso voltar de qualquer modo, e, semelhante ao prisioneiro ao qual
permitem tomar ar num prado, a alma entra constrangida na célula
humana.
É
uma mediunidade muito agradável esta que permite a um Espírito
encarnado ver os velhos amigos, poder conversar com eles,
comunicar-lhes suas impressões terrenas e poder expandir o coração
no seio de amigos discretos que não procuram achar ridículo o que
lhes confiais, mas antes vos dar bons conselhos, se vos forem úteis.
Esses conselhos, dados assim, têm mais peso para o médium que os
recebe, porque o Espírito que lhos dá, a ele se mostrando, deixou
uma impressão profunda em seu cérebro, e, por este meio, gravou
melhor em seu coração a sinceridade e o valor desses conselhos.
Essa
mediunidade existe no estado inconsciente em muitas pessoas. Sabei
que há sempre perto de vós um amigo sincero, sempre pronto a
sustentar e a encorajar aquele cuja direção lhe é confiada pelo
Todo-Poderoso. Não, meus amigos, esse apoio não vos faltará
jamais; cabe-vos saber distinguir as boas inspirações entre todas
as que se chocam no labirinto de vossas consciências. Sabendo
compreender o que vem do vosso guia, não vos podeis afastar do reto
caminho que toda alma que aspira à perfeição deve seguir. Espírito
Protetor (Médium: Sra. Causse)
III
- Já vos foi dito que a mediunidade se revelaria por diferentes
formas. A que vosso Presidente qualificou de mental está bem
definida. É o primeiro degrau da mediunidade vidente e falante.
O
médium falante entra em comunicação com os Espíritos que o
assistem, fala com eles; seu Espírito os vê, ou melhor, os
adivinha; apenas não faz senão transmitir o que lhe dizem, enquanto
que o médium mental pode, se for bem formado, dirigir perguntas e
receber respostas, sem a intermediação da pena ou do lápis, mais
facilmente que o médium intuitivo, porque aqui o Espírito do
médium, estando mais desprendido, é um intérprete mais fiel. Mas
para isto é necessário um ardente desejo de ser útil, trabalhar
com vistas ao bem, com um sentimento puro, isento de todo pensamento
de amor-próprio e de interesse. De todas as faculdades mediúnicas é
a mais sutil e a mais delicada. O menor sopro impuro basta para
manchá-la. É apenas nessas condições que o médium mental obterá
provas da realidade das comunicações. Logo vereis surgir entre vós
médiuns falantes que vos surpreenderão por sua eloquência e por
sua lógica.
Esperai,
pioneiros que tendes pressa de ver vossos trabalhos crescerem; novos
obreiros virão reforçar vossas fileiras, e este ano verá
concluir-se a primeira grande fase do Espiritismo e começar outra
não menos importante.
E
vós, caro mestre, que Deus abençoe os vossos trabalhos; que ele vos
sustente e nos conserve o favor especial que nos concedeu,
permitindo-nos guiar-vos e sustentar-vos em vossa tarefa, que é
também a nossa.
Como
Presidente Espiritual da Sociedade de Paris, velo por ela e por cada
membro em particular, e rogo ao Senhor que espalhe sobre vós todas
as suas graças e as suas bênçãos. S. LUÍS (Médium: Sra.
Dellane).
IV
- Seguramente, meus amigos, a mediunidade, que consiste em conversar
com os Espíritos, como com pessoas que vivem a vida material,
desenvolver-se-á mais à medida que o desprendimento do Espírito se
efetuar com mais facilidade, pelo hábito do recolhimento. Quanto
mais avançados moralmente forem os Espíritos encarnados, maior será
essa facilidade das comunicações. Assim como dizeis, ela não será
de uma importância muito grande do ponto de vista da convicção a
dar aos incrédulos, mas tem para aquele que lhe é objeto uma grande
doçura, e o ajuda a desmaterializar-se cada vez mais. O
recolhimento, a prece, este impulso da alma junto ao seu Autor, para
lhe exprimir seu amor e seu reconhecimento, solicitando ainda o seu
socorro, são os dois elementos da vida espiritual; são eles que
derramam na alma esse orvalho celeste que ajuda o desenvolvimento das
faculdades que aí estão em estado latente. Como são infelizes os
que dizem que a prece é inútil porque não modifica os desígnios
de Deus! Sem dúvida as leis que regem as diversas ordens de
fenômenos não serão perturbadas ao bel-prazer deste ou daquele,
mas a prece não tem por efeito senão melhorar o indivíduo que, por
esse ato, eleva seu pensamento acima das preocupações materiais,
motivo pelo qual ele não deve negligenciá-la.
É
pela renovação parcial dos indivíduos que a Sociedade acabará por
regenerar-se, e Deus sabe se ela precisa disso!
Ficais
revoltados quando pensais nos vícios da sociedade pagã, ao tempo em
que o Cristo veio trazer sua reforma humanitária; mas em vossos
dias, os vícios, por serem velados sob formas mais marcantes de
polidez e de educação, não deixam de existir. Eles não têm
magníficos templos, como os da Grécia Antiga, mas ah! Eles os têm
no coração da maior parte dos homens e causam entre eles as mesmas
devastações que ocasionavam entre os que precederam a era cristã.
Não é, pois, sem uma grande utilidade que os Espíritos vieram
lembrar os ensinamentos dados há dezoito séculos, porquanto,
tendo-os esquecido ou mal compreendido, vós não podeis
aproveitá-los e espalhá-los segundo a vontade do divino
crucificado.
Agradecei,
pois, ao Senhor, vós todos que fostes chamados a cooperar na obra
dos Espíritos, e que o vosso desinteresse e vossa caridade jamais
enfraqueçam, porque é nisto que se conhecem entre vós os
verdadeiros espíritas. LUÍS DE FRANÇA (Médium: Sra. Breul).
Sobre o autor
Paulo
Stekel é instrutor de
Meditação Não-dualista, orientador
do Projeto Mahasandhi de Meditação Livre Não-Religiosa,
pesquisador
de Religiões e Espiritualidades, praticante
budista desde 1995 (seu
nome budista vajrayana
é Pema Dorje),
membro
do NEDEC²- Núcleo de Estudos e Desenvolvimentos em Conhecimento e
Consciência (UFSC – Florianópolis – SC). Tem
experiência na área de Linguística, com ênfase em
Paleolinguística. É escritor, tradutor, revisor, músico,
com vários álbuns lançados desde 2009.
É um pesquisador não-acadêmico, professor de Cabala Não-dualista,
Sânscrito e línguas sagradas. Especialista na interpretação dos
textos sagrados das religiões. Nasceu e cresceu em Santa Maria (RS).
Atualmente reside em
Florianópolis (SC). Proponente da Hierolinguística
(uma
nova ciência para o estudo das linguagens sagradas proposta em seu
livro “Santo & Profano - estudo etimológico das línguas
sagradas”, publicado em 2006).
Publicou diversas obras: “Elohê Israel (Os deuses de Israel) -
filosofia esotérica na Bíblia” (Independente, 2001); “Projeto
Aurora - retorno à linguagem da consciência” (FEEU, 2003); “Santo
e Profano - estudo etimológico das línguas sagradas” (GEFO,
2006); “Deuses & Demônios - verdades inauditas e mentiras
anunciadas sobre os anjos” (Independente, 2007); “Curso de Cabala
- com noções de Hebraico & Aramaico [vol. I e II]”
(Independente, 2007 e 2008); “Curso de Sânscrito - com noções de
Filosofia Indiana [vol. I e II]” (Independente, 2008 e 2009); “A
Alma da Palavra” (independente, 2011). Pesquisador aceito como
paleolinguista de formação livre na pesquisa de decifração da
escrita Glozélica (França), com trabalho científico reconhecido e
publicado em Inglês no website do Museu de Glozel
(http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm)
desde 2006. Pesquisador aceito como paleolinguista de formação
livre pelo arqueólogo bósnio-americano Semir Osmanagic na pesquisa
de decifração da escrita Proto-Visoko (Bósnia), com trabalho de
decifração preliminar apresentado em Sarajevo pelo egiptologista
Muris Osmanagic (2010) e publicado no website Bosnian Pyramids, em
Inglês e Bósnio:
http://icbp.ba/2008/documents/papers/ICBP_Referat_Stekel.pdf.
Contatos:
pstekel@gmail.com
A abordagem foi perfeita e muita esclarecedora.
ResponderExcluirQue bom que você apreciou o artigo e minhas considerações, amigo Djalma. A busca pelo conhecimento é isso, sempre com novidades e espírito aberto. Abraços!
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