terça-feira, 5 de novembro de 2019

Canalização é o mesmo que Mediunidade Mental?

Por Paulo Stekel


Um dia desses, um amigo de Florianópolis – SC comentou-me haver encontrado um texto de 1866 chamado “Mediunidade mental” (francês Médiumnité mentale”) da antiga Revista Espírita (Revue Spirite), periódico trimestral francês lançado por Allan Kardec em 1858 (ele a dirigiu até falecer, em 1869) e que sobreviveu até os dias de hoje, em meio a muitas suspensões, retornos e mudanças de editores e de títulos. Segundo meu amigo, a tal “mediunidade mental” lembra muito o que hoje se chama de Canalização. Será? O objetivo deste artigo é traçar alguns paralelos.

O texto da Revista Espírita (Março de 1866) inicia assim (todos os negritos são meus - usarei a tradução do Ipeak - Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec – quem quiser comparar com o original francês, consulte https://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5899&idioma=1&f=0)

Um dos nossos correspondentes escreve de Milianah, Argélia:

... A propósito do desprendimento do Espírito, que se opera em todos durante o sono, meu guia espiritual exercita-me em vigília. Enquanto o corpo está entorpecido, o Espírito se transporta para longe, visita as pessoas e os lugares de que gosta e a seguir volta sem esforço. O que me parece mais surpreendente é que, enquanto estou como que em catalepsia, tenho consciência desse desprendimento. Exercito-me também no recolhimento, o que me proporciona a agradável visita de Espíritos simpáticos, encarnados e desencarnados. Este último estudo só ocorre durante a noite, pelas duas ou três horas, e quando o corpo, repousado, desperta. Fico alguns instantes à espera, como depois de uma evocação. Então sinto a presença do Espírito por uma impressão física, e logo surge em meu pensamento uma imagem que me faz reconhecê-lo. Estabelece-se a conversa mental, como na comunicação intuitiva, e esse gênero de conversa tem algo de adoravelmente íntimo. Muitas vezes meu irmão e minha irmã, encarnados, me visitam, às vezes acompanhados por meu pai e minha mãe, do mundo dos Espíritos.

Há bem poucos dias recebi vossa visita, caro mestre, e pela suavidade do fluido que me penetrava, eu julgava que fosse um dos nossos bons protetores celestes; imaginai a minha alegria ao reconhecer, em meu pensamento, ou melhor, no meu cérebro, como que o próprio timbre de vossa voz. Lamennais nos deu uma comunicação a esse respeito e deve encorajar os meus esforços. Eu não poderia dizer-vos do encanto que dá esse gênero de mediunidade. Se tiverdes junto de vós alguns médiuns intuitivos, habituados ao recolhimento e à tensão de espírito, eles podem tentar também. Evoca-se e, em vez de escrever, conversa-se, exprimindo bem as ideias, sem prolixidade.

Meu guia muitas vezes me fez a observação de que eu tinha um Espírito sofredor, um amigo que vem instruir-se ou buscar consolações. Sim, o Espiritismo é um benefício precioso: abre um vasto campo à caridade, e aquele que está inspirado por bons sentimentos, se não puder vir em socorro de seu irmão materialmente, sempre o pode espiritualmente.”

O exercício em vigília do desprendimento consciente do Espírito, citado no texto, se assemelha ao que se faz hoje em dia nos trabalhos de Apometria (técnicas de cura por projeção da consciência até o mundo astral, onde mentores invisíveis realizam o tratamento – ver Nota sobre Apometria), ou seja, o desdobramento da consciência ou dos vários níveis de consciência, algo também comum em Canalização.

Na época (1866), esta capacidade de projeção de consciência era utilizada mais durante a noite e em certos momentos de recolhimento. Não era um tema tratado largamente no meio espírita, como se tornou após os estudos de Waldo Vieira (criador da Projeciologia e, depois, Conscienciologia) e de Luiz Rodrigues (criador da Hipnometria, que originou a Apometria).

Quando se diz que se estabelece uma “conversa mental” com o espírito que se apresenta, isso é uma outra forma de falar em telepatia, que é, no final das contas, o modo de contato da Canalização com os mentores espirituais, já que não há incorporação ou qualquer coisa do gênero.

Há um trecho que requer cuidado:imaginai a minha alegria ao reconhecer, em meu pensamento, ou melhor, no meu cérebro, como que o próprio timbre de vossa voz”. O timbre de uma voz por telepatia? Como assim? Se trata de uma lembrança ou realmente de se ter “ouvido” uma voz conhecida? Quando se diz “em meu pensamento, ou melhor, no meu cérebro” é evidente a confusão, no Séc. XIX, entre o pensamento e sua origem no cérebro, ou se o pensamento está NO cérebro. Como quem relata a experiência provavelmente não é um neurocientista, é natural a confusão.

Ainda: Evoca-se e, em vez de escrever, conversa-se, exprimindo bem as ideias, sem prolixidade.” Neste caso, seria uma conversa telepática direta, por isso a ausência de prolixidade. Na verdade, a comunicação telepática é direta e sem linguagem, necessariamente. Como relatam aqueles que já experimentaram o fenômeno, na telepatia parece que os pensamentos fluem de modo instantâneo, sem a ocorrência de palavras. A relação entre um pensamento direto e uma apresentação linguística (por psicografia ou psicofonia) é a prolixidade, inexistente no modo direto. O pensamento direto não é interpretativo, mas a recepção pela consciência do interlocutor do exato sentido em energia daquilo que o outro lhe transmite. Em Canalização isso é muito comum: primeiro se recebe o que os mentores transmitem de modo direto, energético, tal como o pensamento sem linguagem, e então nosso sistema mental traduz esta energia para a linguagem humana compreensível por todos.

Segue-se a resposta dada pelo editor da Revista Espírita (o próprio Kardec) sobre a questão levantada:

Esta mediunidade, à qual damos o nome de mediunidade mental, certamente não é adequada para convencer os incrédulos, porque nada tem de ostensivo, nem desses efeitos que ferem os sentidos. É toda para a satisfação íntima de quem a possui. Mas também é preciso reconhecer que se presta muito à ilusão e que é o caso de desconfiar das aparências. Quanto à existência da faculdade, não se poderia duvidar. Pensamos mesmo que deve ser a mais frequente, porque é considerável o número das pessoas que, no estado de vigília, sofrem a influência dos Espíritos e recebem a inspiração de um pensamento que sentem não ser seu. A impressão agradável ou penosa que por vezes se sente à vista de alguém que se encontra pela primeira vez; o pressentimento da aproximação de uma pessoa; a penetração e a transmissão do pensamento, são outros tantos efeitos devidos à mesma causa e que constituem uma espécie de mediunidade, que se pode dizer universal, pois todos possuem pelo menos os seus rudimentos. Mas, para experimentar seus efeitos marcantes é necessária uma aptidão especial, ou melhor, um grau de sensibilidade mais ou menos desenvolvido, conforme os indivíduos. Sob esse ponto de vista, como temos dito há muito tempo, todos são médiuns, e Deus não deserdou ninguém da preciosa vantagem de receber os salutares eflúvios do mundo espiritual, que se traduzem de mil e uma maneiras diferentes. Mas as variedades que existem no organismo humano não permitem a todos receber efeitos idênticos e ostensivos.”

Kardec reconhece acima a existência desta faculdade que se chama de Mediunidade mental, que não tem a apresentação da mediunidade de incorporação, nem se presta ao mesmo efeito teatral. É algo de fundo mais íntimo, termo que ele mesmo usa. Ainda reconhece que tal faculdade é muito comum nas pessoas, que se assemelha à inspiração daimônica como relatada por Sócrates (Ver Nota sobre Daimones e Espíritos Inspiradores). Por fim, chama a “transmissão mental” (a telepatia) de uma forma de mediunidade. A Canalização, que não usa a incorporação, mas uma forma de telepatia, seria, então, entendida por Kardec como uma forma de mediunidade, enquanto os canalizadores entendem a mediunidade de Kardec como uma forma de Canalização. É só uma questão de termos. O que importa é o fenômeno descrito.


Em seguida, o texto da Revista Espírita diz: Tendo sido discutida esta questão na Sociedade de Paris, as instruções seguintes foram dadas a respeito, por diversos Espíritos.” Como este é um trecho relativamente longo, só comentaremos aqui os trechos mais importantes, deixando as tais instruções na íntegra na Nota com as Instruções dos Espíritos sobre a Mediunidade Mental, ao final.

As instruções vieram de quatro espíritos, a saber: H. Dozon (pelo médium Sr. Delanne), Espírito Protetor (pela médium Sra. Causse), S. Luís (pela médium Sra. Dellane) e Luís de França (pela médium Sra. Breul).

H. Dozon afirma que: a comunicação do mundo incorpóreo com os vossos sentidos é constante: ela se dá a toda hora, a cada minuto, pela lei das relações espirituais. (…) os Espíritos se veem e se visitam uns aos outros durante o sono: tendes muitas provas. Por que quereríeis que isto não ocorresse em vigília? Os Espíritos não têm noite.”

O Espírito Protetor corrobora Kardec: Sim, esse gênero de comunicação espiritual é mesmo uma mediunidade, como, aliás, tendes ainda outros a constatar no curso de vossos estudos espíritas. É uma espécie de estado cataléptico muito agradável para quem o experimenta. (…) Essa mediunidade existe no estado inconsciente em muitas pessoas. Sabei que há sempre perto de vós um amigo sincero, sempre pronto a sustentar e a encorajar aquele cuja direção lhe é confiada pelo Todo-Poderoso. (...) Sabendo compreender o que vem do vosso guia, não vos podeis afastar do reto caminho que toda alma que aspira à perfeição deve seguir.”

Ele afirma que a comunicação espiritual através da transmissão de pensamento (telepatia) é um tipo de mediunidade e ainda deixa escapar que há outras formas de mediunidade que não eram conhecidas dos espíritas da época. Ele chama a mediunidade mental de uma catalepsia leve, “muito agradável”, como podemos também definir a Canalização. Quando diz que esta forma de mediunidade existe “no estado inconsciente” de muitos, não se refere à mediunidade de inconsciência dos dias de hoje, mas a uma “inspiração” via inconsciente das pessoas, um “assopro” dos mentores, aos moldes do relato de Sócrates sobre seu daimon. Em Canalização, isso se chama “sintonização” do mentor, algo que antecede a comunicação do que ele inspira telepaticamente.

S. Luís, o terceiro a esclarecer, completa o anterior: Já vos foi dito que a mediunidade se revelaria por diferentes formas. A que vosso Presidente qualificou de mental está bem definida. É o primeiro degrau da mediunidade vidente e falante. O médium falante entra em comunicação com os Espíritos que o assistem, fala com eles; seu Espírito os vê, ou melhor, os adivinha; apenas não faz senão transmitir o que lhe dizem, enquanto que o médium mental pode, se for bem formado, dirigir perguntas e receber respostas, sem a intermediação da pena ou do lápis, mais facilmente que o médium intuitivo, porque aqui o Espírito do médium, estando mais desprendido, é um intérprete mais fiel. (...) De todas as faculdades mediúnicas é a mais sutil e a mais delicada. O menor sopro impuro basta para manchá-la. É apenas nessas condições que o médium mental obterá provas da realidade das comunicações. Logo vereis surgir entre vós médiuns falantes que vos surpreenderão por sua eloquência e por sua lógica.”

Aqui há a afirmação de que a mediunidade mental é superior à mediunidade intuitiva porque é mais sutil. É o caso da Canalização. Ela não fica restrita à comunicação psicográfica, mas ao contato telepático direto.

O último espírito, que se dizia ter sido Luís de França, finaliza a explicação: “(...) a mediunidade, que consiste em conversar com os Espíritos, como com pessoas que vivem a vida material, desenvolver-se-á mais à medida que o desprendimento do Espírito se efetuar com mais facilidade, pelo hábito do recolhimento. Quanto mais avançados moralmente forem os Espíritos encarnados, maior será essa facilidade das comunicações.”

É uma forma de dizer que o fenômeno se modificaria ao longo dos anos, como de fato, mudou. Já escrevi bastante sobre Canalização e a história do Espiritismo e do Espiritualismo, onde se evidencia esta mudança, que vai de uma mediunidade incorporativa mais dura, na qual o médium é como um mero instrumento passivo das entidades, até a Canalização mais sutil, sem qualquer incorporação ou modificação teatral no semblante do canalizador.

Podemos concluir, então, que se Kardec e os quatro espíritos citados não estavam falando de Canalização diretamente, quando nomearam a Mediunidade mental, estavam, pelo menos, relatando algo parecido que se tornou comum cerca de cem anos depois.




NOTAS
 

Nota sobre Apometria - A apometria (apo- do gr. "além de" e -metron "medida") é um conjunto de práticas com objetivo de cura que consiste numa projeção da consciência que permite o transporte de uma parte do corpo para o mundo astral, onde mentores médicos desencarnados imateriais realizam o tratamento.

A prática foi introduzida no Brasil pelo farmacêutico porto-riquenho Luiz Rodrigues, que a chamava de Hipnometria, e utilizava técnicas próprias para obter o desdobramento anímico controlado. Entre 1964 e 1986, foi sistematizada pelo médico-cirurgião geral e ginecologista José Lacerda de Azevedo (1919-1997), no Hospital Espírita de Porto Alegre (HEPA), que lhe trocou o nome para Apometria.

A técnica criada por ele, intitulada Apometria, caracteriza-se por ser um sistema que procura conciliar os princípios do espiritismo, com elementos pertencentes à umbanda, ao esoterismo e práticas new age, todos embebidos e manifestados através de uma lente científica que procura trazer aspectos da parapsicologia e de teorias como a física quântica.

Nota sobre Daimones e Espíritos Inspiradores - Daimon (grego δαίμων, translit. daímôn, trad. “divindade”, “espírito”), no plural daimones (grego δαίμονες) é um tipo de ser que em muito se assemelha aos gênios da mitologia árabe. A palavra daímôn vem dos gregos da Antiguidade; o nome latino é daemon, que originou o português demônio.

São deuses de determinadas entidades da natureza humana, como a Loucura, a Ira, a Tristeza, etc. Seu temperamento liga-se ao elemento natural ou vontade divina que o origina. Um mesmo daimon pode mostrar-se “bom” ou “mau” conforme as circunstâncias do relacionamento que estabelece com quem está sob sua influência. Por isso, os gregos falavam de eudaimon (εὐδαίμων, eu- significando “bom”, “favorável”) e cacodaimon (κακοδαίμων, kakos- significando “mau”). Por isso, a palavra grega para felicidade é Eudaimonia (εὐδαιμονία). Ser feliz era, então, viver sob a influência de um bom daimon, que é a forma como Sócrates se refere a seu daimon.

O termo “daimon” no sentido de gênio ou mentor pessoal, foi usado por Sócrates quando ao contrário de seus colegas sofistas não abriu escola assim como não cobrou dinheiro por seus ensinamentos. Ele dizia que apenas falava em nome do seu daimon”, do seu gênio/mentor pessoal. Isso evidencia que a palavra daimon”, na Antiguidade, não designava exclusivamente seres maus, mas todos os Espíritos, em geral, entre eles, os Espíritos Superiores, chamados de Deuses, e os menos elevados, ou Demônios propriamente ditos, que se comunicavam diretamente com os homens. O meio cristão desvirtuou o conceito para criar a noção de “demônio” (originalmente neutro, bom ou mau) como sinônimo de “Diabo” (um ente sempre mau).

Nota com as Instruções dos Espíritos sobre a Mediunidade Mental
I - É possível desenvolver o sentido espiritual, como diariamente se vê desenvolver-se uma aptidão por um trabalho constante. Ora, sabei que a comunicação do mundo incorpóreo com os vossos sentidos é constante: ela se dá a toda hora, a cada minuto, pela lei das relações espirituais. Que os encarnados ousem aqui negar uma lei da própria Natureza!

Acabam de dizer-vos que os Espíritos se veem e se visitam uns aos outros durante o sono: tendes muitas provas. Por que quereríeis que isto não ocorresse em vigília? Os Espíritos não têm noite. Não. Eles estão constantemente ao vosso lado; eles vos vigiam; vossos familiares vos inspiram, vos suscitam pensamentos, vos guiam; eles vos falam e vos exortam; eles protegem os vossos trabalhos, ajudam-vos a elaborar os vossos desígnios formados pela metade e os vossos sonhos ainda vacilantes; anotam vossas boas resoluções; lutam quando lutais. Eles estão aí, esses bons amigos, no fim de vossa encarnação; eles vos riem no berço, vos esclarecem nos estudos; depois se envolvem em todos os atos de vossa passagem aqui na Terra; oram quando vos veem preparando-se para irdes encontrá-los.

Oh! não, jamais negueis vossa assistência diária; jamais negueis vossa mediunidade espiritual, porque blasfemais contra Deus, e seríeis taxados de ingratidão pelos Espíritos que vos amam. H. DOZON (Médium: Sr. Delanne.)

II - Sim, esse gênero de comunicação espiritual é mesmo uma mediunidade, como, aliás, tendes ainda outros a constatar no curso de vossos estudos espíritas. É uma espécie de estado cataléptico muito agradável para quem o experimenta. Ele proporciona todas as alegrias da vida espiritual à alma prisioneira, que aí encontra um encanto indefinível, que gostaria de experimentar sempre. Mas é preciso voltar de qualquer modo, e, semelhante ao prisioneiro ao qual permitem tomar ar num prado, a alma entra constrangida na célula humana.

É uma mediunidade muito agradável esta que permite a um Espírito encarnado ver os velhos amigos, poder conversar com eles, comunicar-lhes suas impressões terrenas e poder expandir o coração no seio de amigos discretos que não procuram achar ridículo o que lhes confiais, mas antes vos dar bons conselhos, se vos forem úteis. Esses conselhos, dados assim, têm mais peso para o médium que os recebe, porque o Espírito que lhos dá, a ele se mostrando, deixou uma impressão profunda em seu cérebro, e, por este meio, gravou melhor em seu coração a sinceridade e o valor desses conselhos.

Essa mediunidade existe no estado inconsciente em muitas pessoas. Sabei que há sempre perto de vós um amigo sincero, sempre pronto a sustentar e a encorajar aquele cuja direção lhe é confiada pelo Todo-Poderoso. Não, meus amigos, esse apoio não vos faltará jamais; cabe-vos saber distinguir as boas inspirações entre todas as que se chocam no labirinto de vossas consciências. Sabendo compreender o que vem do vosso guia, não vos podeis afastar do reto caminho que toda alma que aspira à perfeição deve seguir. Espírito Protetor (Médium: Sra. Causse)

III - Já vos foi dito que a mediunidade se revelaria por diferentes formas. A que vosso Presidente qualificou de mental está bem definida. É o primeiro degrau da mediunidade vidente e falante.

O médium falante entra em comunicação com os Espíritos que o assistem, fala com eles; seu Espírito os vê, ou melhor, os adivinha; apenas não faz senão transmitir o que lhe dizem, enquanto que o médium mental pode, se for bem formado, dirigir perguntas e receber respostas, sem a intermediação da pena ou do lápis, mais facilmente que o médium intuitivo, porque aqui o Espírito do médium, estando mais desprendido, é um intérprete mais fiel. Mas para isto é necessário um ardente desejo de ser útil, trabalhar com vistas ao bem, com um sentimento puro, isento de todo pensamento de amor-próprio e de interesse. De todas as faculdades mediúnicas é a mais sutil e a mais delicada. O menor sopro impuro basta para manchá-la. É apenas nessas condições que o médium mental obterá provas da realidade das comunicações. Logo vereis surgir entre vós médiuns falantes que vos surpreenderão por sua eloquência e por sua lógica.

Esperai, pioneiros que tendes pressa de ver vossos trabalhos crescerem; novos obreiros virão reforçar vossas fileiras, e este ano verá concluir-se a primeira grande fase do Espiritismo e começar outra não menos importante.

E vós, caro mestre, que Deus abençoe os vossos trabalhos; que ele vos sustente e nos conserve o favor especial que nos concedeu, permitindo-nos guiar-vos e sustentar-vos em vossa tarefa, que é também a nossa.

Como Presidente Espiritual da Sociedade de Paris, velo por ela e por cada membro em particular, e rogo ao Senhor que espalhe sobre vós todas as suas graças e as suas bênçãos. S. LUÍS (Médium: Sra. Dellane).

IV - Seguramente, meus amigos, a mediunidade, que consiste em conversar com os Espíritos, como com pessoas que vivem a vida material, desenvolver-se-á mais à medida que o desprendimento do Espírito se efetuar com mais facilidade, pelo hábito do recolhimento. Quanto mais avançados moralmente forem os Espíritos encarnados, maior será essa facilidade das comunicações. Assim como dizeis, ela não será de uma importância muito grande do ponto de vista da convicção a dar aos incrédulos, mas tem para aquele que lhe é objeto uma grande doçura, e o ajuda a desmaterializar-se cada vez mais. O recolhimento, a prece, este impulso da alma junto ao seu Autor, para lhe exprimir seu amor e seu reconhecimento, solicitando ainda o seu socorro, são os dois elementos da vida espiritual; são eles que derramam na alma esse orvalho celeste que ajuda o desenvolvimento das faculdades que aí estão em estado latente. Como são infelizes os que dizem que a prece é inútil porque não modifica os desígnios de Deus! Sem dúvida as leis que regem as diversas ordens de fenômenos não serão perturbadas ao bel-prazer deste ou daquele, mas a prece não tem por efeito senão melhorar o indivíduo que, por esse ato, eleva seu pensamento acima das preocupações materiais, motivo pelo qual ele não deve negligenciá-la.

É pela renovação parcial dos indivíduos que a Sociedade acabará por regenerar-se, e Deus sabe se ela precisa disso!

Ficais revoltados quando pensais nos vícios da sociedade pagã, ao tempo em que o Cristo veio trazer sua reforma humanitária; mas em vossos dias, os vícios, por serem velados sob formas mais marcantes de polidez e de educação, não deixam de existir. Eles não têm magníficos templos, como os da Grécia Antiga, mas ah! Eles os têm no coração da maior parte dos homens e causam entre eles as mesmas devastações que ocasionavam entre os que precederam a era cristã. Não é, pois, sem uma grande utilidade que os Espíritos vieram lembrar os ensinamentos dados há dezoito séculos, porquanto, tendo-os esquecido ou mal compreendido, vós não podeis aproveitá-los e espalhá-los segundo a vontade do divino crucificado.

Agradecei, pois, ao Senhor, vós todos que fostes chamados a cooperar na obra dos Espíritos, e que o vosso desinteresse e vossa caridade jamais enfraqueçam, porque é nisto que se conhecem entre vós os verdadeiros espíritas. LUÍS DE FRANÇA (Médium: Sra. Breul).

Sobre o autor


Paulo Stekel é instrutor de Meditação Não-dualista, orientador do Projeto Mahasandhi de Meditação Livre Não-Religiosa, pesquisador de Religiões e Espiritualidades, praticante budista desde 1995 (seu nome budista vajrayana é Pema Dorje), membro do NEDEC²- Núcleo de Estudos e Desenvolvimentos em Conhecimento e Consciência (UFSC – Florianópolis – SC). Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Paleolinguística. É escritor, tradutor, revisor, músico, com vários álbuns lançados desde 2009. É um pesquisador não-acadêmico, professor de Cabala Não-dualista, Sânscrito e línguas sagradas. Especialista na interpretação dos textos sagrados das religiões. Nasceu e cresceu em Santa Maria (RS). Atualmente reside em Florianópolis (SC). Proponente da Hierolinguística (uma nova ciência para o estudo das linguagens sagradas proposta em seu livro “Santo & Profano - estudo etimológico das línguas sagradas”, publicado em 2006). Publicou diversas obras: “Elohê Israel (Os deuses de Israel) - filosofia esotérica na Bíblia” (Independente, 2001); “Projeto Aurora - retorno à linguagem da consciência” (FEEU, 2003); “Santo e Profano - estudo etimológico das línguas sagradas” (GEFO, 2006); “Deuses & Demônios - verdades inauditas e mentiras anunciadas sobre os anjos” (Independente, 2007); “Curso de Cabala - com noções de Hebraico & Aramaico [vol. I e II]” (Independente, 2007 e 2008); “Curso de Sânscrito - com noções de Filosofia Indiana [vol. I e II]” (Independente, 2008 e 2009); “A Alma da Palavra” (independente, 2011). Pesquisador aceito como paleolinguista de formação livre na pesquisa de decifração da escrita Glozélica (França), com trabalho científico reconhecido e publicado em Inglês no website do Museu de Glozel (http://www.museedeglozel.com/Trad2000.htm) desde 2006. Pesquisador aceito como paleolinguista de formação livre pelo arqueólogo bósnio-americano Semir Osmanagic na pesquisa de decifração da escrita Proto-Visoko (Bósnia), com trabalho de decifração preliminar apresentado em Sarajevo pelo egiptologista Muris Osmanagic (2010) e publicado no website Bosnian Pyramids, em Inglês e Bósnio: http://icbp.ba/2008/documents/papers/ICBP_Referat_Stekel.pdf.

Contatos: pstekel@gmail.com

2 comentários:

  1. A abordagem foi perfeita e muita esclarecedora.

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    1. Que bom que você apreciou o artigo e minhas considerações, amigo Djalma. A busca pelo conhecimento é isso, sempre com novidades e espírito aberto. Abraços!

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